21/12/2024 - 8:08
O governo da Califórnia, nos Estados Unidos, declarou estado de emergência de saúde pública na quarta-feira, 18, por causa do atual contexto da gripe aviária (H5N1) na região. A decisão ocorreu após um morador da Luisiana ser hospitalizado com a doença – o primeiro caso grave confirmado no país.
O vírus tem mostrado notável capacidade de adaptação nos últimos anos, causando crise na avicultura e se espalhando entre o gado e outros mamíferos – além de já infectado 61 humanos nos Estados Unidos. Até quinta-feira, 19, o país registrava 125 milhões de aves e 866 rebanhos leiteiros afetados.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, afirmou que o risco para a população geral permanece baixo e que a declaração de emergência objetiva estimular a prevenção para que o vírus não se dissemine. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reitera essa avaliação. Segundo a entidade, o H5N1 ainda não se espalha facilmente para a nossa espécie.
Além disso, o registro de um novo caso grave não é um sinal alarmante de disseminação da doença, segundo a infectologista Nancy Bellei, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Ela destaca que ocorrências assim são esperadas e que já aconteceram no passado, como no surto de 2003, e em outros locais, inclusive recentemente no Canadá.
Há, porém, preocupação com a crescente propagação do vírus entre espécies de animais diferentes. A cada nova infecção, aumenta o risco de mutação para uma forma mais transmissível para humanos. Por isso, a OMS classifica a circulação contínua desse vírus como “preocupante”, pois pode se tornar mais contagioso, além de já causar doenças graves, até fatais. “A preocupação é mundial porque os vírus da influenza têm uma capacidade de mutação grande, levando ao risco de causar pandemias”, diz Ralcyon Teixeira, diretor da divisão médica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
É PERIGOSO? Até agora, não há evidências de que o vírus consiga se espalhar entre pessoas. Os casos em humanos ainda são considerados raros e limitados a exposições específicas a animais infectados ou a seus dejetos, especialmente entre quem lida diretamente com espécies que transmitem o vírus. Assim, os riscos seguem baixos. Mas o que tem preocupado pesquisadores é o risco de mutação por coinfecção, o que poderia facilitar a transmissão sustentada do vírus. “Pode ocorrer de uma pessoa já infectada com outro vírus influenza contrair o H5N1 e que eles se combinem”, diz Nancy. Segundo ela, isso acontece com frequência. “Todas as pandemias de influenza anteriores foram causadas por combinações de diferentes vírus”, explica.
Gravidade
Segundo a OMS, entre janeiro de 2003 e 1.º de novembro de 2024, foram registradas 939 infecções por vírus aviários em humanos, relatadas em 24 países. Destas, 464 foram fatais (49% dos casos), indicando uma alta letalidade.
A maioria dos 61 casos em humanos relatados nos EUA, porém, foi leve, com sintomas como conjuntivite. Outros sintomas da doença são febre alta, tosse e dificuldade respiratória. Até então, os casos oficialmente documentados pela OMS de H5N1 em humanos tinham alta letalidade, comenta Nancy. “Como já visto na Europa e na Ásia anteriormente, houve agora um caso grave.”
Além dos registros nos EUA, a OMS contabilizou outras quatro ocorrências de infecção por H5N1 em outros países nos últimos meses.
Pandemia só ocorrerá se houver transmissão do vírus entre humanos
Uma pandemia de gripe aviária só acontecerá quando (e se) o vírus adquirir a capacidade de ser transmitido continuamente de pessoa para pessoa, sem depender de contato com outros animais (transmissão sustentada) e caso a população não tenha imunidade para combatê-lo.
Em julho, pesquisadores da Universidade Cornell, nos EUA, encontraram evidências de transmissão sustentada da gripe aviária entre mamíferos, a partir de estudos com o gado. Nancy Bellei, da SBI, ao ser consultada na época, explicou que isso seria preocupante porque mamíferos como vacas são biologicamente mais próximos dos humanos do que aves, aumentando o risco de uma mutação capaz de facilitar a transmissão entre os seres humanos.
Agora, a infectologista diz que há riscos, mas é preciso parcimônia, já que não é possível afirmar quão longe estaria uma mutação capaz de atingir humanos. “Mas sabemos que está muito mais próximo do já esteve antes, por essa disseminação entre outros animais.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.