29/05/2017 - 8:27
Instalado à beira da Lagoa dos Patos, o pórtico gigante, trazido da Finlândia, era o símbolo da prosperidade do município de Rio Grande (RS). Com 117 metros de altura e 210 metros de largura, o equipamento – pintado de um amarelo berrante – era visto de qualquer canto da cidade, que fervilhava com o avanço do polo naval e seus três estaleiros. Hoje esse mesmo pórtico, que custou cerca de R$ 400 milhões, está parado ao lado de milhares de toneladas de aço no Estaleiro Rio Grande (ERG).
De símbolo de bonança, o equipamento virou o retrato dos prejuízos que o setor causou na cidade. No dia 9 de dezembro do ano passado, o ERG – que tem como sócios a Engevix e o Funcef – teve seus contratos rescindidos com a Petrobras e demitiu cerca de 3 mil funcionários de uma só vez. Em seguida, entrou com pedido de recuperação judicial para equacionar uma dívida de R$ 7,5 bilhões. Nem deu tempo de terminar o casco da P-71, que ficou pela metade.
A derrocada do estaleiro teve efeito imediato na economia da cidade. Empresários que investiram na expansão dos negócios estão endividados e sem dinheiro para honrar os compromissos firmados; trabalhadores perderam o emprego e não têm perspectivas de recolocação no mercado e o índice de criminalidade cresceu. “O retrato do que se vê aqui é de um impacto social violento e de uma retração do desenvolvimento da região”, afirma o prefeito de Rio Grande Alexandre Duarte Lindenmeyer.
No auge da construção de embarcações, os três estaleiros do polo naval (Rio Grande, QGI – Queiroz Galvão Iesa e EBR – Estaleiros do Brasil) empregavam cerca de 24 mil trabalhadores e giravam uma economia que crescia em torno de 20% ao ano. Além do ERG parado, os outros dois também seguem o mesmo caminho. O QGI tem mais dois meses de trabalho e o EBR vai até o fim deste ano. Se nada for feito, outros cerca de 4 mil funcionários serão demitidos e vão engrossar a lista de desempregados na cidade.
O efeito multiplicador do polo naval funciona para o bem e para o mal. Com a queda na demanda, os empresários locais também passaram a demitir. O empresário Luiz Carlos Hilário conta que ampliou a rede hoteleira na cidade para atender à demanda do polo e agora está com elevada capacidade ociosa. “Dependendo do mês, a ocupação fica entre 30% e 40%. No auge dos estaleiros, tinha 98%”, diz ele, que é dono de quatro hotéis em Rio Grande. Para se adequar à nova realidade, a solução foi cortar custos e reduzir o preço da diária. “Ainda assim, esses dias um dos hotéis não tinha nenhum hóspede. Isso nunca tinha ocorrido antes.”
A situação de Renan Guterres Lopes é ainda pior. Ele investiu numa frota de ônibus para atender às empresas do polo naval e hoje não sabe o que fazer com os ônibus. Para piorar, Lopes pegou empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e hoje não tem caixa para pagar a dívida. Quando os primeiros estaleiros começaram a chegar a Rio Grande, a empresa de Lopes, a Universal, tinha apenas nove ônibus para atender aos clientes. Conforme o polo avançava, ele aumentava o número de veículos, até chegar a 90 ônibus. Hoje os carros estão sucateados no pátio, alguns sem motor e sem pneu. “Daqui a pouco eu vou doar ônibus, pois é mais barato do que bancar o custo dos veículos parados.”
Estabelecimentos que tinham relação indireta com o polo naval também sofreram um baque com o fechamento do ERG e redução dos serviços na QGI e EBR, além da retração da economia. Diante da perspectiva da população dobrar em dez anos, a cidade ganhou dois shoppings centers. Um deles foi concluído no meio da crise. Sem demanda, lojas e restaurantes foram fechados e quem continua de pé está renegociando os contratos de aluguel. “Em toda a cidade, 10% do comércio fechou as portas”, afirmou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Rio Grande), Luiz Carlos Teixeira Zanetti. O próprio executivo fechou uma de suas três lojas de material de construção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.