“Olha só, considerando que o evento tem a ver com novos paradigmas e formas de pensar, entre outros pontos, sugiro o Reset”. Com essa frase durante um brainstorming coletivo, Ricardo Voltolini, fundador e CEO da “Ideia Sustentável”,  propôs ter a palavra Reset no tema central do II Global Learning Forum, marcado para outubro e promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH). Leyla Nascimento, fundadora e presidente do Grupo Capacitare, imediatamente abraçou a sugestão e, após troca de mensagens comigo, propôs que o tema fosse “Reset a Estratégia”.

Muito além da definição do tema central de um evento, essa reflexão ilustra algumas das prioridades do cenário corporativo para este momento tão singular que vivenciamos. Temos a necessidade de reinvenção das empresas em vários setores e, complementarmente, uma demanda para repensar a própria área de Recursos Humanos (RH), bem como de estimular o imprescindível “Reset” da carreira em diversas modalidades profissionais. O cenário é ainda mais apimentado, pois esses desafios se dão em meio à angústia sobre o futuro já batendo as nossas portas.

De fato, os líderes empresariais necessitam apertar a tecla “Reset” na estratégia das suas empresas, pois o prazo de validade do modelo de negócios de muitas delas está expirando.

Alguns já vivem o pesadelo da mudança forçada no curtíssimo prazo, levando em conta a perda de parte significativa das receitas de suas empresas. Em grande parte, esse conjunto não consegue mais resultados operacionais e precisou apelar para a recuperação judicial. Já passaram pela porta da UTI e não desejam voltar.

Outros perdem o sono tentando resistir um pouco mais, enquanto buscam encontrar formas casuísticas de iniciar a transformação. Porém, ainda não sabem muito bem como estruturar o processo de reinvenção dos seus negócios. Também há vários gestores ainda dormindo tranquilos, embora já suspeitem que precisam de vários ajustes para superar a tortuosa ponte em direção ao outro lado do rio.

Entretanto, poucos tiveram a coragem de resetar” suas estratégias de forma pró-ativa, antes que seus negócios fossem destruídos ou afetados pelas soluções disruptivas que foram exponenciadas pela pandemia. Esses fizeram bem o dever de casa, compreendendo que empresas e marcas sólidas, até pouco tempo atrás, se desmancharam e viraram pó, devido às consequências da nova realidade que se impôs no mundo dos negócios.

Mantendo o uso desse neologismo, apertar a tecla Reset na estratégia da sua empresa envolve revisitar um conjunto de aspectos que, provavelmente, precisam ser ressignificados. Listo abaixo alguns elementos chave dessa equação:

1- Definir claramente o novo propósito da empresa, capaz de inspirar as pessoas rumo ao futuro e reposicionar a organização perante o mercado.

2- Formatar caminhos para o reequilíbrio econômico-financeiro da empresa.

3- Conduzir a estratégia comercial com clareza na identificação dos novos clientes que a empresa se propõe a servir.

4- Definir os resultados quantitativos e qualitativos desejados.

5- Organizar o modelo de gestão e governança.

6- Elaborar o mapa de riscos não percebidos antes e que, agora, são mais visíveis e podem impactar a empresa no futuro.

7- Definir o foco para as prioridades.

Esse ajuste da agenda estratégica é fundamental para tranquilizar e engajar pessoas, clientes, parceiros e investidores. Apresentar iniciativas, de forma estruturada e coerente, será indispensável para alinhar e comprometer todos os players do ecossistema da empresa, com visão compartilhada das providências de curto prazo e sobre o futuro.

Da mesma forma, as áreas funcionais da sua empresa, quase sem exceção, também precisam apertar a tecla Reset. Em especial o RH, que tem enorme oportunidade de assumir protagonismo na reinvenção das empresas. Afinal, novas filosofias de gestão de pessoas precisam ser desenhadas e novos perfis de líderes precisam ser desenvolvidos. Todo esse movimento deve ser articulado considerando uma “Cultura FiGital”, ou seja, presencial e digital ao mesmo tempo. Essa mentalidade deve ser criada num processo de transformação digital que vai muito além do simples uso do ferramental tecnológico moderno.

Para superar desafios e explorar possibilidades promissoras, profissionais de RH e TI devem estar de mãos dadas, visando exercer o relevante papel de reeducar os profissionais na nova cultura, mais coerente com o inexorável mundo do trabalho no futuro.

Também não resta dúvida de que os profissionais de praticamente todas as categorias, níveis e modalidades precisarão da coragem para se reinventar. A competência da inovação nas inúmeras ramificações das empresas e na vida pessoal de cada um será a grande alavanca para superarmos o presente e construirmos o amanhã.

Nunca antes os ciclos do foco dos CEOs foram tão dinâmicos e com necessidade de metamorfose em períodos tão curtos. Quem acompanha essa coluna sabe que já abordei alguns papeis cruciais para os líderes desde o começo da pandemia. No início, os Chief Executive Officers (CEOs) precisaram atuar como Chief Emergency Officers. Depois, passaram pela fase do Chief Equilibrist Officers. Nessas transições, alguns se destacaram por terem conseguido desempenhar a função de Chief Reinventing Officer.

Em alguns casos, a sobrevivência depende de estar com a melhor posição para visualizar o que está acontecendo. A natureza nos dá diversos exemplos disso. Para os líderes que desejam perceber de posição mais favorável os horizontes que se abrem para a construção de um futuro de possibilidades, neste momento, recomendo vestir a camisa do Chief Resetting Officer. É preciso se transformar para ser um agente da transformação que a sua empresa necessita!

*  César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor e palestrante em Estratégia Empresarial, Desenvolvimento de Líderes e na estruturação de Innovation Hubs. Também é membro do Conselho Estratégico da ABRH Brasil e autor de “Seja o Líder que o Momento Exige”.