30/07/2025 - 19:55
O ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Rubens Barbosa relativizou o decreto que confirmou o tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros e afirma ver boas notícias no documento assinado pelo presidente Donald Trump nesta quarta-feira, 30. Barbosa avalia que a retirada de principais produtos exportados alivia a pressão sobre a economia brasileira e facilita as negociações com a Casa Branca.
A medida já havia sido anunciada no dia 9 de julho em uma carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) justificando medidas arbitrárias do Supremo Tribunal Federal (STF) e alegando uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Desde então, o governo brasileiro tem tentado negociar uma alternativa, mas os contatos foram ignorados pela Casa Branca.
No documento, Trump afirmou que a medida defende interesses de empresas americanas e acusa o Brasil de tomar ações incomuns, além de atentar contra o direito de liberdade de expressão contra os cidadãos dos EUA.
Para o diplomata, que comandou a embaixada brasileira em Washington entre 1999 e 2004, o decreto foi uma surpresa e trouxe “boas notícias” ao evitar a tarifação sobre parte dos produtos. Ele elogiou a articulação do vice-presidente Geraldo Alckmin, que tomou frente das negociações, mas reforçou a necessidade de avançar as conversas para outros setores.

“As notícias são positivas. Boa parte dos principais produtos que o Brasil exporta ficaram com a taxação mínima de 10%. A Embraer, por exemplo, que seria impactada, o setor do agro é outro exemplo. Eu acho que foi uma surpresa positiva nesse dia tão difícil para a economia e para a política brasileira”, afirmou.
Entre os produtos com a tributação mínima estão o suco de laranja, minérios e os aviões da Embraer. O governo brasileiro já tinha dado sinalizações de que tentaria negociar um acordo para retirar esses produtos da lista da tarifação.
“Teve o trabalho da Embraer, do setor de suco e de outros produtos para que os empresários americanos produzissem uma pressão sobre a Casa Branca para eliminar esses produtos da lista de tarifação”, reforçou Barbosa.
Decreto de Trump brando e brecha para diálogo
No decreto, Trump citou a situação política do Brasil e criticou as medidas tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e as decisões do ministro Alexandre de Moraes. Ao mesmo tempo, o presidente americano criticou as investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e afirmou haver uma “perseguição” ao ex-chefe do Planalto.
Entretanto, o tom do decreto foi mais brando do que prometia Donald Trump em coletivas e conversas com jornalistas. Em uma delas, o chefe da Casa Branca rechaçou qualquer possibilidade de conversar diretamente com o Palácio do Planalto no momento e tinha dado indícios de que manteria a tarifa elevada sobre todos os produtos brasileiros.
Barbosa não vê um enfraquecimento do decreto de Trump e reforça o trabalho do setor privado nas negociações para mitigar os danos da tarifação. Para o diplomata, o decreto ainda abre brechas que facilitam a negociação do Itamaraty para reduzir a tarifa sobre os demais produtos.
“Não vejo [um enfraquecimento do decreto]. Esses produtos que foram isentos são cruciais para a indústria automobilística, para a indústria da construção, por exemplo. Eu acho que ele cuidou do interesse americano”, avalia.
“A carta do começo do mês já previa o início das negociações após a aplicação da tarifa. Para o governo brasileiro ficou mais fácil, porque os produtos mais importantes da pauta foram excluídos da tributação. Eu acho que há uma janela de oportunidade para uma negociação político-diplomático em Washington”, completa.