Rondonópolis, no sul do Mato Grosso, está longe do padrão brasileiro de uma cidade média do interior. As plantações de soja e de algodão convivem com multinacionais, universidades, muitos carros importados e tecnologia de ponta no rebanho bovino. No dia-a-dia, isso se reflete em uma economia que registrou o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) em expansão do Brasil. Segundo o IBGE, entre 1975 e 1996 a cidade cresceu 6,4% ao ano e a renda per capita, de R$ 6.667,00, é 51% superior à do Estado e 15% maior do que a média nacional. Em quatro anos, a arrecadação de ICMS cresceu 100%. São indicadores viçosos em uma cidade com 49 anos e apenas 150 mil habitantes. ?É um dos melhores lugares para o investimento agroindustrial?, diz Blairo Maggi, o maior produtor de soja do município, que concentra 40% da produção do Mato Grosso. Este ano, seu grupo deve faturar US$ 500 milhões.

Mas hoje, a grande vedete da cidade é a carne bovina. Rondonópolis possui um rebanho de 270 mil cabeças e a maior produção de leite e gado de corte do Estado. A Fazenda Paulicéia, uma das maiores da região, é um exemplo dessa proseridade. Foi lá que nasceu o maior reprodutor premiado da raça nelore, o panagpur. O touro tem 12 anos e mais de 50 mil filhos, graças à tecnologia high-tech de transferência de embriões desenvolvida na fazenda. ?A genética produz um gado com carne mais saborosa e barata?, assegura Francisco Olavo de Castro, um dos sócios. A melhoria dos rebanhos tem sido valorizada pelos compradores internacionais. Só no ano passado, o Brasil ampliou suas exportações de carne em US$ 2 bilhões. ?Nossa carne tem espaço por ser a única no mundo sem hormônios?, afirma o pecuarista. Em abril, sua fazenda comanda em Brasília o primeiro leilão virtual de embriões produzidos por fertilização in vitro, numa parceria com a Bio Biotecnologia em Reprodução Animal e as agropecuárias Novo Horizonte e Água Doce. A expectativa é que um embrião possa ser vendido por mais de R$ 50 mil.

 

O boom agropecuário refletiu-se rapidamente na atividade comercial da cidade, dos ramos de automóveis e máquinas ao de eventos. Roberto Groto, gerente de vendas da Mitsubishi, despacha da loja 12 carros por mês, um desempenho fenomenal para o porte da cidade. O preço mínimo de cada veículo é de R$ 56 mil, mas a vedete, a Pajero, não sai por menos de R$ 100 mil. ?Vendo 90% à vista e nunca houve inadimplência?, conta. A venda de maquinaria e implementos agrícolas atraiu para a cidade uma fabricante alemã, a Frankhauser, disposta a investir
R$ 12 milhões. E os promotores do agronegócio já descobriram a região. Os organizadores da exposição de Ribeirão Preto (SP) decidiram trazer para Rondonópolis o tradicional Agrishow. ?Um terço do que é vendido na feira de Ribeirão vem para o Cerrado?, conta Paulo Beer, presidente do Sindicato Rural de Rondonópolis.

Rumo à indústria. O prefeito Percival Santos Muniz registra a cada mês recorde de arrecadação com ICMS e o orçamento mensal de R$ 100 milhões alimenta os programas públicos. A estimativa de criação de novas indústrias é animadora. As duas maiores tradings da área de grãos, Bunge e ADM, ampliam suas atividades na região. ?Depois da agricultura, vamos dar o salto em direção à industrialização?, prega Percival. Nos últimos dois anos a cidade recebeu R$ 530 milhões em investimentos de novas empresas privadas e teve mais duas mil vagas no mercado de trabalho. De olho nos incentivos fiscais ? doação de terrenos, isenção de ISS ?, muitas empresas procuram áreas no município. O mais recente setor que pretende juntar-se às fiações, tecelagens, beneficiadoras de soja e frigoríficos é o das transportadoras. O motivo foi a construção, a 60 quilômetros de Rondonópolis, de um terminal de cargas da Ferronorte, que liga o Centro-Oeste e a Amazônia ao Sul do Brasil. Rondonópolis é hoje o principal entroncamento rodoferroviário do Cerrado, a grande fronteira agrícola brasileira.