15/12/2000 - 8:00
Jeremy Rifkin atira mais uma vez contra seu alvo preferido: a tecnologia. Depois de acusá-la de suprimir postos de trabalho em O Fim do Emprego e de considerá-la um caso de saúde pública em O Século da Biotecnologia, o economista e ativista americano agora alerta para a concentração de poder que a Nova Economia está entregando nas mãos de companhias como Globo, AOL-Time Warner, Sony e Microsoft. Seu livro A Era do Acesso foi lançado nos Estados Unidos em julho e permaneceu dez semanas na lista dos mais vendidos na livraria virtual Amazon. No Brasil estreou no início do mês pela Makron Books. ?O que está emergindo é um sistema econômico totalmente diferente, em que a troca de mercadorias ? o mercado ? será substituída pela rapidez das conexões da rede?, diz ele, que preside a Fundação de Tendências Econômicas em Washington, nos EUA. ?Veja o acordo entre o Napster (programa que troca músicas na Internet) e a alemã Bertelsman, dona da gravadora BMG. É certo que a BMG estava muito feliz ganhando dinheiro com a venda de CDs?, conta. ?Mas a tecnologia ficou tão rápida e barata que não dá mais para adquirir um CD, depois outro e depois outro.?
Na opinião de Rifkin, a queda no custo com as transações comerciais eletrônicas fez com que se tornasse impossível ganhar dinheiro com margens de lucro sobre o preço dos produtos. O raciocínio das redes virtuais, em que o que importa não é a mercadoria em si, passa então para o mundo real. ?Ninguém quer ser uma General Motors nos dias de hoje. Todo mundo pretende ser uma Nike?, repete ele sempre. A marca de tênis estaria atraindo a admiração de todos pela sua estrutura enxuta. Para o ativista, é praticamente um estúdio de design, já que a produção é toda terceirizada na Ásia. ?Por que as crianças pagam US$ 100 por um tênis da Nike se o custo para produzi-lo foi de US$ 1??, pergunta o economista. ?Na verdade, os jovens pagam US$ 99 só para experimentar (ou acessar) os tênis da Nike.?
Mas toda transformação tem o seu preço, e pode-se dizer que é nessa praia onde Rifkin se sente mais à vontade. Com as redes virtuais aumentando seu raio de abrangência, estaremos cada vez mais subordinados a taxas de acesso. ?O tempo cultural e familiar será eliminado.? No outro extremo da questão, as companhias que estarão provendo essas experiências terão uma influência muito grande em nossas vidas e desfrutarão de uma concentração de poder ?sem precedentes na história da humanidade.? O pensador então aproveita para bater nos seus inimigos eternos: a Microsoft e a Monsanto, que quer taxar fazendeiros a cada nova estação de crescimento.
Outra questão é com relação às engrenagens da própria sociedade. Mais da metade da população mundial nunca fez uma ligação telefônica e está a gigabites de distância dos que pagam para empresas como Napster e Globo para ter a sua parcela de vida. ?Esses dois opostos não irão se comunicar, o que pode levar a um rompimento massivo da sociedade civil?, conta ele, que já previu o caos social algumas vezes. Ainda assim, sua forma sagaz e didática de juntar os vários episódios contemporâneos permitem uma visão clara de como funciona a Nova Economia e para onde ela vai. Se Rifkin se considera um alarmista? ?Claro que não. Perco mais tempo com soluções do que com problemas?, retruca. ?Afinal, se a tecnologia está deteriorando a qualidade de nossas vidas não temos de acionar o sino de alarme?? Como se vê, ele continua o mesmo.