Há algum tempo, quando a indústria do luxo começou a ganhar mais espaço no País, seguramente era difícil imaginar que os super-ricos topariam dividir seus valiosos mimos – como helicópteros, jatinhos, carros superesportivos, relógios suíços, entre tantos produtos – com outras pessoas, muitas delas desconhecidas. Mas veio a crise, salvar o planeta virou um mantra universal e ser sustentável virou sinônimo de elegância, o que transformou algo que era próximo de uma excentricidade numa prática do cotidiano de muitos abonados. O sistema de compartilhamento tem crescido por ser uma alternativa economicamente interessante, mas conquista também novos adeptos à medida que ajuda a criar uma imagem positiva para seus seguidores. 

 

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Marcus Matta, da Prime Fraction: mais de R$ 76 milhões em 11 produtos de luxo

para serem compartilhados, entre aviões, helicópteros, barcos e carros  

 

“O consumo está ganhando um viés mais sustentável”, afirma o paulista Marcus Matta, CEO da Prime Fraction Club, clube de compartilhamento de bens de luxo, fundada em 2010. O empresário não revela seu faturamento, mas garante que a procura avança a um ritmo de 40% ao ano. E se depender da expansão do mercado de luxo, que registrou um crescimento de 239% nos últimos seis anos, segundo a consultoria MCF, o compartilhamento continuará a avançar a passos largos. “Esse mercado cresce graças à maturidade do segmento premium no País”, afirma Matta. “A procura pelos 11 produtos que oferecemos, que somam R$ 76 milhões, entre eles aviões, helicópteros, barcos e carros, está maior a cada dia porque os novos ricos estão aprendendo que para usufruir do luxo não é preciso comprar.” 

 

No Brasil, a Prime Fraction não é a única no setor, que também conta com a Four Private Group, de São Paulo. Evidentemente, esse modelo de negócio torna os bens mais acessíveis. Há, no entanto, muitos abonados com fortuna suficiente para adquirir um avião sozinho que, ainda assim, preferem o compartilhamento. É o caso do empresário paulista Clovis Rossi, do setor da construção civil, que se desfez de seu helicóptero para entrar no clube paulista e adquirir cotas de uma aeronave e de um carro de luxo. “Não havia necessidade de ter um helicóptero só para mim”, afirma Rossi. “Acaba sendo muito mais prático também, já que há uma empresa cuidando de toda a burocracia e da manutenção, que antes era responsabilidade só minha.”

 

A inspiração do negócio vem do mercado internacional, principalmente do europeu e do americano, onde o chamado consumo conspícuo, nome de batismo da ostentação e do consumismo desenfreado, passou a ser visto como sinônimo de breguice. Segundo Matta, faltava um olhar empreendedor para perceber que o modelo já era sucesso lá fora e tinha a ver com o perfil do brasileiro, que até pode ter o ativo usado de forma exclusiva, mas com bastante tempo ocioso. “Aqui se utiliza pouco o bem, mas se gasta muito, tanto na aquisição quanto na manutenção”, diz ele. Na empresa de Matta, o interessado adquire a cota de um produto – cada fração custa de R$ 107 mil até US$ 3,4 milhões, dependendo do ativo escolhido – e pode desfrutá-lo por determinado período do mês. 

 

“É possível utilizar outros bens da frota se o seu estiver indisponível”, diz o empresário. À disposição do cliente podem estar uma Ferrari 458 e um Lamborghini Coupé, até um iate Azimut 88. Os benefícios aparecem no bolso, com economia de até R$ 90 mil por mês, mas ganham mais adeptos que se atraem pelo modelo também como forma sustentável de consumo. “Na verdade, o cliente nem percebe que compartilha aquele bem, pois temos sigilo contratual dos participantes e não mantemos nenhuma identificação das empresas nos ativos”, afirma Matta. Presente apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro, o empresário se mostra bastante otimista com o futuro da empresa. “O brasileiro não estava acostumado ainda com esse modelo de compra, tinha dúvidas de como o negócio funcionava, mas isso está mudando a cada dia”, afirma. 

 

Para Daniela Khauaja, coordenadora de marketing da ESPM, de São Paulo, os clubes de compartilhamento são um movimento natural em mercados de luxo em ascensão, como o Brasil. “O País tem público para os modelos de negócio exclusivo e compartilhado.” O negócio não vale apenas para bens que custam milhões. A empresa americana Steal The Time, por exemplo, se especializou no compartilhamento de relógios de luxo, que nesse formato se apresenta sob a forma de aluguel. O serviço, ainda não disponível no Brasil, agrada não só ao público que procura valores mais acessíveis como também àqueles que estão indecisos com a compra. É possível testar modelos pelo período de uma semana, como o Hublot Chrono Depose e o Rolex Submariner Two Tone por até US$ 154. Com dinheiro no bolso, as opções são infindáveis no mundo do luxo.