O empresário Roberto Civita nasceu em Milão em 1936 e estudou física quântica em Houston, no Texas, na Rice University. Mas marcou época como um comandante de empresa de mídia no Brasil. Apesar da tentativa de se tornar um cientista, encontrou a sua vocação e trabalho de vida inteira no negócio do pai, Victor Civita, fundador do grupo Abril. Morto aos 76 anos, no domingo 26, devido à falência de múltiplos órgãos, depois de três meses internado para a correção de um aneurisma abdominal, Civita dirigiu por quatro décadas o negócio de revistas da Abril, mantendo controle estrito de sua linha editorial. 

 

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Também promoveu, na posição de presidente do conselho de administração do grupo, a expansão da Abril para outros segmentos, como a área educacional e a de televisão por assinatura, com a TVA e com a MTV. Sua grande paixão era a mídia impressa. Civita dizia que o que gostava de fazer da vida era revista: “Diria que não sou nem um jornalista nem um empresário; sou editor. Acho que consegui um equilíbrio.” Civita se preparou para isso. Logo depois de perceber a falta de vocação para as ciências e abandonar o curso de física quântica, ele procurou uma formação que o tornasse apto a assumir a empresa da família, graduando-se em jornalismo na Universidade da Pensilvânia e em economia pela Wharton, escola de negócios, ligada à mesma instituição. 

 

Passou, ainda, por um estágio na revista Time, sob a tutela do lendário Henry Luce, fundador da publicação que se tornou um modelo para o jornalismo de revistas semanais. Antes de passar por esse período de estudos, Civita já havia tido uma primeira experiência de vida no Brasil. Quando desembarcou pela primeira vez no País, tinha 13 anos de idade. Veio acompanhado da mãe e de seu irmão, Richard, três anos mais novo. A viagem aconteceu a pedido do pai, que havia acabado de fundar a editora Abril, que firmara acordo com a Disney para publicar gibis do Pato Donald. Depois dos estudos nos Estados Unidos, retornou para se estabelecer em definitivo no Brasil, no meio da década de 1960, e passou por diversas áreas da empresa. 

 

Participou da criação das revistas Realidade, Claudia, Veja, Exame e Quatro Rodas. “Ele teve importância fundamental no desenvolvimento da editora”, diz Orlando Marques, presidente da Associação Brasileira de Agências de Publicidade, que começou a carreira no grupo Abril. “Sempre deixou que os executivos da empresa empreendessem com o dinheiro dele.” Para Caco Alzugaray, presidente-executivo da Editora Três, “Roberto Civita foi um ícone da história da mídia brasileira e sempre será lembrado como o editor que enraizou no Brasil uma forte cultura de consumo de revistas, assim como o empresário que implantou um moderno sistema de produção e comercialização dessa indústria”.

 

A passagem de Civita para o comando da editora aconteceu na virada para os anos 1980, quando o patriarca Victor dividiu o grupo Abril para acomodar os dois filhos nos negócios. Roberto ficou com a área editorial e Richard, com as operações de fascículos e livros, além dos hotéis e frigoríficos. O fim da era Roberto Civita começou a ser desenhado no dia 20 de março deste ano, quando o grupo Abril anunciou que ele se afastaria de suas funções na presidência do grupo e dos conselhos editorial e administrativo. O filho Giancarlo Civita mantém, desde então, essas posições. O executivo Fábio Barbosa, presidente-executivo da Abril S.A., comandará também a Abril Mídia, que congrega as principais áreas de negócios.