Carolina Guerra

afp photo

Gênio do mal
Dragan Mikic, 36 anos, é apontado como o chefe do grupo criminoso internacional

Os cidadãos de Cannes, na Cote d’Azur, estão habituados a cenas cinematográficas, principalmente durante o Festival de Cinema que acontece na charmosa cidade todos os anos. Mas o que eles viram, no último dia 15 de julho, foi um roteiro que passa longe da ficção. Três homens vestindo camisas floridas e máscaras entraram na loja da joalheria francesa Cartier, mostraram suas armas e granadas e pediram com calma: “Passem as joias!”

Em um minuto, apenas um minuto, encheram as bolsas com peças avaliadas em US$ 20 milhões e fugiram na garupa de motociclistas que os esperavam na porta. Por mais inusitada que pareça, essa cena, de certa forma, virou clichê. O mesmo grupo já atuou em Paris, Biarritz, Mônaco, Lausanne, Tóquio e até em Dubai, nos Emirados Árabes.

Em comum, todos os roubos aconteceram em joalherias, foram bem planejados e contaram com fugas monumentais. Por ser especialista na arte de surrupiar diamantes, essa organização recebeu o nome de Pink Panthers (Pantera Cor-de-Rosa), em referência ao filme estrelado por Peter Sellers, em 1963, que interpreta o atrapalhado inspetor Clouseau, cuja missão é investigar o roubo de um diamante chamado Pantera Cor-de-Rosa.

Dados da Interpol mostram que se trata de uma gangue com pelo menos 200 integrantes responsáveis por mais de 90 roubos em 19 países desde 1999. Estima-se que já tenham levado mais de 100 milhões de euros. “Um grupo foi designado especialmente para desmantelar essa perigosa organização criminosa”, afirmou a assessoria da polícia internacional à DINHEIRO.

Como é a ação dos bandidos

Esse grupo inclui detetives de 16 países vítimas de assaltos da gangue. De acordo com as investigações, os integrantes da organização são exmilitares que migraram para o mundo do crime. A polícia acredita que os Pink Panthers sejam, em sua maioria, ex-soldados que lutaram na guerra dos Bálcãs na década de 90.

Eles também falam vários idiomas e viajam com passaportes verdadeiros de outras pessoas. No último dia 16 de maio, a polícia prendeu dois homens, Zoran Kostic, 39 anos e Nikola Ivanovic, 36, no bairro de Pigalle, subúrbio de Paris. A polícia acredita que Kostic é um dos líderes da organização e é acusado de ter participado de mais de 20 assaltos.

Com eles, foram encontrados dois relógios da grife Patek Philippe. Apesar de não confessarem todos os crimes, eles admitiram ter participado de um roubo em Lausanne, na Suíça. Nesse caso, ocorrido no último dia 5 de maio, dez dias antes da prisão, o assalto foi à joalheria L’Emeraude e demorou somente um minuto e 47 segundos. “O que fizemos agora, após o ocorrido, foi colocar um guarda na porta”, disse um atendente da joalheria ao jornal local Swiss Info. Em junho, ocorreram mais prisões. Três homens foram capturados quando saíam do cassino de Montecarlo, em Mônaco.

Acredita-se que um deles seja Dragan Mikic, 33 anos, apontado como um dos chefes dos Pink Panthers e que fugiu de uma prisão francesa, em 2005, usando uma escada. No dia anterior, um outro homem foi preso no teto da joalheria Zegg et Cerlati, local em que a gangue supostamente realizaria um novo assalto. Não se sabe qual seria o truque. Os policiais dizem que as táticas dos Pink Panthers variam muito.

 

Diretamente da telona
O nome do grupo foi inspirado na história de A Pantera Cor-de-Rosa, de 1963, na qual Peter Sellers (à esq.) interpreta o inspetor Clouseau

Em Biarritz, na França, por exemplo, pintaram um banco com tinta fresca para evitar testemunhas na hora do assalto. Em Dubai, nos Emirados Árabes, entraram com dois carros pelos corredores de um shop ping center, realizaram o assalto à joalheria londrina Graff e saíram em disparada, deixando uma porta de vidro em estilhaços. O vídeo das câmeras de segurança que registraram o assalto foi parar no site YouTube. A Graff é, aliás, vítima recorrente da organização criminosa. Foi na filial de Tóquio da grife que, em 2004, os mesmos bandidos levaram o colar Comtesse de Vendôme, com 116 diamantes, avaliado em US$ 31,5 milhões.

“Trata-se de uma organização muito famosa. Provavelmente, o grupo é administrado por um núcleo de apenas 15 ou 20 pessoas que contratam ladrões locais para fazer os trabalhos. São pessoas altamente profissionais”, afirma um especialista com experiência em segurança internacional. O fato é que assaltar joalherias está rendendo fama aos Pink Panthers e eles não parecem se importar com isso. Depois que ganharam o apelido, chegaram até mesmo a realizar diversos assaltos trajando camisas cor-de-rosa. Podem ser imunes a alarmes, mas, definitivamente, não são contra a vaidade.

Tentativa frustrada: um homem foi preso no teto da joalheria Zegg et Cerlati (acima), em Mônaco. A polícia acredita que ela seria assaltada pela gangue

Frieza de profissionais: três homens vestindo camisas floridas e armados com revólveres e granadas roubaram US$ 20 milhões da Cartier, em Cannes, e fugiram em motos