27/04/2019 - 11:30
A grande concentração de bicicletas e patinetes na ciclovia da Avenida Faria Lima, na zona oeste de São Paulo, tem chamado a atenção de criminosos para a área. As regiões de Itaim Bibi e Pinheiros registraram aumento de 76% no número de furtos e roubos de bicicletas no ano passado em relação a 2017. As abordagens costumam envolver de três a nove criminosos.
Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP), considerando o 14.° e o 15.° Distritos Policiais, que atendem a área, foram registrados 401 boletins de ocorrência no ano passado. Em 2017, foram 228 casos relatados à polícia.
Para coibir a alta na criminalidade, ontem a Guarda Civil Metropolitana (GCM) começou a utilizar 12 patinetes para o patrulhamento nas Avenidas Faria Lima e Paulista, além do Elevado João Goulart (Minhocão).
No caso de roubo na ciclovia da Faria Lima, o modo de atuação dos criminosos é semelhante: em alguns trechos da avenida, ladrões surgem na frente do ciclista e, em conjunto, puxam a bicicleta, podendo chegar a derrubar o usuário.
Na mesma ciclovia, também há relatos de pessoas em deslocamento nos patinetes vítimas de ladrões, que empurram o usuário, puxam o patinete e utilizam o veículo para outros roubos e furtos. Ainda não há dados oficiais de roubos de patinetes na SSP, mas usuários dizem que têm se tornado frequentes.
O trecho próximo ao Instituto Tomie Ohtake é um dos mais visados. Segundo relatos de ciclistas e trabalhadores da região, isso se deve à iluminação deficitária e ao grande volume de arbustos, que impedem a visibilidade. As abordagens ocorrem principalmente no fim da tarde, após 17h30.
O Estado de S. Paulo conversou com vítimas de tentativas de roubo que foram atacadas às 7 horas. Foi o que aconteceu com o advogado Roberto Kanitz, de 36 anos, vítima de duas tentativas de roubo na ciclovia da Faria Lima no ano passado, ambas no trecho próximo ao Instituto Tomie Ohtake por volta das 7h30. Ele percorre a ciclovia todos os dias da Praça Pan-Americana até a Avenida Rebouças, onde trabalha.
“Vi quatro meninos, com idades entre 10 e 15 anos, andando na minha direção. Eles fecharam meu caminho, tentando me cercar na frente da bicicleta, e pensei: ‘Não deve ser coisa boa’. Então fugi para a rua. Um deles ainda veio correndo atrás de mim, mas consegui fugir”, diz.
Segundo ele, muitas tentativas e roubos ocorrem dessa forma, de acordo com relatos coletados de outras vítimas. Em fevereiro, “cansado de só reclamar”, Kanitz criou um grupo no WhatsApp com representantes da sociedade civil, empresas de compartilhamento de bicicleta e patinetes, e associações de moradores com foco na segurança da ciclovia da Faria Lima.
Ali, relatos começaram a pipocar. E uma reunião ocorreu na semana passada com o prefeito regional de Pinheiros para a cobrança de iniciativas de melhoria da segurança na via segregada para ciclistas.
Alvos.
O medo é tão grande que a psicóloga Lúcia Toledo, de 50 anos, deixou de usar a bicicleta elétrica na ciclovia da Faria Lima após sofrer três tentativas de roubo no local, todas no fim da tarde. “As três foram bem parecidas. Eles aparecem do nada bem na pista e tentam te derrubar da bicicleta”, conta. Lúcia foi abordada por duplas e trios nas duas ocasiões.
Desde setembro de 2015, ela utiliza a bike no lugar do carro. Agora, para percorrer diariamente o trecho entre a Praça Pan-Americana e a Vila Olímpia, a ciclista usa bicicletas do sistema de compartilhamento.
“Como hoje a bicicleta elétrica virou um bem desejado, fico receosa. É violento, no sentido de cair e se machucar. Tomei uma atitude preventiva de deixar de usar a minha bicicleta para o dano ser menor”, afirma. ‘É uma pena. Vendi meu carro para poder circular de bike, convivo com a cidade de outro jeito e tem essa coisa chata”, diz.
Gerente de uma loja e oficina de bicicletas na Avenida Faria Lima, Tomás Gumiel conta que no verão, com o bairro cheio de frequentadores nos bares de Pinheiros, os casos se multiplicaram e chamaram a atenção. “Mulher e senhor acabam sendo as vítimas mais buscadas. Esses grupos de ladrões procuram primeiro as bicicletas elétricas. É o foco deles. Depois roubam as bicicletas tradicionais e tiram os usuários de cima dos patinetes”, conta.
A Aliança Bike, associação do setor, defende que seja intensificada a ronda por policiais ciclistas, “assim como a investigação relativa à interceptação para desmantelar grupos e pessoas que recebem e revendem bicicletas originárias de crimes”.
A Aliança orienta que os ciclistas anotem o número de série de suas bicicletas, “que é hoje a maneira mais eficaz de recuperação de uma bicicleta roubada por meio do cadastro público no site da Secretaria da Segurança”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.