Na época, a Vivo, criada dois anos antes a partir de um emaranhado de 14 operadoras pertencentes a seis grupos empresariais, estava em péssimo estado. Era uma empresa dividida entre sócios portugueses e espanhóis que não se entendiam, desacreditada entre clientes e fornecedores e até entre os funcionários. 

 

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Num negócio que crescia 20% ao ano, a Vivo perdia seis a sete pontos de participação de mercado. Lima, um experiente executivo com passagem pelo mercado financeiro, não só apaziguou os ânimos da casa como comandou uma virada espetacular, retomando o crescimento e a liderança do setor. 

 

Em 2010, a recompensa: a Vivo tornou-se a noiva cobiçada do maior negócio do País. Em julho, a espanhola Telefônica comprou a participação da Portugal Telecom, por E 7,5 bilhões. 

 

O acordo encerrou uma longa disputa corporativa e árduas negociações que envolveram até os governos de Brasil, Espanha e Portugal. Lima, que fora indicado pelos portugueses, conduziu a Vivo tão bem ao altar que foi mantido no cargo pelos espanhóis. No final, o desenlace ainda abriu caminho para a Portugal Telecom virar acionista da Oi e movimentou cerca de R$ 25 bilhões, considerando-se as duas operações. Por isso, Lima é o EMPREENDEDOR DO ANO NA TELEFONIA.  

 

A atuação do executivo nos últimos cinco anos foi crucial para o desfecho favorável de um negócio que poderia acabar em desastre corporativo de grandes proporções. As negociações entre os dois sócios começaram ainda em 2007, com uma proposta de 3 bilhões de euros.

 

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Roberto Lima: teve como primeira missão trocar o sistema CDMA por GSM, ou seja, começar tudo de novo

 

Quando elas foram retomadas, em janeiro deste ano, Lima teve que se desdobrar para tocar o dia a dia da empresa e evitar que entrasse em crise enquanto portugueses e espanhóis brigavam pelo controle. 

 

Com bom trânsito nos dois lados, ele concentrou-se no próprio trabalho e tentou ignorar a ansiedade típica da situação. “A única orientação que recebi foi: foco no negócio e não se preocupe com a fusão”, conta Lima. Dito e feito. 

 

O resultado só aumentou o interesse da Telefônica pelo controle total da Vivo, considerada vital para a expansão neste momento de grande crescimento do consumo de massas no Brasil.  

 

O dado mais recente, de outubro deste ano, mostra que a Vivo tem os melhores indicadores do mercado: 100% de cumprimento das metas de qualidade da Anatel e o menor índice de reclamações entre os quatro concorrentes, de 0,226 por mil assinantes. 

 

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O espanhol Cesar Alierta, presidente da Telefônica, manteve Lima

no cargo após a compra da parte da PT, que o indicara

 

Os bons resultados são reconhecidos. “Roberto Lima é um dos melhores executivos do mercado. Muito firme, muito senhor da situação. Tem conduzido a Vivo muito bem”, afirma o consultor e ex-ministro das Comunicações Juarez Quadros. 

 

Segundo a consultoria Brand Finance, a Vivo é a quinta marca brasileira mais valiosa.

Essa conquista começou há cinco anos, quando Lima, egresso da Credicard, entrou com a missão de criar uma empresa moderna e dinâmica. 

 

“Tínhamos uma situação esquizofrênica. Uma propaganda maravilhosa que se transformava num problema, porque a empresa não entregava o que prometia”, conta o executivo. Com o tempo, ele promoveu transformações, conquistou as equipes e transmitiu confiança no trabalho nos vários níveis, dando a autonomia necessária para melhorar os resultados.

 

“Se você não dá liberdade para as pessoas na ponta fazerem o que elas querem, inibe a criatividade na empresa”, explica. Os números mostram que ele acertou mais do que errou. O lucro da companhia saltou de R$ 16,3 milhões em 2006 para R$ 1 bilhão neste ano até setembro (59% mais do que no mesmo período de 2009). 

 

O valor de mercado da empresa, neste período, saltou de R$ 10 bilhões para R$ 57 bilhões. E o número de clientes pulou de 30 milhões para 57 milhões. Satisfeita, a Telefônica escolheu a marca Vivo para os serviços de consumo no Brasil, que incluem telefonia móvel, fixa e banda larga. 

 

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Lojas da Vivo: têm autonomia para cuidar da própria decoração e cada regional pode marcar sua convenção 

 

Hoje a empresa é líder no mercado brasileiro, com 30,14% de participação na telefonia celular e crescimento anual na ordem de 18%. São 329 lojas, 11 mil pontos de venda e 530 mil pontos de recarga nos 27 Estados brasileiros, com sinal de celular em 3.636 municípios, atingindo 90% da população.

 

Um dos primeiros desafios do presidente foi a mudança do sistema operacional de CDMA para GSM, menos sujeito a fraudes e clonagens. Foi difícil convencer os acionistas que era preciso jogar tudo fora e começar de novo.  

 

“Era preciso reconstruir as relações de confiança com clientes, fornecedores e funcionários”, conta. E reforçar as parcerias com os fornecedores. “Não se pode esperar parceria quando você espreme o fornecedor até tirar a margem dele”, diz.

 

Aos 59 anos, casado pela terceira vez há nove, Lima mora em São Paulo com a mulher e dois filhos adultos. Juntando toda a família, são seis filhos e um neto. Nos fins de semana, a diversão é cozinhar e jogar golfe. 

 

“Adoro cozinhar, aprender receitas novas”, conta. Lima também procura tirar prazer do trabalho. No fim do mês, o que seria um café da manhã com 25 trainees acabou se transformando numa manhã inteira de conversa com os jovens funcionários sobre suas ideias e expectativas. 

 

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Qualidade de vida: Lima gosta de jogar golfe e cozinhar nos fins de semana para a

família e os amigos. Uma vez por ano, viaja ao Exterior com a esposa

 

Há duas semanas, em visita a lojas de São Luis, no Maranhão, Lima ouviu de uma funcionária como ela conseguiu vender um celular a um japonês que não falava português usando o tradutor do Google. 

 

É esse espírito de inovação e independência que ele quer incentivar. Cada loja tem autonomia para cuidar da própria decoração e cada regional pode marcar sua convenção. Todos os funcionários recebem participação nos lucros. No ano passado, o menor bônus foi equivalente a 2,2 salários. 

 

Os bons resultados não deixam Lima acomodado. “Temos 2010 e 2011 resolvidos e 2012 e 2013 estão bem encaminhados. Mas temos que inventar 2014 e 2015”, resume. A visão dele para o futuro é uma empresa que contribua para as conexões entre as pessoas, como prega o slogan: “Nós acreditamos que na sociedade em rede o indivíduo vive melhor e pode mais”. 

 

Nisso, ele é afinado com o presidente do Santander, Fabio Barbosa. “Acredito em muitas coisas que ele tem valorizado, como a construção do mundo em rede. A abertura nos negócios é o caminho e Roberto tem conseguido imprimir ritmo à frente de uma grande empresa de telecomunicações”, afirma Barbosa.