18/11/2024 - 11:11
Olhando para um risco fiscal – que dificulta o cumprimento das metas do arcabouço fiscal – e incertezas no cenário externo, o Itaú elevou suas projeções para inflação e dólar neste e no próximo ano.
+Mediana para o IPCA de 2024 sobe pela 7ª semana seguida no Focus do BC, de 4,62% para 4,64%
Agora, a casa espera que o IPCA feche este ano em 4,8%, ante 4,4% da projeção anterior. Já para 2025 a expectativa passou a ser de uma inflação de 5%, ante 4,2% anteriores.
Ambas as projeções ficam acima do consenso de mercado, dado que o Boletim Focus do Banco Central (BC) mostra 4,6% para 2024 e 4,12% para 2025.
A tese da casa é de que com itens de alimentação mais caros, a inflação deve permanecer elevada por mais tempo, além do fato de o real estar mais depreciado – em partes pelo aumento do risco fiscal nas últimas semanas.
“Incorporamos primordialmente o efeito de um câmbio mais depreciado sobre bens industriais, além de serviços subjacentes mais pressionados (em especial alimentação fora do domicílio, impulsionada pela alta recente dos preços de proteínas) e o anúncio de aumento do ICMS sobre combustíveis esperado para fevereiro do próximo ano. O balanço de riscos segue assimétrico de alta para o próximo ano, com a possibilidade de que a economia se mantenha aquecida e o câmbio continue depreciando”, diz o time de pesquisa macroeconômica do Itaú, chefiado pelo economista Mario Mesquita.
Olhando para o câmbio, o banco aponta que as incertezas fiscais somadas às externas devem ser catalisadores, e há perspectiva de dólar mais forte globalmente por conta do diferencial de juros.
Anteriormente os analistas da casa viam um câmbio a R$ 5,40 em 2024 e em R$ 5,20 em 2025. Agora a projeção é de R$ 5,70 para os dois anos.
“As incertezas domésticas e externas têm pesado sobre a moeda brasileira, que testou os níveis mais fracos do ano ao longo do último mês, a despeito da ampliação do diferencial de taxas de juros. O resultado eleitoral nos EUA e o seu potencial impacto sobre atividade econômica e dinâmica inflacionária limitam a perspectiva de queda de juros no país e favorecem o fortalecimento do dólar globalmente a despeito do aumento do diferencial de juros em relação aos EUA”, analisa o Itaú.
“Para que esse não haja enfraquecimento adicional da moeda brasileira, é essencial um anúncio de corte de gastos de pelo menos R$ 35 bilhões em 2026 que ajudaria a conter a alta do prêmio de risco, ao sinalizar um compromisso maior com o ajuste fiscal“, completa.
Segundo a casa, a percepção de risco doméstico tem aumentado com a expectativa que o crescimento elevado das despesas obrigatórias dificultaria muito o cumprimento do arcabouço fiscal em seu formato vigente até 2026.
Nos cálculos dos especialistas em macroeconomia, para cumprir o arcabouço em seu formato original o Governo Federal precisaria realizar um ajuste de despesas de pelo menos R$ 60 bilhões, sendo R$ 25 bilhões em 2025 e R$ 35 bilhões em 2026.
Com isso, a expectativa é de um resultado primário de -0,4% do PIB em 2024 e de -0,7% em 2025 (ante -0,8% anteriores).
“Sem a perspectiva de convergência a resultados primários compatíveis com a estabilidade da dívida pública, a apresentação de medidas que assegurem o cumprimento do arcabouço ganha ainda mais importância. Essas idealmente deveriam incluir iniciativas tópicas, bem como estruturais”.
A despeito de dólar e inflação, expectativas para o PIB seguem estáveis
As projeções para o crescimento econômico em 2024 foram mantidas, com a casa esperando 3,2% de Produto Interno Bruto (PIB) em 3,2%.
Já para o ano que vem a projeção foi cortada de 2% para 1,8%.
“Esperamos alguma desaceleração da economia no 2º semestre desse ano e no ano que vem, em função da taxa de juros mais elevada, impulso fiscal menor e revisão baixista no crescimento global. Enxergamos riscos simétricos para a projeção de crescimento de 2025”.