13/04/2012 - 21:00
Dentro de dois meses, na terceira semana de junho, a cidade brasileira mais conhecida lá fora sedia um evento que deve não apenas servir de teste à capacidade de organização dos governos como também colocar o Brasil em evidência no resto do mundo. A Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável, deve trazer ao Brasil dezenas de chefes de Estado – embora ainda não se saiba se o presidente americano, Barack Obama, estará presente –, além de milhares de especialistas, de dentro e de fora dos governos. Apesar da importância do evento, pouco se fala sobre ele. Não se deve esperar que as delegações assinem um documento que vá modificar a vida na Terra, antes de deixar o Rio.
As grandes companhias já perceberam que a sustentabilidade é fundamental
para os negócios. Seja pela preservação de recursos, seja pela manutenção de seus mercados.
Serão firmados, na verdade, compromissos que vão orientar a atuação dos países em relação ao meio ambiente nos próximos anos. Os internacionais, no âmbito das Nações Unidas, serão assinados pelos governos. Mas as decisões ali tomadas deverão ser colocadas em prática especialmente pelas empresas. O primeiro rascunho do documento traz muitos assuntos ainda sem consenso. Como sempre, nesses casos, ainda está presente a disputa entre os países ricos, que já poluíram, e os países emergentes, que acham que ainda têm o direito de utilizar sua cota de poluição. O documento que dará a base das negociações defende o estímulo a uma economia verde, que promova o desenvolvimento econômico sustentável e ajude a erradicar a pobreza, mas deixa claro que essas iniciativas não devem resultar em barreiras comerciais, fomentar a desigualdade ou restringir a decisão individual dos países.
Enfim, evidencia os limites do que não se deve fazer, mas não necessariamente traça caminhos para a conciliação entre crescimento e preservação. A participação das empresas em acordos do gênero, que vão desenhar a economia do futuro, é de fundamental importância. Entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já perceberam isso. A CNI, por sinal, conta com um grupo que se dedica exclusivamente ao tema, encarregado de preparar um estudo, que será divulgado durante a Conferência, com exemplos de boas práticas ambientais de empresas brasileiras. Ainda não são todas, mas as grandes corporações já perceberam que a sustentabilidade é fundamental para a sobrevivência de seus negócios. Seja pela preservação de recursos naturais essenciais ao seu ciclo de produção – água limpa, por exemplo –, seja pela manutenção de seu mercado consumidor ou pela carteira de clientes.
Ou mesmo pela possibilidade de atrair investidores, já que hoje existem fundos que só mantêm em suas carteiras ações de companhias sustentáveis. Empresas que exportam para a Europa, por exemplo, já estão acostumadas com o escrutínio de seus clientes, que querem saber a origem das matérias-primas que entram e o destino dos resíduos que saem da produção. E não prestam as informações porque são boazinhas, mas porque são pressionadas por seus consumidores. Ou seja, assumir uma postura sustentável, agir lembrando que o mundo tem que ser preservado para as gerações futuras não é mais uma opção. Não depende da ética ou das convicções pessoais do dono da empresa, da sua diretoria ou de ela estar instalada num país onde as leis, os órgãos de controle ambiental ou a sociedade são mais rígidas. Trata-se, cada vez mais, de uma questão de sobrevivência. Vamos ver o que as empresas brasileiras terão a mostrar quando estiverem na vitrine.