23/11/2025 - 11:00
Uma montadora chinesa, a XPeng, atraiu recentemente os olhares do mundo não por seus carros elétricos, mas por uma inusitada e questionável estratégia de marketing para uma de suas unidades: em uma apresentação, cortaram a “pele” de um robô humanoide visando mostrar às pessoas que ele não era feito de carne e osso.
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A máquina, chamada Iron, apresentou movimentos suaves e precisos ao caminhar, mas o lançamento da divisão de robótica da companhia foi recebido com ceticismo pelo público especializado, gerando uma espécie de “teste de Turing reverso”, que viralizou nas redes sociais.
O tal teste avalia se uma máquina consegue se passar por um humano. A impressão gerada é que o protótipo não era a versão mais avançada, e sim um modelo para ter efeito midiático.
Surfando na onda da desconfiança, que é forte nestes tempos de IA e da manipulação de imagens, veículos internacionais e o público das redes miraram outra empresa chinesa de robôs, a UBTech. Na mesma semana da exibição da XPeng, a companhia compartilhou um vídeo de seu exército de máquinas realizando coreografias sincronizadas em um galpão.
As cenas envolvem a primeira remessa do Walker S2, robô capaz de operar 24 horas por dia em linhas de produção, inspeção e logística. A internet não demorou a reagir.
“Veja os reflexos neste robô e depois compare-os com os que estão atrás dele. O robô à frente é real – tudo atrás dele é falso. É computação gráfica”, acusou Brett Adcock, fundador da Figure, empresa norte-americana de robótica.
A UBTech rebateu as críticas ao postar uma foto do mesmo galpão repleto de máquinas, mas desta vez com a presença de um grande grupo de funcionários.
Suspeitas à parte, não é segredo que a China se tornou referência no assunto.
Nos últimos dez anos, a participação global do país nas instalações de robôs industriais aumentou de cerca de um quinto para mais da metade da demanda mundial total. Além do foco na indústria, a nação asiática também se tornou a principal proponente dos “robôs utilitários” (ou robôs de utilidade), como aqueles que podem ser vistos no YouTube preparando um carbonara.
De planos para “fábricas 24h” automatizadas, a pequenos bares com “funcionários-robô”, o país deve investir mais de US$ 138 bi (quase R$ 1 trilhão) no setor nos próximos 20 anos, segundo a Federação Internacional de Robótica (IFR).
“A China tem essa vantagem, pois toda uma cultura está vibrando no pensamento de desenvolver tecnologia, aumentar produção, reduzir custos. É um cenário muito diferente do resto do mundo. Não há comparação”, explica Joel Ramos, professor de eletrônica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ramos é o criador do primeiro robô humanoide do Brasil, o 14-Bis. Desde 2020, o professor é responsável pelo processo de desenvolvimento da máquina, de ponta a ponta, da construção ao algoritmo. O 14-Bis está em sua sexta versão e traz um diferencial: é sustentável, já que é operavel por meio de energia solar. “O 14-Bis é funcional, conta com inteligência artificial e é o único no Brasil com desempenho minimamente comparável a robôs internacionais”, explica.

Atualmente, Ramos trabalha em um projeto que utiliza o braço do 14-Bis para realizar detecção e tradução de Libras em tempo real, mas afirmou que outras funcionalidades serão descobertas após experimentação e com mais investimentos. “Dou aula para crianças e a interação delas com o 14-Bis é muito motivadora. Acredito que o Brasil tem um potencial enorme para aplicações na área da educação pública e privada”, completa.
Dados da consultoria norte-americana ABI Research, relatados em julho, apontam que, embora hoje a adoção dos robôs humanoides ainda seja muito limitada, o mercado pode chegar a cerca de US$ 6,5 bilhões no mundo até o fim da década. O crescimento deve acelerar com mais intensidade a partir de 2027.
Na corrida atual dentro desse segmento, fora os chineses, empresas dos Estados Unidos e da Rússia também procurar chamar atenção para suas novidades. Nem sempre com sucesso. Recentemente, os russos fizeram uma apresentação que acabou minando a própria credibilidade na área. Aidol, o primeiro robô humanoide do país, sofreu uma queda digna das famosas “cassetadas”.
O autômato precisou ser levantado pelo CEO da empresa, Vladimir Vitukhin, em frente ao público que acompanhava a exibição da máquina em Moscou.
O executivo afirmou que o robô tem 70% de seus componentes de origem russa – como a criticar a indústria de seu país. Ele disse esperar que erros desse tipo “se transformem em experiência”. Empresas dos Estados que atuam nesse segmento, por sua vez, terceirizam peças e componentes eletrônicos diretamente da concorrência chinesa.
Isso não quer dizer que as companhias norte-americanas escapem das críticas do público que gosta de acompanhar as novidades da robótica. A 1X Technologies, que tem sede na Califórnia, mas tem raízes norueguesas, buscou mostrar que inovou não só na aplicação, como também no marketing.

Apresentado como um robô doméstico que lava, passa e cuida do cachorro, o Neo, a máquina humanoide, parece divino, à primeira vista. Era a imagem que queriam passar do modelo, equipado com IA e colocado à venda por US$ 20 mil – e com entrega em 2026 somente nos Estados Unidos – ou oferecido em serviço de aluguel, a partir de US$ 499 mensais, em opção a ser disponibilizada posteriormente.
O “detalhe”, que não ficou claro no vídeo de quase dez minutos que a companhia divulgou sobre o artefato, é que o sucesso de Neo depende de uma pessoa que controla as tarefas usando um dispositivo de realidade virtual. Ou seja, o robô é teleoperado. Quem pagar para ter o robô em casa, terá de usar um headset para ensiná-lo a fazer as coisas.
