A apenas duas semanas das cruciais eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, os republicanos esperam que sua narrativa de uma nação devastada pela inflação e pelo crime ajude-os a retomar o controle do Congresso e dificultar os dois anos restantes de Joe Biden na Presidência.

A conturbada campanha, que se tornou um referendo para o líder democrata e um teste decisivo para seu antecessor Donald Trump, mantém os republicanos na liderança há mais de um ano.

A Casa Branca se sentiu encorajada pela resposta veemente dos americanos aos esforços para restringir o aborto, mas o aumento da violência e a alta inflação minaram o consenso sobre um salto democrata.

A cada dois anos, os eleitores nos Estados Unidos decidem quem obtém a maioria em ambas as casas do Congresso. Com isso, também decidem se o presidente poderá aprovar qualquer nova política, ou se a oposição será capaz de atrapalhar sua agenda.

Em 8 de novembro, todos os 435 assentos na Câmara dos Representantes (Deputados) e 35 no Senado estarão em jogo.

“Estamos a apenas 15 dias de uma das eleições mais importantes das nossas vidas”, disse um otimista Biden a ativistas na sede de seu partido em Washington, D.C., na segunda-feira (24).

“E dará forma a como os Estados Unidos se veem… para a próxima década”, antecipou.

Tradicionalmente, o partido da situação perde membros na Câmara e no Senado nas “midterms”, porque seus apoiadores estão menos motivados a participar.

Depois de ficar para trás na votação genérica do Congresso, entre agosto e setembro, os republicanos agora estão empatados, ou com uma leve vantagem na maioria das pesquisas.

The Cook Political Report mostra 192 cadeiras “inclinadas”, “possíveis”, ou “sólidas” na coluna democrata da Câmara, e 211, na coluna republicana. O corte para obter a maioria é de 218 cadeiras, o que significa que tudo será decidido entre as 32 restantes.

– Congresso dividido –

A sabedoria convencional é que os republicanos tomarão a Câmara dos democratas por uma margem de cerca de 20 cadeiras. Isso poderá permitir-lhes cumprir sua promessa de conduzir investigações exaustivas, incluindo um processo de impeachment, contra Biden e seu governo.

Dividido pela metade, sob controle democrata, graças ao voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris, o atual Senado será um cenário bastante imprevisível.

As pesquisas ponderadas do site RealClearPolitics mostram a corrida mais apertada no estado de Nevada, seguidas por Geórgia, Pensilvânia, Ohio e Arizona.

Um Congresso dividido representaria, para Biden, um obstáculo em sua tentativa de deixar um legado em apenas um mandato, ou mesmo em sua intenção de provar que deveria ser reeleito em 2024.

Para além de legislações processuais, como as votações para o financiamento do governo, poucas leis têm chance de serem aprovadas com uma Câmara republicana e um Senado democrata em lados opostos.

– Dor de cabeça –

Vários governos estaduais também estão em disputa, assim como a eleição de secretários de Estado e procuradores-gerais, considerados cruciais para garantir eleições livres e justas.

Ativistas pró-democracia já manifestaram suas preocupações com o alto número de candidatos apoiados por Trump que aspiram à ideia de negar que Biden tenha vencido as últimas eleições de forma justa.

Estrategistas de ambos os partidos reconhecem que os direitos reprodutivos impulsionaram os apoiadores democratas como nenhuma outra questão durante o verão boreal (inverno no Brasil), depois que a Suprema Corte restringiu as proteções federais para acesso ao aborto.

Os democratas temem, contudo, que a indignação pública tenha chegado muito rápido a seu teto e que outras questões, como economia, crime, migração e ameaças à democracia, tornem-se prioridades entre os eleitores.

Por enquanto, os democratas apostam na obtenção de receitas para a Casa Branca, após, finalmente, garantir a lei de estímulo para a manufatura nacional, o combate à mudança climática, ou a redução dos preços dos medicamentos com prescrição médica.

Esperam, ainda, reunir as coalizões anti-Trump que lhes deram a vitória na Câmara em 2018, e na Casa Branca, em 2020.

O republicano Donald Trump continua sendo a maior dor de cabeça de seu partido, tanto por causa de seus conhecidos problemas legais quanto por seu apoio a candidatos extremistas que terminaram em disputas acirradas inicialmente dadas como certas pela legenda.

“As pesquisas falsas e os chamados ‘especialistas’ estão nos dizendo que não vamos recuperar nossa maioria republicana no Senado”, disse Trump em um e-mail de arrecadação de fundos divulgado no domingo (23).

“Erraram em 2016 (quando ele foi eleito) e estão errados agora”, afirmou.