“Quando a justiça climática inclui os direitos das mulheres que fazem moda”. A chamada no site oficial do Instituto Febre vai além do ‘lugar comum’ ao convocar o debate sobre moda, clima e gênero para soluções mais sustentáveis. Uma das novidades da organização é pela comunicação: a criação do podcast “Delírio! A Moda em Estado de Emergência”, que está em produção. 

“Fala-se muito sobre os impactos climáticos da indústria da moda, mas após anos de debate, o resultado gerado foi o de uma explosão de ‘coleções eco’, mesmo dentro das maiores varejistas da fast fashion, e a formação uma nova rede de blogueiras de moda, porém com o apelo sustentável” comenta Eloisa Artuso, co-fundadora do Instituto Febre.

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Com presença em eventos como o Brasil Eco Fashion Week e apoio a organizações como a Campanha Amazônia de Pé, a organização social critica os efeitos da indústria de vestuário e acessórios: o setor contribuiu com aproximadamente 2,1 bilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa em 2018, o equivalente a 4% de todas as emissões globais, afirma o manifesto. 

“A crise climática é a maior história do nosso tempo e ela afeta mulheres de forma mais grave, principalmente as mulheres em contextos periféricos, racializadas, e as que já estão mais vulneráveis devido ao território onde vivem. É preciso reconhecer que gênero está intimamente ligado ao clima”, explica Eloisa.

Costureiras transformadas

Com o grupo da Febre, se aliaram mulheres trabalhadoras da Ong Costurando Sonhos, de Paraisópolis (MG). Suéli Feio, membro do comitê consultivo da Febre e fundadora da organização, conta que a moda chegou em sua vida como alternativa ao combate da violência doméstica na comunidade onde vivia.

“Antes disso, eu me relacionava com a moda apenas como consumidora. A partir de 2017, percebi que apesar de todos os problemas nesse universo, a moda poderia ser sim uma ferramenta de transformação social”, conta. Suéli também contou para a IstoÉ Dinheiro o próximo passo da iniciativa: em maio, a ong lança a coleção “Amazônia”.

Só em São Paulo, os bairros do Brás, Bom Retiro e Vila Mariana produzem cerca de 63 toneladas por dia de lixo de tecidos. O resíduo é um erro de design e também é o resultado da falta de gestão das sobras, mesmo com a existência da Política Nacional de Resíduos Sólidos, uma legislação específica para este problema”, critica a conselheira da Febre.

Apesar disso, ela acrescenta, estes resíduos podem ser reaproveitados e transformados em novos itens, e esta atividade gera renda e ocupação para muitas mulheres que se utilizam de uma matéria prima já existente. “Mas é importante ressaltar que o montante de resíduo gerado é infinitamente maior do que a mão de obra para reutilizá-lo, e consumidores para comprá-lo”, alerta.