Um fator político interno, como notícias indicando a possibilidade de o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deixar o governo, fez o real destoar, no fim do dia, do movimento forte de valorização de moedas de seus pares emergentes que vinha acompanhando desde a manhã – o que levou o dólar frente à moeda brasileira a custar R$ 5,22 no piso do dia.

Após os rumores envolvendo a saída do titular da pasta da Saúde, o real se desvalorizou algo em torno de R$ 0,07 e a cotação em relação ao dólar foi em direção à casa dos R$ 5,31, na máxima do dia. No entanto, perto do final da sessão, pesou mais o enfraquecimento da divisa americana no exterior e a cotação encerrou em R$ 5,2926 (-0,65%).

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“Com certeza, esses ruídos políticos internos pesam e acabam, como hoje, impedindo que o real performe melhor que seus pares emergentes. No entanto, o que está dando o rumo da moeda americana em todos os mercados é o que diz respeito à previsibilidade – ou a falta dela – sobre os efeitos da crise advinda do coronavírus”, avaliou Roberto Motta, responsável pela mesa de futuros da Genial Investimentos.

De acordo com ele, enquanto o mercado não tiver clareza de como vai se comportar e de como vai se dar esse processo de achatamento da curva de contágio da pandemia, o dólar vai subir. Tanto que hoje, ressalta o profissional, o movimento foi de enfraquecimento do dólar no mundo, muito ligado a notícias de que o ritmo de contágio ao menos em países europeus havia se reduzido.

Ele lembra que, com esse pano de fundo da crise do coronavírus, que levou à conjuntura de aversão ao risco, o Brasil teve um dos maiores saques da indústria de fundos emergentes em março. “Mas o Banco Central segue dando liquidez ao sistema. O dia em que a moeda brasileira tiver pior do que seus emergentes. a artilharia será maior”, afirma Motta, que notou a influência no câmbio hoje por causa de eventual demissão de Mandetta, mas afirmou que, enquanto tiver uma equipe econômica do nível da que está aí, o mercado consegue ainda isolar outras questões políticas.

No final de semana, o presidente do BC, Roberto Campos Neto disse que a autoridade monetária vai “vender câmbio quando entender que o Brasil está se descolando”. “Se houver disfuncionalidade, aí, sim, podemos vender muito mais reservas”, afirmou o presidente em Live promovida pela XP Investimentos no sábado à noite.

Na avaliação de José Faria Junior, da Wagner Investimentos, não há como afirmar que o pior desta conjuntura já passou. Para ele, o mercado segue comprador de dólares.