Quarta-feira, 10 de novembro, nove horas da manhã. O luxuoso escritório da avenida Brigadeiro Faria Lima, Zona Oeste de São Paulo, assiste a um intenso movimento nos seus 8º e 9º andares. A portas fechadas, os controladores da Suzano, David e Daniel Feffer, e seu time de executivos, como diretor-superintendente Murilo Passos, discutem os detalhes de um projeto que mudaria a indústria nacional de papel e celulose horas depois. Da sede da Suzano partiam telefonemas para a base da Votorantim Celulose e Papel (VCP), de Antônio Ermírio de Moraes, e a sede do banco americano de investimentos Goldman Sachs no País. O conteúdo dos diálogos atestava: Suzano e VCP, os dois gigantes do papel no Brasil, decidiram pagar US$ 720 milhões para arrematar uma das raras oportunidades do setor, a Ripasa, controlada pelas famílias Zogbi, Derani e Zarzur, reunidas na holding ZDZ. Faltava só o preto no branco. E isso aconteceu na tarde da mesma quarta-feira, na Ripasa, que fica perto do escritório do banco, o mediador da transação.

A engenharia da aquisição dá a idéia de que a aproximação entre VCP e Suzano começara há cerca de uma semana, como afirmou Passos. Quando os donos da Ripasa anunciaram que passariam o negócio adiante ? vender o quinto maior grupo do setor com receita anual de R$ 1,2 bilhão e dono de quatro fábricas ?, as duas inicialmente partiram sozinhas. Mas bastou notar que os maiores grupos mundiais, a americana International Paper e a sueco-finlandesa Stora Enso, também estavam de olho para a estratégia mudar. ?Ninguém convidou ninguém. Houve encontros casuais e notamos que um entendimento era possível?, conta o executivo da Suzano.

?Essa sociedade faz sentido, porque brecou o avanço das multinacionais por aqui. Sem contar que elas passam a ser as grandes empresas em vários tipos de papel no País?, diz André Ribeiro, analista da Fama. De fato. Com o martelo batido, 50% das 460 mil toneladas de papel da Ripasa vai para a Suzano e o restante fica com a VCP. Isso dá um empurrão nos grupos, porque a capacidade da Suzano saltará de 785 mil e romperá 1 milhão de toneladas, o que a aproximará de 1,4 milhão de t da líder Klabin. A VCP também andará perto. Sairá de 580 mil para 810 mil toneladas.

Mas antes de contabilizar a papelada, José Penido, presidente da VCP, explica que de cara ambas vão pagar US$ 480 milhões para ficar com 39,77% do capital total. O valor deverá estar na conta bancária dos acionistas da Ripasa até 31 de março de 2005, quando o processo de revisão de contas estará pronto. Até lá, nada muda. A Ripasa continua com ações na bolsa de valores e mantém a gestão. Mas depois de março, ambos terão que quitar os US$ 240 milhões restantes da compra, que lhes dará direito a mais 19,74% do capital e, portanto, o controle da empresa com 59,5%. Contudo, ninguém se preocupa muito. Além do saldo poder ser pago em seis anos, os novos donos dizem que o caixa da Ripasa quitará as parcelas.

O mercado, porém, não está convencido disso. ?O valor de US$ 720 milhões é caro, apesar de ter havido um prêmio pago pelo controle?, diz um analista que preferiu o anonimato. Isso não abala os compradores, que já focam em novas estratégias, como repartir a produção e gestão. Mesmo porque depois de março a intenção é fechar o capital da Ripasa na bolsa e transformá-la em unidade produtiva. E, quando tudo terminar, será que Suzano e VCP estarão juntas em outro negócio? ?Não há nada em vista?, afirma Passos, da Suzano. ?Cada um toca a sua vida?, diz Penido, da VCP. O tempo dirá.