Em sua participação no evento promovido pelo Instituto FHC para comemorar os 30 Anos do Plano Real, Rubens Ricupero, ministro que substituiu Fernando Henrique Cardoso na pasta da Fazenda em 1994 e ex-embaixador brasileiro na Itália ao longo de 1995, criticou a falta de compromisso de políticos até hoje com a responsabilidade fiscal.

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“Os políticos, a começar pelos mais altos escalões, eles não fazem uma ligação entre causa e efeito. Como a questão do gasto público. Para eles, inflação não tem nada a ver com gasto público, para eles é uma variável independente. Confesso que a tristeza maior que tenho é ver que, de tudo aquilo que não pegou [do Plano Real] foi a responsabilidade fiscal. É o mais difícil. É difícil para os americanos, para os franceses, os alemães, é muito difícil, mas aqui, se abandonou”, avaliou.

Ricupero reforçou que o Plano Real é “uma conquista” do Brasil. “Basta olhar para a vizinha Argentina. Estão onde estávamos 30 anos atrás, uma diferença colossal”, disse. E também aproveitou, como os demais participantes, para elogiar a atuação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

“FHC é a grande figura nessa história. O real, como toda grande obra, é uma obra coletiva, houve muitas contribuições. Mas algumas são mais duráveis e fundamentais do que outra. A dele, sem dúvida, foi a mais importante, tanto do ponto de vista qualitativo, como quantitativo”, afirmou.

O ex-ministro comentou ainda a atuação do então presidente na época do Plano, Itamar Franco, que classificou como “figura complexa”. “[Itamar] foi ao mesmo tempo indispensável e o maior obstáculo ao real. Mas ele tinha uma qualidade, ele sabia escutar.”

Sobre os efeitos do Plano Real, Ricupero destacou o perfil “miraculoso” que dominou o plano, de que “curava todos os males”. Mas o destaque, foi, claro, para o fim da hiperinflação. “O povo brasileiro de fato se convenceu da malignidade da inflação. Os políticos, eu não tenho tanta certeza.”

Estiveram presentes no evento alguns dos economistas que criaram a moeda mais longeva da história do Brasil, como André Lara Resende, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pedro Malan e Persio Arida. Arminio Fraga participou remotamente.