12/06/2002 - 7:00
Antonio Ruy Freire, presidente da Roche Vitaminas para a América Latina, tem o hábito de manter a porta de sua sala sempre aberta. Quem quiser entra sem ser anunciado. E muita gente tem entrado nos últimos meses. São executivos graduados que se apresentam ao chefe sempre com o mesmo semblante de preocupação e a mesma pergunta: ?E, então, novidades?? Eles buscam informações sobre o futuro da divisão de vitaminas, que registrou vendas de US$ 2,2 bilhões em 2001 e não fará mais parte do grupo Roche até o final do ano. Ao se desfazer da Roche Vitaminas, a controladora suíça passaria a se concentrar na sua área farmacêutica, que tem crescido menos do que o esperado ultimamente. As vendas de medicamentos da Roche subiram 5% no primeiro trimestre, contra médias de 8% a 10% obtidas pelo setor. Freire, que está de volta ao Brasil depois de 16 anos no exterior, responde aos colegas em inglês: ?Relax and enjoy it? (relaxe e aproveite). Nem ele sabe direito o que vai ser feito da sua unidade. Existem três alternativas: venda total, venda parcial ou oferta pública em bolsa. ?Por enquanto, temos que tocar a vida normalmente?, diz.
E põe normalmente nisso. A empresa está construindo uma nova fábrica de pré-misturas nutricionais em São Paulo. Sim, mais uma unidade de produção de vitaminas, justamente da divisão que o grupo está abrindo mão. A nova planta terá capacidade para produzir até 6 mil toneladas ao ano ? cinco vezes mais do que a atual, que já tem 20 anos de uso e está tecnologicamente
defasada. As obras consumirão US$ 6 milhões e ficarão prontas em dezembro. Na América Latina, a Roche Vitaminas fatura cerca de US$ 350 milhões ao ano. Só no Brasil, onde as vendas giram em torno de US$ 65 milhões, são mais de 250 clientes: Kellog?s, Parmalat, Nestlé, Natura, Adria. Eles compram da companhia as misturas vitamínicas posteriormente adicionadas a biscoitos, leites, sucos e até cosméticos. É um mercado que deve aumentar entre 5% e 8% este ano.
Mas por que investir tanto numa divisão que em breve vai virar fumaça dentro grupo? ?Para conseguir o melhor preço possível pelo negócio. Se pararmos, vamos valer menos?, responde Freire. Não é só isso. Há algum tempo a indústria farmacêutica vem abandonando a sua raiz química para apostar no desenvolvimento de novas drogas a partir da biotecnologia e da genética. Isso pede investimentos astronômicos e de alto risco. Ao se livrar da sua divisão de vitaminas, a Roche quer forrar o cofre e ficar melhor preparada para um negócio mais promissor. ?A disputa nesse campo já é feroz. Quem tem mais dinheiro para gastar com pesquisas leva vantagem?, diz Marcos Macedo, da AtKearney e analista do setor.
No mercado corre a informação de que a DSM NV, segunda maior fabricante de produtos químicos da Holanda, é a grande interessada na Roche Vitaminas. Diz-se que empresa vale uma vez e meia a sua receita, ou seja, US$ 5,5 bilhões hoje. A definição sairá até dezembro.