27/07/2004 - 7:00
Naquela fria tarde de julho de 1991, nos laboratórios de testes de motores da Bosch, em Campinas (SP), o engenheiro mecânico Sidney Oliveira tentava se concentrar no trabalho, mas a entediante tarefa que executava ainda prevalecia. ?Pra que perder tempo em um ensaio que eu já sei o resultado?? Ferreira, então gerente de desenvolvimento da fabricante de autopeças alemã, testava a durabilidade de motores a gasolina adicionada por álcool. Já extasiado pela mesmice, ele resolve exagerar na dose do combustível derivado de cana ?só pra ver o que acontece…?. Dessa pitada de ousadia, nascia uma tecnologia revolucionária para a história do automóvel no Brasil. Batizada de Flex Fuel, a invenção de Sidney Oliveira, hoje atuando na equipe técnica da matriz, na Alemanha, é a atual coqueluche do mercado (27% das vendas de modelos novos), algo já cobiçado por diversos países, como Índia e Austrália. Numa tradução literal, o termo designa o ?combustível flexível?, isto é, um sistema onde o motor funciona com álcool, gasolina ou qualquer proporção de mistura entre os dois. Animada com o sucesso do bicombustível, a Bosch avança em outras frentes, prometendo para 2006 o tri-fuel, que acrescenta o GNV (gás natural veicular).
?No passado, uma hora era vantajoso comprar carro a álcool. Depois, a gasolina. Aí virava de novo. Hoje, não há mais com o que se preocupar?, garante Paulo Sérgio Kakinoff, diretor de Vendas e Marketing da Volkswagen, precursora do flex fuel com o Gol, lançado em março de 2003. Não há mágica. ?Trata-se de um sofisticado sistema de gerenciamento eletrônico que reconhece qual combustível está sendo consumido e realiza os ajustes necessários?, explica Fábio Ferreira, engenheiro que ocupa o posto deixado pelo inventor do Flex. Das quatro maiores, apenas a Ford reluta em apresentar seu exemplar, embora tenha sido a primeira a aventar a possibilidade de lançá-lo, em 2002. ?Queremos ver como vai ficar esse mercado?, despista o presidente da montadora, Antônio Maciel Neto ? estima-se que estréie em agosto o Fiesta Flex. A GM, por sua vez, vem levando a história a sério: entre os doze veículos (carros de passeio e utilitários) que vende no Brasil, já empregou o sistema em oito.
Segundo analistas, os flexíveis representam um caminho sem volta para o Brasil e devem preencher, em dois anos, 70% das vendas de veículos. A própria Bosch comemora os resultados de sua invenção no balanço anual: os US$ 2,5 bilhões de receita em 2003 deverão ser superados em 20% este ano. E, apesar de ter criado a tecnologia, ela não é a maior fabricante do sistema (possui só 8% de share), mérito esse pertencente à Magneti Marelli, dona de 80% das vendas. A Delphi tem 12%. Só que a Bosch está indo bem além. Vem aí o ?tetracombustível? e até o ?penta?. Futuramente, na hora de parar o carro no posto, e o frentista perguntar ?o que
vai aí, doutor??, você pode disparar um ?o que você quiser, meu amigo…?
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(*) A Magneti Marelli entende que a gasolina sem álcool, vendida em outros países, é um combustível à parte. |
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