O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, que incorpora a resistência de seu país à invasão russa, é o novo personagem do ano 2022 designado pela revista Time, que, além disso, rende homenagem “ao espírito” de seu país.

“Por demonstrar que a coragem pode ser tão contagiosa como o medo, por inspirar povos e nações a se unirem em defesa da liberdade, por lembrar ao mundo da fragilidade da democracia – e da paz -, Volodimir Zelensky e o espírito da Ucrânia são a Personalidade do Ano 2022 da TIME”, escreveu Edward Felsenthal, editor da Time.

“Nas semanas seguintes ao início dos bombardeios russos, em 24 de fevereiro, sua decisão de não fugir de Kiev, mas de ficar e conseguir apoio, foi crucial. Desde a sua primeira publicação de 40 segundos no Instagram em 25 de fevereiro, na qual mostrou que seu gabinete e a sociedade civil estavam intactos e em seu devido lugar, até os discursos diários pronunciados à distância para instituições, como parlamentos, o Banco Mundial e os prêmios Grammy, o presidente da Ucrânia esteve por toda parte”, explicou Felsenthal.

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A distinção que a revista nova-iorquina concede desde 1927 costuma destacar o peso e a influência de uma personalidade no cenário internacional e nem tanto sua popularidade. Em 2007, o designado foi o presidente russo, Vladimir Putin, por ter conseguido “estabilizar” seu país e levar a “Rússia à mesa das potências do mundo”.

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Mas, 15 anos depois, a decisão “nunca esteve tão clara”, segundo a Time.

Enfrentando o descontentamento da população e uma queda de popularidade no início do ano, depois de ter se elegido com maioria avassaladora à Presidência da Ucrânia em 2019, o ex-ator e comediante “galvanizou o mundo de uma forma que não víamos há décadas”, garantiu Felsenthal.

Na capa da Time, o rosto do presidente ucraniano, com barba por fazer e vestido com roupa de cor cáqui, a mesma dos uniformes militares que ele passou a utilizar desde a invasão iniciada em 24 de fevereiro, aparece cercado de rostos de personalidades da sociedade civil reunidos entre girassóis e vários manifestantes agitando a bandeira do país, nas cores azul e amarelo.

Entre eles, estão a médica “Irina Kondratova, que ajudou mães a dar à luz no porão de um hospital durante os bombardeios”, o “engenheiro Oleg Kutkov” que ajudou o país a manter sua rede de conexões, a “diretora do [jornal] Kyiv Independent, Olga Rudenko”, o cozinheiro Ievgen Klopotenko, “que transformou seu restaurante em uma cozinha de emergência” e o “cirurgião de guerra, o médico David Nott”.

A capa da Time está acompanhada de uma longa reportagem do jornalista Simon Shuster, que entrevistou Zelensky em meados de novembro no trem particular que o levava a Kherson, a cidade libertada símbolo da contraofensiva ucraniana.

“Os russos devem entender… Não haverá perdão. Não serão aceitos no mundo”, advertiu o presidente ucraniano, que prefere ser comparado a Charlie Chaplin, e nem tanto com Winston Churchill.

“[Chaplin] utilizou a arma da informação durante a Segunda Guerra Mundial para lutar contra o fascismo”, enfatizou.

A revista também homenageou as “mulheres iranianas” como “heroínas do ano”, o engenheiro americano Gregory Robinson e a equipe da Nasa que construiu o telescópio espacial James Webb como “inovadores do ano”, em uma lista que também inclui o jogador de beisebol do New York Yankees, Aaron Judge, que estabeleceu um novo recorde de “home runs” em uma temporada (62).

Zelensky sucede como personalidade do ano o empresário bilionário Elon Musk, dono da SpaceX e da Tesla, que este ano comprou o Twitter, depois do presidente e da vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden e Kamala Harris, em 2020.