13/05/2024 - 14:40
No último sábado, dia 11, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) emitiram uma nota técnica enfatizando a importância da vacinação para o Estado do Rio Grande do Sul (RS), além de fornecer recomendações sobre a administração dos imunizantes. Há duas semanas, o Estado vivencia uma de suas piores tragédias climáticas, com cerca de 447 municípios atingidos pelas inundações, segundo último boletim divulgado pelo governo do Estado do RS.
Em comunicado, o Ministério da Saúde afirmou que mais de 105 mil doses emergenciais de vacinas deverão ser enviadas à população gaúcha até esta segunda-feira, 13. No dia 5 deste mês, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a pasta também enviou 200 mil doses das vacinas contra tétano, difteria, hepatites A e B, coqueluche, meningite, rotavírus, sarampo, caxumba, rubéola e raiva. Além dessas, o Estado também deve receber as 926 mil doses já previstas na rotina de entrega. Até o momento, não há registro de desabastecimento de vacinas no RS, segundo a pasta.
Conforme as diretrizes estabelecidas pelas entidades médicas, a vacinação deve ser direcionada tanto à população afetada pelas enchentes quanto às equipes de socorro e resgate. Para indivíduos com registro de vacinação, sugere-se apenas a conclusão das doses necessárias para sua faixa etária ou condição de saúde. Por outro lado, aqueles que estão sem carteira vacinal disponível devem ser tratados como não vacinados para os imunizantes particularmente recomendados na nota técnica.
Vale ressaltar que a administração das vacinas não apenas evita o surgimento de doenças, mas desempenha um papel importante na prevenção de surtos, especialmente em locais como abrigos. Isso é particularmente relevante para doenças transmissíveis de pessoa para pessoa, como é o caso da gripe e covid-19.
Vacinas recomendadas para situações de enchente:
– Influenza (gripe) e covid-19: indicada para todas as pessoas com 6 meses de idade ou mais (exceto aquelas com contraindicações). Importante destacar que ambas passam a ter eficácia cerca de duas semanas após a aplicação e, portanto, outros cuidados para mitigar a transmissão desses vírus respiratórios devem ser adotados.
– Tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba): indicada para todas as pessoas entre 12 meses e 59 anos de idade, exceto aquelas com contraindicações para essa vacina.
– Hepatite A: desde 2014, a vacina hepatite A é recomendada pelo PNI para todas as crianças aos 12 meses de idade (até os 5 anos, se ainda não vacinadas). Nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIEs), a vacina está disponível para pacientes imunodeprimidos, seja por doença ou tratamento, e para portadores de doenças crônicas específicas.
Considerando o alto risco de hepatite A no atual cenário do RS, as entidades recomendam, se possível, a vacinação prioritária para os seguintes grupos, suscetíveis ao risco de complicações:
1. Pacientes especiais (hepatotopatas, imunossuprimidos, com doença renal crônica e homens que fazem sexo com outros homens) de qualquer idade, sem registro da vacina hepatite A, ou sem a carteira de vacinação).
2. Adultos com idade entre 18 e 40 anos de idade sem registro da vacina de hepatite A ou sem a carteira de vacinação.
3. Gestantes.
“Pessoas afetadas por desastres naturais e residentes em abrigos onde prevaleçam más condições sanitárias, ou que têm contato sistemático com águas insalubres e potencialmente contaminadas por esgoto, enfrentam um maior risco de contrair hepatite A. Essa doença é transmitida principalmente através do contato com fezes, alimentos e água contaminada. Com um período de incubação longo, que pode variar de 15 a 40 dias, é possível que pessoas mesmo já infectadas pelo vírus sejam protegidas pela primeira dose da vacina”, destacaram as entidades por meio da nota.
– Tétano: adolescentes, adultos e idosos devem receber uma dose de reforço antitetânico se não tiverem sido vacinados contra o tétano nos últimos 5 anos. As vacinas dT (tétano/difteria) ou dTpa (tétano/difteria/coqueluche acelular) podem ser usadas de acordo com as recomendações do PNI.
– Raiva: indicada para pessoas que foram expostas ao risco (após mordida de animal mamífero, inclusive cavalos e gado). Além da vacina, a prevenção pós-exposição pode incluir uso de soro antirrábico heterólogo ou homólogo.
Vacinas especialmente recomendadas a pessoas envolvidas em resgates, profissionais da saúde e socorristas:
Além de todas as vacinas citadas acima, há dois outros tipos de imunizantes que são especificamente indicados para esses voluntários. São elas:
– Hepatite B: a imunização contra a hepatite B é crucial para os profissionais da saúde, bem como para aqueles que podem estar expostos ao contato com fluidos corporais, como bombeiros e militares. É provável que a maioria desses profissionais já tenha recebido essa vacina, pois é uma exigência em muitas áreas. O esquema de vacinação consiste em três doses da vacina administradas em intervalos de 0, 2 e 6 meses.
– Febre tifoide: a vacinação contra febre tifóide é recomendada para socorristas, se disponível, e deve ser aplicada uma dose.
– Leptospirose: na segunda-feira passada, dia 5, a Sociedade Brasileira de Infectologia já havia emitido recomendações para o Rio Grande do Sul. Em colaboração com a Sociedade Gaúcha de Infectologia e a Secretaria da Saúde do Estado, a entidade divulgou nota técnica alertando para a possibilidade de aumento no número de casos de leptospirose na região, destacando as melhores formas de realizar a profilaxia.
A leptospirose é uma doença infecciosa causada pela bactéria do gênero Leptospira, comumente adquirida por meio do contato com água ou solo contaminados pela urina de animais infectados, principalmente ratos. As enchentes, portanto, criam um ambiente propício para a disseminação da doença, aumentando o risco para aqueles expostos às águas contaminadas.
Embora o uso de antimicrobianos não seja recomendado como prática habitual, devendo ser administrado somente após a confirmação da doença, a nota destaca que em situações de alto risco, como exposição contínua a alagamentos e águas contaminadas, com ou sem lesões na pele, o uso desses medicamentos pode ser considerado como medida preventiva.
A principal recomendação das entidades responsáveis pelo documento é o uso de doxiciclina, administrada em dose única para adultos em pós-exposição de alto risco. Para crianças, a dose é calculada com base no peso corporal, com dose máxima estabelecida. Como alternativa, a azitromicina pode ser utilizada nas mesmas condições.