Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta segunda-feira que seu secretário-executivo, Gabriel Galípolo, será indicado para a secretaria de Política Monetária do Banco Central, destacando que o governo não quer “formar bancada” na cúpula da autarquia, mas busca maior coordenação e harmonia entre políticas fiscal e monetária.

Em entrevista a jornalistas em São Paulo, o ministro afirmou que partiu do próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a primeira sugestão que colocava o nome de Galípolo como uma opção para ocupar vaga na diretoria da autarquia.

Veja a reação de participantes do mercado financeiro à indicação de Galípolo.

ALBERTO RAMOS, DIRETOR DO GRUPO DE PESQUISA MACROECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA DO GOLDMAN SACHS

“Dado (seu) papel político no atual governo, Galípolo é visto como um substituto em potencial do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, quando seu mandato terminar no final de 2024. Vemos espaço para um aumento potencial no ruído de comunicação no curto prazo. Não nos surpreenderíamos em começar a ver decisões divididas do Copom e visões diametralmente opostas dentro do Copom sobre qual deveria ser a postura política adequada. Além disso, a percepção de que Galípolo eventualmente substituirá Campos Neto tem o potencial de gerar alguns atritos e mal estar no Copom.”

DENILSON ALENCASTRO, ECONOMISTA-CHEFE DA GERAL ASSET

“A principio, é um economista que já foi presidente de banco, tem experiência no mercado financeiro. Tem que ver como vai ser o entrosamento BC-Ministério da Fazenda, dado que ele é secretário-executivo agora… É acompanhar se teremos ou não algum tipo de influência política no BC. Quero acreditar que não. O BC presidido pelo Roberto Campos Neto tem sido bastante técnico e a tendência é isso seguir. Mais diretores que serão indicados pelo governo atual entrarão (até o final do ano) e a gente vai conseguir observar como vai ser essa atuação. Claro que (a indicação de Galípolo) gera um pouco de ruído no início, mas não é isso que vai determinar o BC. Até porque é só um diretor. E não é um só que decide, é um colegiado. Não é ele entrar e a Selic baixar na marra.”

GUSTAVO CRUZ, ESTRATEGISTA CHEFE DA RB INVESTIMENTOS

“A indicação do Gabriel Galípolo para a diretoria do Banco Central é um grande indicativo que ele deve ser o próximo presidente do Banco Central. Eu acredito que ele entra também muito por conta da sua lealdade às políticas públicas que o Lula quer… e portanto ele deve já ir bem alinhado com a ideia de baixar a taxa de juros o máximo que der o quão antes possível. Então a minha dúvida –e acredito que de boa parte do mercado– é se já no começo do ano que vem os diretores do Banco Central já começam a votar com Galípolo e não mais com Roberto Campos Neto… Acho que a indicação dele vai na linha de não ter um Banco Central tão independente na prática nos próximos anos… As taxas de juros nos prazos mais curtos deveriam cair, porque vai ter uma interferência direta, e, nos prazos mais longos, deveriam subir, porque, se você corta artificialmente (os juros), a inflação sobe, e isso tem um custo.”

RAFAEL PACHECO, ECONOMISTA DA GUIDE INVESTIMENTOS

“Galípolo tem dois pontos: de um lado é um cara de mercado, então pode-se dizer que tem bom conhecimento e entende como funciona a mentalidade do mercado e tem bons contatos. Por outro lado, seu histórico acadêmico tem mais ligação com pessoas como André Lara Rezende, com a chamada Teoria Monetária Moderna, e ele seria inclinado a ser mais flexível com a política monetária… Não acho que o Galípolo vai muito para esse lado ideológico, tem noção de que não se pode simplesmente baixar a taxa de juros nesse momento. A maioria do Copom ainda está com uma cabeça mais cautelosa, mas até o final do ano o governo tem mais nomes que vai anunciar. E, se governo quer uma maioria no Copom, é porque o governo quer outra cara para o Copom. O mercado está antecipando queda de juros (em 2023), mas a parte longa da curva está abrindo, com risco de que tenha algum erro de condução da política monetária… Caso ele (Galípolo) vire presidente do BC, ficaria mais com a cara do atual governo, mas não é como se o Brasil fosse virar a Turquia ou algo assim.”

EDUARDO MOUTINHO, ANALISTA DE MERCADO DA EBURY

“A gente não espera nada muito grande dos mercados, já que o nome já era esperado. O Galípolo é um nome bem técnico, não é ninguém inexperiente e deve fazer um projeto em linha com o atual projeto do BC… Eu não acho que o Lula intervirá na independência do Banco Central (com a indicação de Galípolo). Esse é um cenário menos provável, já que ele tem outras formas de interferir na política monetária –como aos poucos mudar os nomes do Conselho ou até mesmo alterar a meta de inflação. A gente já está vendo uma desaceleração da economia em diversos setores e uma inflação um pouco mais controlada, então uma queda na taxa tem argumentos. Isso torna um pouco mais difícil de avaliar se (as decisões dos) novos membros (do Copom) são puramente pressão da ala política ou uma necessidade real. Então eu acho que (Galípolo) poderia não enfrentar nenhuma oposição do mercado, mas esse provavelmente é o primeiro passo pra uma mudança de postura do Banco Central pra um viés mais ‘dovish’ (brando no combate à inflação).”

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