07/07/2001 - 7:00
Enquanto o governo acompanha com lupa o resultado da balança comercial, as contas externas escondem um rombo muito maior: o déficit dos fretes internacionais, que no ano passado foi de US$ 3,3 bilhões e até maio deste ano já é de US$ 1,2 bilhão. O transporte divide com a remessa de lucros e dividendos o segundo lugar no ranking de despesas da balança de serviços. ?A marinha mercante brasileira não existe?, diz o economista Antônio Corrêa de Lacerda, especialista em contas externas. Os números são contundentes. A participação de navios brasileiros no transporte de cargas do comércio exterior caiu de 30% para cerca de 3% desde o fim dos anos 70. Dos US$ 6 bilhões anuais em transações marítimas, cerca de US$ 200 milhões ficam com empresas de bandeira exclusivamente brasileira, segundo dados do sindicato das empresas de navegação. O resto é levado pelos estrangeiros, que têm custos 40% menores. ?Uma empresa brasileira tem cinco ou seis navios, enquanto uma estrangeira tem uma centena?, diz Severino Almeida, do sindicato dos oficiais de marinha mercante.
Para um País como o Brasil, que precisa desesperadamente de dólares e faz 94% de seu comércio exterior por via marítima, é uma situação muito ruim. ?Se o governo cumprir a promessa de aumentar as exportações até chegar a US$ 100 bilhões, o déficit será muito maior?, diz Cláudio Décourt, vice-presidente do sindicato dos armadores. Ou seja: os dólares que entram por um lado vão sair por outro. E, na medida em que os navios são aposentados, as empresas brasileiras alugam navios estrangeiros para não perder mercado, mandando mais divisas para fora.
É unanimidade no setor que sem investimentos a navegação de longa distância no Brasil está fadada a acabar. Os recursos para isso viriam do Fundo de Marinha Mercante, que tem cerca de R$ 400 milhões para financiar a construção de embarcações, mas o dinheiro está contingenciado pelo governo. ?Na prática, não aconteceu nada. A prioridade ao setor é zero?, diz Hugo Figueiredo, presidente da Norsul. A saída para muitas companhias foi ceder à tentação do capital internacional. É o caso da Aliança Navegação e Logística, uma das líderes do setor, com cerca de dez navios para transporte de longo curso. A empresa foi comprada pela alemã Hamburg-Sud em 1998, o que possibilitou a operação em sinergia com outras companhias do grupo e, conseqüentemente, custos menores. ?É muito difícil se manter sozinha no mercado?, diz Arsênio Nóbrega, presidente da companhia.