A moda não costuma ser o tema dominante quando falamos de Olimpíada. Mas a edição de 2024 dos jogos, que começaram nesta quarta-feira,24, com abertura oficial na sexta-feira, 26, está sendo marcada pelo debate sobre moda e estilo, mas não porque estão sendo sediados em Paris, a capital da alta-costura.

Às vésperas da competição, o uniforme dos atletas está entre os assuntos mais comentados nas redes sociais. Além de profissionais da área fashion, muita gente entrou na trend e resolveu opinar sobre o modelo apresentado. E boa parte das avaliações não é positiva.

A Riachuelo, responsável pela criação das peças em parceria com o COB (Comitê Olímpico do Brasil), diz que acompanha a repercussão. A empresa está com equipe dedicada para o monitoramento das redes.

“Queremos ouvir, acolher as opiniões dos consumidores e aprender. São muitas pessoas envolvidas nesse processo [de criação] e todo mundo que participou se entregou de alma e de coração. Todo mundo colocou o seu melhor”, diz a executiva de Marketing (CMO) da Riachuelo, Cathyelle Schroeder, que está em Paris acompanhando os jogos.

A varejista não abre o valor investido no patrocínio esportivo. Mas conta que a parceria vem desde 2020, já que o processo para criação da linha de olimpíada é longo, envolve muitas etapas- como briefing técnico, estudo de materiais, aprovações, modelagem e execução.

“As criações são submetidas a aprovação geral, incluindo do COB. Elas são validadas por muitas pessoas. É um processo longo, são muitos especialistas envolvidos”, relata a executiva.

Críticas

Os comentários nas redes sociais fazem críticas à composição geral do traje. Alguns consideraram simples e que não representaria a riqueza da cultura brasileira.

“Embora haja um elemento de relevância, que é o bordado, valorizando esse trabalho rico do Nordeste brasileiro, faltou conexão com o contemporâneo. Faltou sal, tempero, borogodó. É uma roupa que aparenta estar atualizada e projeta imagem de um país desatualizado”, comentou o influencer Caio Braz.

Outra crítica veio da cantora Anitta. Nas redes sociais, ela afirmou que o uniforme “representa como o atleta é tratado”.

“Acho que o look representa exatamente como o atleta é tratado no país. Sem estrutura, sem oportunidades, desvalorizado. O atleta no Brasil é um grande vencedor só por resistir na decisão de ser atleta. Acho que o olhar veio pra reafirmar exatamente isso, como que o atleta precisa ser guerreiro e passar por poucos e boas pra seguir seu sonho”, criticou Anitta.

Já a jaqueta jeans, chama a atenção pelo preço. Cada uma está à venda nas lojas da Riachuelo por R$ 599. Foram produzidas 1.230 jaquetas para o desfile de abertura e 900 unidades para venda, em edição limitada por conta da produção artesanal. Assim, segundo a varejista, são consideradas peças exclusivas, por isso, o maior valor do produto.

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) rebateu as críticas e devolveu com um comentário um tanto inusitado, após os principais dirigentes da entidade reclamarem de como muitas pessoas estão tratando o tema na mídia.

“Não é a Paris Fashion Week, são os Jogos Olímpicos. Então nosso foco está nisso. A gente sempre tem comentários excelentes, basta ver os vídeos dos próprios atletas nas redes sociais”, declarou o presidente do COB, Paulo Wanderley.

Já o diretor de marketing da entidade, Gustavo Herbetta, ponderou que a opinião não é unânime. Ele observou que o debate é subjetivo, pois envolve pessoas que aprovaram, e outras que não gostaram.

“A gente, obviamente, participou de todo o processo de escolha desse uniforme, a gente aprovou com muito orgulho. Se precisasse, a gente aprovaria esse uniforme de novo”, garantiu ele.

Os looks

Segundo Schroeder, são mais de 500 pessoas envolvidas na concepção de uniforme, e que uniu referências nacionais e internacionais, como a linha “New Look da Dior”. “Ao longo de dois anos de construção do projeto, teve um investimento muito grande de muitas pessoas. Estão envolvidos [no processo] semiótica, elementos de brasilidade que nos representam, alguns literais, outros nem tanto”.

A linha “New Look” é uma coleção icônica da Dior lançada no final dos anos 1940 que lançou clássicos da marca de luxo como o blazer e as saias plissadas com cintura marcada. Foi também o lançamento de outro ícone da moda: o perfume Miss Dior.

A executiva conta ainda que o projeto se baseou em dois pilares principais que são também o dos Jogos em Paris, que seriam sustentabilidade e equidade. “Pensando na sustentabilidade, além do projeto com as bordadeiras, aplicamos também no jeans, no pigmento, na cadeia logística. Em termos de equidade, o projeto contou com 60% de participação de mulheres.”

Os itens criados pela Riachuelo são o chamado kit de viagem e o traje para usar na cerimônia de abertura. A saber:

  • Camiseta feminina e masculina
  • Blusa de moletom feminina e masculina
  • Calça de moletom feminina e masculina
  • Blusa de moletom infantil
  • Calça de moletom infantil
  • Jaqueta Jeans Bordada

Os itens são entregues ainda com mala e mochila. Os calçados são da Havaianas, outra parceria do COB. Os uniformes de treinos e competição são fornecidos pelos patrocinadores de cada atleta ou categoria.

A parceria entre a Riachuelo e o COB  não é de agora. Os atletas que participaram dos Jogos Panamericanos em Santiago (Chile) em 2023 já desfilaram com visual criado pela varejista.

Bordado

O destaque dos uniformes tem sido a aplicação de bordado feita nas costas da jaqueta jeans. Trabalho que tem recebido elogios, ele é feito artesanalmente, a mão, bordado um a um pelas Bordadeiras de Timbaúba dos Batistas, grupo de Seridó, no sertão do Rio Grande do Norte.

“As peças [do bordado] trazem referências ao Brasil, com as cores que ecoam as tonalidades da bandeira nacional, e também referências de moda do país sede, a França. Foram desenvolvidos pelas talentosas artesãs do sertão nordestino, e trazem toda a riqueza da brasilidade para o desfile sobre o Rio Sena”, diz Schroeder.

*Com informações de Estadão Conteúdo