22/01/2016 - 16:56
Aos cinco anos, ele já preferia desenhar vestidos no lugar de aviões. Três décadas depois, o americano Richard Haines voltou à ilustração da moda, uma atividade que conhece um novo auge em plena época da fotografia digital.
Na mesma época da Semana de Moda de Paris, a galeria Huberty & Breyne, na capital francesa, expõe cerca de 40 desenhos deste nova-iorquino.
Com seu traço rápido e vibrante, ele captura em carvão ou acrílico uma Coco Chanel recostada com os olhos fechados, com lápis retrata jovens hipsters e artistas de seu bairro, o Brooklyn, ou uma jovem ‘drag queen’ ruiva com a maquiagem borrada.
“Quando cheguei a Nova York nos anos 1970, a ilustração de moda estava em declínio. As publicidades ilustradas da imprensa cederam lugar para as fotografias”, diz o artista de 64 anos em entrevista à AFP.
Haines começa, então, a trabalhar como estilista para as marcas Calvin Klein, Perry Ellis e Bill Blass. Em 2008, com a crise do desemprego e pouco dinheiro, vai morar em uma apartamento emprestado por um amigo em Bushwick.
Nesse recanto do Brooklyn, em pleno processo da chegada de uma classe mais “burguesa”, fica fascinado pelo “teatro” de rua e a criatividade dos estilos que observa. Inicia um blog, “What I Saw today”, que causa furor rapidamente.
“Nem bem comecei e me dei conta que era o que mais gostava, aquilo para o qual fui feito após um desvio de 30 anos”, relatou.
Este habitué das Semanas de Moda trabalhou para as revistas GQ, Paper, para o jornal New York Times e para marcas de peso como Prada e Dries Van Noten.
Como dele surgiu uma série de blogueiros e estudantes de moda que se expressam no Instagram, o que seduz os estilistas: a californiana Carly Kuhn, conhecida como @thecartorialist, a novaiorquina Kelly Beeman e o britânico Sean Ryan e seus modelos com rostos estranhos.
Richard Haines admira especialmente o trabalho do francês Jean-Philippe Delhomme e do britânico David Downton, consagrados há muito tempo.
Esta volta da ilustração se explica, segundo ele, pela multiplicação de novas mídias e redes sociais como Instagram, Facebook, YouTube e Vimeo.
“As pessoas apreciam o lado humanos do desenho, é como uma espécie de alívio diante de tantas imagens fotografadas”, diz ele, usando um gorro na cabeça e óculos de lentes grossas.
“Há erros no desenho, não é algo perfeito. Todo o resto está tão ‘fotoshopado’, que as pessoas gostam de algo que seja resultado da mão do homem”, diz Haines, que cita Toulouse-Lautrec como um de seus artistas de referência.
Ele também é fã de Christian Bérard, ilustrador de moda francês dos anos 1930. “Da última vez fui ao cemitério Père Lachaise, onde está enterrado, me emocionou tanto que deixei uma mensagem”, disse, com um sorriso. “Enquanto isso, o resto das pessoas se precipitavam para ver as lápides de Oscar Wilde ou de Jim Morrisson!”, prosseguiu.
Para este filho de militar nascido no Panamá e criado na Virgínia, o desenho de moda foi uma vocação precoce. “Meu pai me dizia: ‘desenhe caubóis ou aviões’, o incomodava um pouco porque eu só queria desenhar modelos de moda”.
Haines colaborou, dentre outros, com Dries Van Noten para sua coleção de verão 2015, desenhando estampas, e com a Prada para uma série de retratos. Considera que sua experiência de estilista o ajuda na relação de trabalho com os criadores.
A moda atual não parece, para ele, menos entusiasmante que a de antes. “Muita gente diz que já não é igual, que é tudo chato. Mas as coisas continuam acontecendo! É preciso saber buscar. Eu continuo encontrando coisas verdadeiramente excitantes, é o que me faz continuar”.
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