13/07/2004 - 7:00
Em meados de 1954 a economia mundial iniciava um período de crescimento que duraria vinte anos, até a crise do petróleo de 1973. O Brasil, mergulhado em profunda tensão política, ainda não sabia que estava prestes a viver um de seus momentos mais dramáticos, com o suicídio de Getúlio Vargas, em agosto. Em Memphis, no Estado do Tennessee, um jovem de 19 anos, Elvis Aaron Presley, preparava-se para fazer história. Em 5 de julho daquele ano, gravou uma música que fugia dos padrões da época. That?s all Right (Mama) misturava o modo country de tocar com a nota sustentada do blues para contar a história de um garoto que deixava a casa dos pais em busca de um amor.
A soma dos dois estilos, o country e o blues, resultou no rock?n roll. E o mundo nunca mais foi o mesmo. São 50 anos que transformaram nossas vidas. O garoto branco que cantava e dançava como um negro, fez de sua música um fenômeno. Ela mudou o comportamento dos jovens, fez nascer uma indústria e criou um
novo modo de consumir. ?O jovem ganhou importância na sociedade com o surgimento do rock?, diz Ana Barbara Pederiva, doutora em antropologia pela PUC-SP, professora da Unicsul e autora do livro Jovem Guarda ? Cronistas Sentimentais da Juventude, a respeito das
tardes de domingo de Roberto e Erasmo.
O rock transformou a forma dos jovens pensarem e agirem. Antes da década de 50 eles usavam as mesmas roupas e consumiam os mesmos produtos que os pais. O rock abriu as portas para um novo mundo. Sim, os jovens tinham identidade própria, queriam trajes diferentes, não eram mais adultos em miniaturas. Hoje, isso pode até soar óbvio ? mas era preciso que um movimento cultural acelerasse as mudanças. ?As empresas perceberam esta explosão e começaram a criar produtos voltados para este público?, diz Ana Barbara. Hoje, essa turma inflada pela dança frenética de Elvis, e depois pelos Beatles e os Rolling Stones, movimenta US$ 155 bilhões por ano nos Estados Unidos. No Brasil, o poder de consumo da
moçada chega a R$ 100 bilhões anuais. Além de criar um novo comportamento, o rock mudou os padrões da indústria fonográfica fazendo os contratos passarem
da casa dos milhares para os milhões num piscar de olhos. Mitos como os Beatles venderam mais de 100 milhões de cópias só nos EUA.
Até hoje, a criação do rock é contestada por alguns historiadores. Há quem diga que surgiu pelas mãos dos negros americanos embalados pelo rhythm and blues. Outros dizem que Bill Halley e seus cometas, com Rock Around the Clock e Shake, foram os precursores do gênero musical. Mas em um ponto todos concordam: Elvis é o rei do rock. Os marqueteiros, os profissionais especializados em vendas, deveriam agradecê-lo pela revolução do consumo.