04/06/2014 - 17:45
A exposição da rede mundial de espionagem americana, revelada há um ano por Edward Snowden, ainda incomoda os Estados Unidos, mas não levou a uma verdadeira reforma no sistema de vigilância.
Um artigo assinado pelo jornalista americano Glenn Greenwald, publicado no jornal britânico The Guardian, reproduziu o conteúdo de documentos da Agência de Segurança Nacional (NSA), iniciando a série de revelações que abalaram a comunidade internacional.
O primeiro texto continha a ordem de uma corte secreta americana à empresa de telefonia Verizon forçando-a entregar uma lista de dados de chamadas telefônicas de milhões de pessoas à NSA e ao FBI, a polícia federal americana.
As descobertas afetaram as relações dos EUA com diversos países, inclusive aliados como Alemanha e Brasil, e provocaram uma onde de indignação ao mostrar que os próprios cidadãos americanos eram vítimas de espionagem indiscriminada.
Para Benjamin Wittes, do instituto Brookings, o verdadeiro problema não é a agência estar fora de controle, mas sim o desequilíbrio entre as necessidades de segurança e a proteção à vida privada.
“Demos à NSA um poder enorme de vigiar comunicações de pessoas comuns. O escândalo é que isso seja legal”, denuncia Janeel Jaffer, da ACLU, entidade que defende as liberdades civis.
Snowden, que trabalhou como técnico de inteligência para a NSA, inicialmente refugiou-se em Hong Kong para vazar os documentos. No entanto, durante uma tentativa de chegar ao Equador, os Estado Unidos cancelaram seu passaporte, obrigando-o a permanecer na zona internacional do aeroporto de Moscou. Depois de 40 dias a Rússia lhe deu um asilo temporário de 1 ano.
A divulgação dos documentos custou caro a Snowden: além de não poder viajar a outro país, Washington insiste que ele deve ser processado por traição, por ter revelado documentos secretos.
Enquanto autoridades pedem a sua prisão, uma pesquisa recente da empresa Tresorit, divulgada pela revista Newsweek, revelou que 55% dos americanos considera que Snowden tomou a atitude correta, contra 29% que pensa o contrário.
O secretário de Estado americano, John Kerry, afimou na semana passada que Snowden deveria portar-se “como um homem” e retornar ao seu país, para ser processado por espionagem.
O caso teve repercussões importantes na América Latina.
Em julho do ano passado, quando o escândalo já durava um mês, o avião do presidente boliviano, Evo Morales, foi obrigado a aterrissar na Áustria, para ser revistado por suspeitas de que transportava Snowden, por estar vindo da Rússia.
Pouco depois, Greenwald – que vive no Rio de Janeiro – publicou documentos mostrando que as conversas privadas da presidente Dilma Rousseff foram interceptadas.
Dilma, que tinha uma visita de Estado a Washington agendada para outubro, concordou com Obama em “adiar” a viagem. Ao contrário do que fez com a alemã Angela Merkel, que também teve suas conversas monitoradas, Obama e seu governo não se desculparam com a presidente do Brasil.
Os documentos também mostraram que as comunicações do então candidato presidencial mexicano Enrique Peña Nieto.
Há uma semana, Snowden deu uma longa entrevista à TV Globo, onde afirmou que pediu formalmente asilo ao Brasil. O governo, no entanto, nega que tenha recebido a solicitação.
bur-ahg/rsr/cd/dg-mvv