12/08/2021 - 12:41
Para sustentar que não está envolvido em suposto esquema de compra irregular de vacinas, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), discutiu com senadores na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. A sessão precisou ser suspensa devido ao bate-boca entre o parlamentar e membros do colegiado.
Barros acusou a CPI de usar uma “narrativa” do deputado Luis Miranda (DEM-DF) para associá-lo ao caso de irregularidades na compra de vacina Covaxin e que as acusações causariam dano muito grande a sua imagem. As críticas do parlamentar ao colegiado logo foram respondidas pelo presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM). “Seus comentários sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito, o senhor fale daquela porta pra fora” disse, “Eu não estou interessado aqui na opinião do depoente sobre a CPI”.
O relator do colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL) também reagiu às críticas de Barros. “Não vamos permitir que haja tumulto bate-boca. também não vou interromper. Mas não permitirei que vossa excelência manipule a verdade”, disse.
O filho do presidente Jair Bolsonaro, senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), que acompanha a sessão, pediu respeito ao depoente “Respeito é via de mão dupla. ele começou e já está sendo desrespeitado”, disse.
Um pouco antes do atrito, Barros negou que o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias tenha sido uma indicação sua para a Pasta. O deputado afirma que Dias foi indicado ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta pelo ex-deputado federal Abelardo Lupion (DEM-PR). Mesmo acusado de ter feito um suposto pedido de propina durante a compra de vacinas, Barros afirmou que o ex-diretor é uma “pessoa correta” .
“Nunca, em nenhum dos momentos, vi ele (Dias) envolvido em outra questão’, alegou o parlamentar na defesa do ex-diretor.
O parlamentar também negou ser o responsável pela contratação da VTCLog, atual encarregada da logística para a entrega de vacinas do Ministério da Saúde. A empresa é investigada por suspeitas de superfaturamento de R$ 16 milhões na própria pasta. Segundo Barros, a companhia foi contratada pelo ministério após sua saída do Executivo.
Ex-ministro da Saúde no governo Temer, Barros foi o autor, em fevereiro, da emenda na Câmara que viabilizou a importação da Covaxin por meio da inclusão da Central Drugs Standard Control Organization (CDSCO), da Índia, na lista de agências reconhecidas pela Anvisa para permitir a “autorização para a importação e distribuição de quaisquer vacinas” e medicamentos não registrados na agência, desde que aprovadas por autoridades sanitárias de outros países. A CDSCO deu aval à Covaxin; no Brasil, a Anvisa chegou a ceder uma autorização prévia para importar o imunizante, mas cancelou a licença em meio às suspeitas. Barros negou que sua emenda tivesse relação com o caso.
Barros também negou que tenha tentado “enquadrar” a Anvisa para aprovação da Covaxin pela agência, quando citou essa expressão publicamente. “Eu enquadrei a Anvisa, efetivamente, quando apresentei um projeto que suspendia a exigência de fase três no Brasil, um PDL, e no mesmo dia a Anvisa se reuniu e retirou a exigência, entendeu que eu estava certa na minha posição”.
Sobre o uso de intermediários para compra de vacinas e o caso da Global Saúde, Barros declarou: “não tem esse negócio de intermediário, é representante legal exigido por lei”.
No fim de 2018, o Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF-DF) entrou com uma ação contra a Global Gestão em Saúde S. A., contra Barros e servidores que atuavam no Ministério da Saúde na época. A suspeita dos procuradores é de que o atual líder do governo beneficiou a empresa em contratos.