Articulados, colaborativos, manipuladores e humanóides. Robôs que antes pareciam ter saído de um filme de ficção científica estão invadindo indústria, comércio e serviços no Brasil para gerar aumento de produtividade, economia e precisão nas atividades. Uma das líderes em fabricação de robôs, a alemã Kuka chegou ao País em 1996 para explorar o setor automobilístico. Hoje, a empresa conta com cerca de 9 mil robôs instalados em diversas áreas e enxerga o mercado brasileiro como um dos mais promissores para robótica.

“O Brasil está abaixo da média mundial no índice de robôs por trabalhadores, o que pode parecer um problema. Mas, para nós, é uma oportunidade. Significa que há potencial [para instalação de robôs] não só em grandes indústrias, mas também em pequenas e médias empresas”, afirmou Alberto Bordonaba, CEO da Kuka no Brasil. Com presença em 60 países, a companhia tem entre seus clientes no Brasil a Volkswagen, a Ambev, a Midea e o Grupo Randon.

Segundo Bordonaba, a Kuka importa quatro tipos de robôs:
os colaborativos,
os autônomos,
os industriais de seis eixos,
e os médicos.

Além disso, oferece softwares — que são robôs digitais — para personalização e implementação de linhas de produção, por exemplo. Em março, a empresa alemã lançou no Brasil o programa MixedReality, que usa realidade aumentada para detectar riscos e erros na instalação de projetos robóticos.

(Divulgação)

“Os robôs foram convertidos em commodity. As empresas agora querem produtos digitais e conectados”
Alberto Bordonaba, CEO da Kuka no Brasil

A Ambev é uma das clientes da Kuka. Possui 100 robôs integrados em suas operações no Brasil, alguns deles da empresa alemã. Com robôs colaborativos para tampar latas e robôs autônomos para empilhar paletes e caixas, a fabricante de bebidas registra aumento de 30% na velocidade de envase em suas linhas de produção. Para ampliar a atuação na região Centro-Oeste, a Ambev anunciou em abril um investimento de R$ 150 milhões para expansão da fábrica de Anápolis, em Goiás. O aporte será para ampliar a capacidade de produção de rótulos premium de cerveja, como Spaten, Corona, Stella Artois e Original. Desde o ano passado, a cervejaria vem investindo mais de R$ 1 bilhão nas suas operações ao redor do Brasil, em estados como Maranhão, Bahia, Ceará, Pernambuco, Piauí, Goiás e Paraná.

“Teremos uma capacidade de produção de 60 mil garrafas de vidro por hora, nos tamanhos de 300ml, 600ml e 1 litro. Isso só seria possível com tecnologias de ponta para entregar bons produtos em tempo recorde”, afirmou a fabricante, em nota.

TREINAMENTO

A expansão, segundo a empresa, acompanha um rígido cumprimento de segurança trabalhista. “Todos os colaboradores que atuam diretamente com equipamentos robóticos, seja na operação ou manutenção, recebem capacitação profissional específica”, disse a Ambev. “Além disso, o time operacional é instruído sobre conceitos gerais sobre mecânica robótica. Para os especialistas em manutenção, o treinamento robótico é feito com o time técnico dos grandes fabricantes”.

Apesar da evolução e do custo dos robôs — com preços que ultrapassam US$ 1 milhão —, o CEO da Kuka no Brasil destaca que a maior demanda das indústrias e empresas atualmente está na inovação e na conectividade dos softwares. Antes da instalação das máquinas, por exemplo, há sistemas que simulam seu funcionamento para evitar que possíveis mudanças sejam feitas antes que os robôs sejam levados ao local de trabalho. “Os robôs foram convertidos em uma espécie de commodity. A indústria quer produtos digitais, conectividade, gêmeos digitais e sistemas de predição”, afirmou.

Lie Pablo, professor de projetos de automação industrial do Insper, explica que projetos robóticos incluem três pilares que precisam funcionar harmonicamente para o sucesso de um negócio:
a parte mecânica,
a eletrônica,
e a de software, que conta com segredos industriais de cada fabricante de robô.

“Há empresas que possuem soluções específicas para soldas e outras que conseguem prever riscos em robôs colaborativos. Há muita matemática e física para o desenvolvimento desses sistemas.”

A Ambev corrobora a afirmação do especialista. Para a empresa, a maior dificuldade para adoção dos robôs na fábrica é sua integração. “Nosso desafio é sistematizar para que a tecnologia trabalhe todo o seu potencial com segurança. É importante também manter a manutenção regular do maquinário com suporte técnico especializado”, disse a cervejaria.

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País está estagnado em robótica

Embora a indústria estrangeira enxergue o Brasil como um potencial mercado para a importação, a Federação Internacional de Robôs (IFR, na sigla em inglês) aponta que a densidade desse tipo de máquina está estagnada desde 2020 no País, quando a Covid-19 se disseminou pelo território nacional.

Dados levantados pela entidade revelam que o número de máquinas industriais por 10 mil trabalhadores foi de 13 para 16 entre 2019 e 2020.
Em 2021 e 2022, no entanto, esse índice se manteve igual.
Para efeito de comparação, a Argentina deu um salto de 18 para 25 em sua densidade de robôs por trabalhadores no acumulado do período de 2019 a 2022.

Quinta maior economia do mundo pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a Índia é considerada o maior mercado entre os países emergentes.

•  Em 2018, o país sul-asiático registrou crescimento de 39% em sua densidade, em relação a 2017.

Segundo a IFR, a estagnação tecnológica no ambiente fabril brasileiro se deve à crise econômica vivida pelo País e, mais recentemente, à falta de componentes eletrônicos no setor automobilístico, que afeta o mercado global.

Para mudar esses indicadores, as universidades estão criando projetos para formação de profissionais para as áreas de robótica, matemática, física e programação. Segundo Lie Pablo, professor de projetos de automação industrial do Insper, as próprias empresas estão investindo em parcerias científicas em busca de inovação e jovens qualificados. “Não podemos mais perder talentos para o exterior.” Nem robôs.