26/05/2004 - 7:00
Há um período na história européia do século XX que mudou corações e mentes. Entre 1940 e 1944, a França foi ocupada pelos nazistas a mando de Adolf Hitler. Aqueles quatro anos representaram uma fase de imensa vergonha, com os colaboracionistas à mercê dos invasores, mas também de coragem, nos relatos de heroísmo da Resistência. À margem dos grandes eventos, foi um tempo que marcou também uma pequena revolução na moda do Ocidente ? a escassez de matérias-primas, especialmente de lã, algodão e couro, alterou para sempre as medidas e os perfis do que mulheres e homens, especialmente elas, vestiram desde então e até hoje. O livro Moda & Guerra, de Dominique Veillon (Jorge Zahar Editor, 272 páginas, R$ 43), é um fascinante passeio nesse cenário. ?Na escala da evolução da moda, esses poucos anos formam um tempo curto?, diz Dominique Veillon. ?Mas podemos perguntar: foram uma tempestade sem amanhã ou o esboço de mudanças duradouras?? A resposta: muito do que a contingência impôs nunca mais saiu dos corpos.
Os pastos ocupados pelos alemães, ou destruídos por bombas, minaram a produção de couro. Uma medida publicada no Diário Oficial francês de 28 de dezembro de 1940 não poderia ser mais clara: proibia-se, a partir daquela data, ?os calçados com sola dupla e tripla de couro?. Um pouco mais tarde, em janeiro de 1941, as autoridades estipulariam a largura máxima dos cintos de couro para mulheres em 4 centímetros. Conseqüência: a moda dos cintos finos se espalha, acompanhada sem dificuldade, com as privações de praxe, de uma cintura fina. As bolsas também perderam tamanho e deixaram de ser espalhafatosas. Solas de madeira começaram a brotar nos pés das madames.
Como havia pouco tecido, os vestidos também diminuíram. Além disso, as mulheres que ficaram em casa enquanto seus maridos alistavam-se no exército tiraram as calças compridas masculinas dos armários. Na marra, por força da crise, pareciam confirmar a imaginação visionária de Coco Chanel, que nos anos 20 invertera os papéis com seus hoje célebres conjuntos. Houve, ainda, um outro fenômeno de comportamento ? como tudo era muito simples na economia de guerra, a solução era abusar nos acessórios. Daí a explosão de chapéus fenomenais, numa explosão de cores e formas, a bizarrice a serviço da diferença. ?A exuberância criativa dos criadores de chapéus pode ser explicada como manifestação difusa de uma revolta contra a dureza da época?, afirma Dominique. São lições de elegância que brotaram do drama e nunca mais voltaram para as gavetas.
? Os cintos de couro não podiam ultrapassar 1cm ? A falta de tecidos, especialmente o algodão, impunha diminuição na altura dos vestidos ? As peles, muito raras, passaram a ser recicladas e utilizadas como forro ? As bolsas diminuíram de tama nho por falta de matéria-prima ? Solas de madeira substituíam as de couro, proibidas |