12/07/2010 - 4:08
O cineasta franco-polonês Roman Polanski é um artista complexo, sedutor e frágil, ganhador de um Oscar em uma obra não conformista, com uma vida tumultuada e repleta de dramas.
Em fevereiro, do seu chalé em Gstaad onde ele cumpria prisão domiciliar desde o outono, ele se disse “muito contente e honrado” de ter sido considerado o melhor diretor em Berlinale pelo seu thriller de espionagem “Ghost Writer”.
O talentoso diretor, ator, roteirista e produtor que completa 77 anos no dia 18 de agosto construiu com mais de 40 longas-metragens uma obra frequentemente tingida de pessimismo, marcada por grandes filmes: “Armadilha do Destino” (1966), “A Dança dos Vampiros” (1967), “O Bebê de Rosemary” (1968), “Chinatown” (1974), “O Inquilino” (1976), “Tess” (1979) ou “O Pianista” (2002).
Nascido em 1933 em Paris de pais poloneses judeus que retornaram à Polônia dois anos antes do início do conflito mundial, Polanski foi marcado por uma infância atrás dos arames farpados do gueto de Cracóvia e a deportação de seus pais para campos de concentração, de onde sua mãe não voltou.
Desde os oito anos de idade, ele sobreviveu na floresta com outras crianças, depois foi abrigado por agricultores e escapou da morte durante a queda de um morteiro.
Foi assim que ele fez seu filme mais pessoal, Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2002: “O Pianista” onde Adrien Brody interpreta um sobrevivente do gueto de Varsóvia.
O filme ganhou três prêmios (Oscar) em 2003, mas Polanski não pôde ir até Hollywood receber os troféus. Ele não coloca os pés em solo americano há mais de trinta anos em razão do pedido de prisão da justiça americana contra ele por ter mantido “relações sexuais ilegais” com uma menor em 1977, e que lhe valeu a ordem de prisão internacional no dia 26 de setembro de 2009, em Zurique.
Graduado no Instituto de Cinema de Lodz (Polônia) em 1959, sua carreira começou em 1962 com o thriller psicológico “A Faca na Água”.
O sucesso de “Repulsa ao Sexo” (1965), onde Catherine Deneuve interpreta uma mulher paranóica, abriu-lhe as portas de Hollywood.
A aventura americana durou dez anos, cheia de alegrias – o casamento com a atriz Sharon Tate e o sucesso internacional – e pesadelos: o assassinato monstruoso de sua esposa, grávida de oito meses, em 1969, por satanistas encorajados por Charles Manson.
Oito anos mais tarde, Polanski, que levava uma vida agitada, encontrava-se preso na mesma prisão dos assassinos de sua mulher. Ele fora acusado de ter tido relações sexuais com uma menor de 13 anos, Samantha Geimer, durante uma sessão de fotos na casa de campo de Jack Nicholson. Ela testemunhou mais tarde declarando-se estar sob influência de drogas e álcool.
O cineasta contra-argumentou; ela parecia mais velha. E, segundo depoimento posterior, o juiz encarregado do inquérito pensava especialmente em sua publicidade pessoal. Liberado após algumas semanas, mas ameaçado de voltar para trás das grades, Polanski fugiu dos Estados Unidos.
Mais tarde, ele confiou a um jornalista francês sua atração por “frutos verdes”. “Eu amo as garotas mais novas, primeiro porque elas são mais bonitas, evidentemente, mas sobretudo porque elas satisfazem meu desejo de pureza e de romantismo”.
Naturalizado francês em 1976, ele se instalou em Paris e rodou menos filmes, percorrendo um percurso acidentado entre o sucesso (“Tess” em 1979), o fracasso (“Piratas” em 1984) ou a distração eurótica-triste (“Lua de Fel” em 1992, junto de sua esposa, Emmanuelle Seigner).
“Aos olhos de muitas pessoas, passo por uma espécie de gnomo e de depravado, mas meus amigos – e as mulheres da minha vida – sabem em que devem acreditar”, escreveu Polanski em 1984, em sua autobiografia, intitulada “Roman”.
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