“O brasileiro está bem servido com isso.” É assim que Glauber Mota, CEO da Revolut, reconhece que o mercado brasileiro de bancos digitais já tem diversos players consolidados. Mas é nesse cenário concorrido que o banco britânico tenta ganhar relevância e aumentar o número de clientes. Para isso, a empresa está apostando numa estratégia inversa a dos concorrentes, abrindo espaço primeiro em serviços ligados ao uso de dinheiro no exterior para depois aumentar a quantidade de contas locais. 

Ao menos esse é o plano, no qual Mota se mostra confiante. “A estratégia da Revolut no mundo inteiro é bastante uniforme. O objetivo principal é ter uma plataforma global com serviços locais, e essa é a maneira de se colocar um diferencial competitivo”, afirma. 

O banco hoje está presente em 40 países, com mais de 41 milhões de clientes. Eles não revelam quantos deles estão no Brasil, mas a chegada ao país foi em maio de 2023. A porta de entrada foram os serviços como transferências internacionais instantâneas e cartão de viagem diversos locais mundo afora. “Funciona como um PIX global para todo mundo sem custo”, compara Mota. 

A exemplo do caminho trilhado por startups e bancos digitais, a Revolut também tenta ganhar o público na base da solução da chamada “dor do cliente”. “Por exemplo, é possível criar cofres individuais ou compartilhados, onde você coloca lá seu grupo de amigos ou de familiares, e eles podem contribuir e retirar desse cofre. Então, numa viagem em grupo, num planejamento de uma compra internacional, é muito mais fácil e conveniente, você não precisa de nenhuma planilha, você não precisa de ferramentas extras”, exemplifica o executivo. 

Ele revela ainda mais recursos que devem chegar ao público brasileiro. “A gente está acostumado com aquelas mesas de restaurante, com muita gente. Aí vai passando a maquininha, todo mundo pagando a sua parte. Com a Revolut, no exterior isso não existe. Uma pessoa pode pagar e ali mesmo no app já fala para distribuir essa conta para todos na mesa.”

O passo seguinte na estratégia da empresa é começar a crescer agora com contas locais (a autorização do Banco Central para operar como Sociedade de Crédito Direto foi dada no final de 2023). “Nós já estamos avançando nesse processo”, diz Mota. “A gente acabou de receber nossa permissão para emitir cartão no Brasil, e estamos trabalhando para fazer a conta local, conexão com o Pix”. 

Mas os serviços internacionais não vão ficar em segundo plano, e sim continuar sendo explorados como o produto em que a empresa tem “um diferencial claro”, segundo Mota. “O fato de a gente ter essa presença em todos esses países e, portanto, ser regulado em todos eles é outro tipo de segurança”, diz ele, citando ainda “escala suficiente para fazer isso mais barato”. 

“Se o cliente vai viajar, não é que ele está com um puxadinho da sua conta. É verdadeiramente global, é a única que está fazendo isso. Mas a gente pode vislumbrar que daqui um tempo seja também uma conta local, ou seja, com a mesma conta que a pessoa tem aqui no Brasil (ela vai para fora), como se ela não fizesse nada.”

O caminho da Revolut então seria o inverso ao de concorrentes que começaram seu crescimento pelo aumento da base de clientes com contas digitais locais, para depois passar a oferecer serviços internacionais. “Quando a gente olha a nossa concorrência, alguns são uma plataforma de vendas aqui no Brasil que usam bancos a serviço no exterior, outros são bancos só regulados no Brasil ou uma instituição financeira regulada no Brasil”, afirma Mota.

Avaliação do mercado

Enquanto a Revolut rivaliza com a concorrência em busca da lacuna que pode preencher no mercado para crescer, especialistas também avaliam o cenário e comparam as empresas. Thomas Monteiro, analista-chefe do Investing.com, opina que “a Revolut está sabiamente olhando o crescimento massivo esperado em dois mercados bastante pungentes no Brasil no momento: turismo de brasileiros no exterior e remessas do exterior para o país”. 

“Neste sentido, a empresa busca capitalizar nos dois lados do mercado de câmbio a partir do real, algo que tem se mostrado bastante lucrativo para os bancos maiores, mas que ainda possui um potencial de crescimento enorme para as fintechs”, analisa. Sobre a concorrência, ele não acredita em saturação do mercado, “devido à maioria dos concorrentes diretos da Revolut não terem um enfoque inteiramente nas contas internacionais”. 

Já Milton Rabelo, analista da VG Research, aponta que “existem evidências de que o mercado de fintechs no Brasil está próximo da maturação e, inclusive, neobanks estrangeiros como o N26 recentemente encerraram as operações no Brasil”. 

“Os principais players desse mercado são a Avenue, o C6 Bank, o Inter, a Wise, a Nomad e também alguns players locais como o BTG Pactual, a XP e o Bradesco. Certamente, será necessário um esforço coordenado de iniciativas bem-sucedidas para que o neobank tenha êxito no mercado brasileiro”, aponta Rabelo. “Dessa forma, a instituição pretende atrair brasileiros com uma boa experiência ao usuário no app, oferta ampla de produtos e custos mais baixos, diante da escala de sua operação global”, avalia. 

“Além disso, a instituição financeira também aposta nas criptomoedas, que são ativos que já gozam de muita popularidade entre os investidores brasileiros”, acrescenta Rabelo.