Quase ninguém sabe, mas boa parte do crescimento econômico que o Brasil está experimentando este ano nasce nas instalações de uma indústria de Santa Bárbara D’Oeste, interior paulista. É de lá que saem equipamentos conhecidos como tornos mecânicos, aplicados na fabricação de máquinas e ferramentas de nove entre dez ramos industriais. Trata-se da Romi, fabricante do lendário Romi-Isetta, da década de 50, considerado como o primeiro veículo genuinamente brasileiro. A companhia, de carona com a arrancada da economia, botou gás em suas sete fábricas para ampliar as vendas. Indústrias de setores como autopeças, petroquímica e de papel, animadas com as boas notícias, estão enchendo os departamentos da empresa com pedidos. Resultado: o faturamento deverá saltar, em 2000, para R$ 190 milhões, 30% a mais do que em 1999. ?Nós somos os líderes?, comemora o presidente do Conselho Consultivo, Carlos Chiti, 86 anos e co-fundador da empresa. Hoje, a Romi é uma das dez maiores fabricantes de tornos do mundo.

Para alavancar os negócios, a companhia, que acaba de completar 70 anos de atividade, reestruturou suas operações de 1998 para cá. A mexida não aconteceu à toa. Foi uma resposta a dois anos de dificuldades. O primeiro susto veio com a crise na Ásia, que bateu aqui, levando de roldão qualquer esperança de recuperação econômica. ?Sem crescimento, a área de bens de capital ficou parada?, desabafa o presidente Américo Emílio Romi Neto. No ano passado, o baque veio a bordo da mudança na política cambial. O endividamento da companhia na época, na casa dos US$ 40 milhões, disparou, comprometendo 27% do patrimônio líquido. ?De um dia para o outro, nossa dívida quase duplicou?, conta Romi Neto. Em 1998, o prejuízo foi de R$ 1 milhão e, em 1999, subiu para R$ 9 milhões.

Apesar das turbulências, a diretoria botou a mão no bolso: modernizou a fábrica, recauchutou a linha de produção e aperfeiçoou o sistema de distribuição. Até então, a média anual de investimento dos anos 90 era de US$ 4 milhões. Nos últimos dois anos, o volume aplicado foi superior a US$ 16 milhões. Ganhou ênfase ainda a redução de custos. Com a contratação da Oracle, processos administrativos e produtivos se informatizaram. ?As máquinas têm hoje capacidade de produção quatro vezes maior do que alguns anos atrás?, conta Chiti. Todas essas medidas mostraram-se corretas. Os efeitos apareceram no ganho de produtividade, na faixa de 5%, na volta dos clientes e na redução do nível de endividamento, que caiu para US$ 25 milhões.

Os negócios se expandiram com vigor não só pelo País. As exportações, que no começo dos anos 90 representaram menos de 15% da receita, deverão responder, em dois anos, por 40%. ?Começamos lentamente, mas queremos ganhar o mercado externo de forma consistente?, afirma Romi Neto. Em 1999, uma subsidiária foi inaugurada nos Estados Unidos. As vendas para aquele país significam 70% do total exportado pela Romi. Outros mercados são: Europa (20%) e América Latina (10%). No final deste ano, será a vez de abrir uma subsidiária na Alemanha. Para janeiro está prevista a instalação de dois escritórios ? um na Oceania e outro na Ásia. Na semana passada, a empresa inaugurou um centro de tecnologia, um espaço de mais de mil metros quadrados que servirá para expor e desenvolver produtos sob encomenda. Mais de R$ 3,5 milhões foram investidos.

Ainda que atuando com o que há de mais moderno no setor de bens de capital, a Romi segue com uma gestão de estilo familiar. Os quatro principais acionistas ? três filhos e um enteado (o senhor Chiti) do fundador Américo Emílio Romi ? ocupam cadeiras num Conselho Consultivo, que participa dos assuntos estratégicos da companhia. ?Dou minha contribuição com idéias, mas quem decide são os mais novos?, diz Chiti. Até hoje, ele dá expediente diário no escritório que da capital paulista. ?Sempre trabalhei duro?. A dedicação explica, em parte, porque a família que criou a Romi-Isetta manteve abertas as portas da fábrica mesmo depois de encerrar a produção do exótico veículo.