Eles vigiam os movimentos dos russos, localizam seus veículos, compartilham informações com o exército ucraniano… junto às forças regulares, a resistência está disposta a contribuir com todo o possível na contraofensiva de Kherson, no sul da Ucrânia.

Por 25 minutos, um drone de fabricação chinesa sobrevoa o estuário do rio Dnieper, sua câmera de alta definição focada na costa ocupada pelos russos.

Agachados, Oleksii e Mikola – dois nomes fictícios, para proteger sua identidade – observam as imagens na tela do aparelho de controle. Sua missão é perigosa, porque o estuário de 10 quilômetros de extensão está ao alcance da artilharia russa.

Desta vez, a operação correu sem problemas. Com seu modelo de drone civil de 15.000 dólares, eles localizaram caminhões e novas posições fortificadas.

Oleksii e Mikola rapidamente compartilham os dados com os soldados da vigilância avançada em que estão e, sem mais delongas, eles partem a toda velocidade.

– Agentes infiltrados –

Além de seus uniformes impecáveis e suas armas ocidentais, Mikola e Oleksii são na verdade membros da resistência ucraniana.

Com um sorriso, Oleksii conta que se uniu à resistência após os massacres de civis em Bucha, perto de Kiev. Até então, se dedicava a administrar uma empresa familiar na capital. Mikola conta que antes trabalhava no setor de turismo.

Sua relação exata com o exército ucraniano é um pouco intrincada. “Funcionamos de forma horizontal”, afirma Oleksii.

“Em teoria, deveria ter ido ao quartel-general do Exército em Mykolaiv, para mostrar as imagens. Mas sabemos que se as tratarmos nós mesmos, iremos mais rápido”, diz ele.

Mykolaiv é a primeira grande cidade a oeste de Kherson, ocupada pelos russos e onde o exército ucraniano anunciou na segunda-feira que havia lançado sua contraofensiva. Tornou-se a capital da resistência ucraniana no sul do país.

Em um prédio discreto, Oleksii apresenta Oleg, um homem de 50 anos que coordena esse movimento, sobre o qual ele concorda em dar alguns detalhes.

“São células separadas, com milhares de pessoas”, explica sobre a resistência e os “agentes” infiltrados nos territórios ocupados pelo exército russo.

Quase todos são civis. Sua principal missão é acompanhar os movimentos das tropas russas.

“A contraofensiva se baseia parcialmente nesses dados (…). Sabemos onde estão seus centros de comando, onde se reúnem, onde entregam armas, quais são as principais vias de transporte”, explica esse homem escondido atrás de um capuz.

“Hoje mesmo de manhã conversei com um cara que apontou que 100 veículos estavam se aglomerando no mesmo lugar (…), aquele homem não tem medo de nada”, explica.

Há semanas, a região de Kherson tem sido abalada por explosões e ataques à infraestrutura militar russa. Praticamente todos os dias pessoas designadas são assassinadas e nesta segunda-feira um comando da ocupação russa foi morto a tiros.

Quem comete esses assassinatos? De acordo com um oficial ucraniano associado à resistência, “alguns civis estão prontos para isso” e receberam armas e treinamento das forças especiais.

Nos últimos tempos, Moscou tem reforçado firmemente seu domínio sobre o sul da Ucrânia ocupado.

Várias fontes relataram à AFP casos de tortura de civis, às vezes por se manifestarem contra a presença russa. A AFP não conseguiu verificar essas alegações.