27/03/2002 - 7:00
Poucas pessoas são tão identificadas com o mercado financeiro no Brasil como o corretor Alfredo Rizkallah, de 71 anos. Dono de uma corretora desde 1968, ele foi presidente três vezes da Bolsa de Valores São Paulo (Bovespa). Durante seus dois últimos mandatos, de 1996 a 2000, Rizkallah levantou como uma de suas principais bandeiras a modernização das corretoras para fazer frente à dramática redução do mercado acionário no País. Rizkallah lutou o quanto pode, mas nem ele aguentou. Na semana passada, Rizkallah enviou uma carta à Bolsa. No texto, ele anunciava o fechamento de sua corretora de valores, a Novação. Ou seja, o corretor que foi identificado com a história da Bovespa desistiu do negócio. A partir de agora, a Novação continuará a existir apenas como corretora de câmbio e derivativos.
?Saio com um misto de mágoa e esperança, perda e ganho?, diz o ex-presidente da Bovespa. Rizkallah é mais uma vítima do esvaziamento do mercado acionário e da concentração dos negócios nas mãos das grandes corretoras. Em meados da década de 90, a Bovespa chegou a movimentar US$ 1 bilhão por dia e hoje negocia menos de US$ 300 milhões. Além de Rizkallah, outros três ex-presidentes da Bovespa já jogaram a tolha e fecharam suas corretoras. ?Não digo que estou feliz com a mudança, mas tenho que me adaptar à nova realidade?, diz Rizkallah, que nega ter perdido dinheiro com a queda nos negócios.
Além da Novação, a Bovespa recebeu a carta de desistência de outra corretora tradicional, a Dias de Souza. As duas aproveitaram a oferta de recompra dos títulos patrimoniais ? cotas de propriedade da Bolsa. Essa é uma iniciativa que a Bovespa toma toda vez que o mercado está em baixa. Outras corretoras revenderam parte de seus títulos patrimoniais, mas mantiveram uma participação, ainda que restrita, na organização. Os corretores que antes eram identificados com a Bovespa agora estão voltando seus olhos para a antiga rival, a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM & F), especializada em sofisticadas operações de apostas futuras. ?As operações de derivativos só tendem a crescer. O futuro do Brasil passa por elas?, diz Rizkallah, o ex-cardeal da Bovespa.