19/05/2021 - 13:14
Com a fidelidade ao ex-presidente Donald Trump praticamente consolidada, o Partido Republicano se inclina para avançar na defesa de uma narrativa preocupante: que os democratas roubaram as eleições de 2020.
De início, os líderes republicanos se apressaram para afirmar que Joe Biden é o presidente legitimamente eleito e que o principal objetivo da sigla é propor ideias políticas que os ajudem a recuperar o controle do Senado e da Câmara dos Representantes no próximo ano.
Nos corredores do Congresso, porém, ainda se fala de Trump e, principalmente, sobre se a lealdade ao ex-presidente é uma jogada inteligente dos republicanos, apesar da persistente alegação de fraude na última corrida eleitoral por parte do empresário nova-iorquino.
Questionado pela AFP na terça-feira (18) sobre se as incansáveis alegações de Trump sobre fraude eleitoral prejudicarão os republicanos nas eleições de meio de mandato de 2022 (as chamadas “midterms”), o senador republicano John Cornyn descartou a hipótese.
“Acho que isso ficou para trás”, enfatizou Cornyn, ao entrar em um elevador do Senado. Segundo ele, é a imprensa, e não Trump, que “continua falando” das eleições.
Seis meses depois, no entanto, o homem que ainda é observado por milhões de republicanos como seu líder repete sua afirmação infundada de que Biden saiu vencedor por meio de fraude.
“Olhem para os fatos e para os dados”, incitou Trump, dirigindo-se aos americanos em uma inesperada declaração no domingo (16).
“Não tem como ele ter ganhado as eleições presidenciais de 2020!”, denunciou, mais uma vez.
Embora tenha perdido seu poderoso megafone nas redes sociais Twitter e Facebook, das quais teve sua conta banida, Trump continua a lançar declarações incendiárias de seu clube de Mar-a-Lago.
E seus pronunciamentos parecem estar surtindo efeito.
Uma pesquisa da CBS News divulgada na semana passada revelou que 67% dos eleitores republicanos acreditam que Biden não é o presidente legitimamente eleito.
Também na semana que passou, os republicanos elevaram à liderança da Câmara de Representantes (equivalente à dos Deputados no Brasil) Elise Stefanik, uma defensora ferrenha de Trump. Ela se opôs à certificação dos resultados eleitorais de alguns estados decisivos vencidos por Biden.
Elise substituiu a incondicional conservadora Liz Cheney, descartada do cargo por se recusar a reforçar o que chama de “grande mentira” de Trump sobre a fraude eleitoral.
Liz, que culpa Trump por incitar a violenta invasão ao Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro deste ano, advertiu que o partido segue um caminho “perigoso”, promovendo as reivindicações do ex-presidente. Segundo ela, essa postura minará a confiança pública no sistema democrático dos Estados Unidos.
Na semana passada, o principal republicano da Câmara, Kevin McCarthy, afirmou que nenhum de seus correligionários está “questionando a legitimidade das eleições”, embora alguns congressistas tenham demonstrado o contrário.
“Definitivamente, houve fraude nas eleições, e é isso que temos que averiguar em lugares como Arizona, Geórgia, Pensilvânia e outros para que isso possa ser corrigido”, disse o representante republicano Louie Gohmert à AFP.
“Porque, se isso não for corrigido, as eleições não terão sentido”, alegou.
– Voltar para 2020 –
No condado de Maricopa, no Arizona, o Partido Republicano apoia uma auditoria partidária não oficial dos resultados das eleições, meses depois de as autoridades locais terem realizado novas apurações formais, e os tribunais terem arquivado as denúncias sobre os casos de fraude eleitoral.
Essa recusa a aceitar a derrota preocupa republicanos importantes, como o bilionário fundador da Microsoft, Bill Gates, membro do conselho de supervisores do condado de Maricopa. Ele adverte que a legenda corre o risco de ser “tomada” por defensores de teorias da conspiração.
“Agora, apenas uma coisa importa para muitos republicanos: a adesão a toda e qualquer teoria de que a eleição de 2020 foi roubada de Donald Trump”, escreveu Gates no site de notícias AZCentral na última sexta-feira.
Para alguns, a alegação constante de Trump é uma distração não desejada e desnecessária, mesmo sabendo que a chave para obter uma alta participação dos eleitores republicanos é motivar a base ferozmente leal a Trump.
O principal nome republicano do Senado, Mitch McConnell, é conhecido por ter rompido com Trump, por causa das denúncias eleitorais. Nas últimas semanas, porém, recusou-se, em larga medida, a continuar hostilizando o líder “de fato” do partido.
E há os republicanos da base que parecem ansiosos para evitar falar sobre Trump, como o congressista Byron Donalds, que disse não ter conhecimento da última declaração eleitoral de Trump.
“Estamos concentrados em recuperar a Câmara em 2022”, desconversou Donalds.
Trump conta, no entanto, com muitos partidários no Congresso que apoiam que se aprofunde e se investigue o que pode ter ocorrido de errado na eleição do ano passado.
“Não vejo problema algum em investigar e obter todas as informações que pudermos para o povo americano”, declarou o representante conservador Jim Jordan.
Sobre se Trump fará campanha pelos republicanos na luta de 2022 para recuperar o controle do Congresso, Jordan a deu como certa.
“Claro, sim”, afirmou Jordan, com um sorriso cúmplice. “Definitivamente, ele vai participar”, completou.