Nos finais de semana, a banqueira Kátia Rabello, presidente do Conselho do Banco Rural, adora convidar os amigos para provar seus quitutes. Exímia cozinheira, ela garante que a segunda melhor forma de relaxar da atribulada rotina do mercado financeiro é debruçar-se no fogão. A primeira, para ela, será sempre a dança. Bailarina profissional, Kátia abandonou a carreira em 1999 para assumir a presidência executiva do banco após a trágica morte de sua irmã, Júnia Rabello, que comandou os negócios da família por 20 anos. Hoje com 43 anos, mãe de dois filhos, a dona do maior banco mineiro demonstra-se aliviada por poder voltar a cozinhar e dançar depois de uma traumática virada de ano. Em novembro de 2004, o Rural foi posto no olho do furacão pela onda de saques que chacoalhou as instituições financeiras de pequeno e médio porte na esteira da intervenção do Banco Central no Banco Santos. Assustados com os prejuízos na casa bancária de Edemar Cid Ferreira e com a boataria que tomou conta do mercado, investidores fugiram em massa para os maiores bancos do País, abrindo uma crise de liquidez no restante do setor. Menos de dois meses depois, o Rural perdeu seu fundador, Sabino Corrêa Rabello, falecido em janeiro. Com a morte do pai de Kátia, que então presidia o Conselho do banco, e a situação crítica do mercado, muito se especulou sobre a possível venda do Rural. Os meses, porém, foram passando e o banco, enfim, sobreviveu.

O primeiro trunfo do Rural para superar a crise foi o perfil de sua clientela. ?Captamos boa parte de nossos recursos em empresas de médio porte, que faturam de R$ 2 milhões a R$ 100 milhões por ano. Por isso, os saques feitos pelos especuladores não nos atingiram tanto?, afirma José Roberto Salgado, presidente executivo do banco. Mesmo assim, foi preciso trazer recursos do exterior para tapar o buraco deixado pelos saques. E, nesse momento, a internacionalização do Rural, iniciada nos anos 90, revelou-se uma segunda vantagem. Com agências nos Estados Unidos, em Portugal, na Inglaterra, nas Bahamas, no Uruguai e em Angola, o Rural pôde repatriar US$ 200 milhões de seus cofres estrangeiros na hora do aperto.

Ao contrário de diversos bancos médios, que tiveram de vender suas carteiras de crédito aos gigantes Bradesco e Itaú, o Rural manteve o controle sobre seus empréstimos. Mas teve de reduzir drasticamente o volume de recursos repassados a terceiros. À medida que os empréstimos venciam, o banco renovava apenas 60% dos contratos. ?Tiramos R$ 1,3 bilhão de circulação em 45 dias e reforçamos o caixa?, relembra Salgado.

Depois desta violenta freada, o Rural volta agora a pisar no acelerador. ?Acabamos de registrar o melhor primeiro trimestre da nossa história?, disse Kátia, à DINHEIRO, na filial do banco em Miami. Os US$ 200 milhões resgatados do exterior já retornaram às filiais estrangeiras. E os ativos de crédito, que eram de R$ 4,5 bilhões em setembro de 2004 e foram reduzidos a R$ 3,2 bilhões, chegaram a R$ 3,3 bilhões em abril. Com a calmaria, além de poder cozinhar e dançar, Kátia voltou a acompanhar de perto projetos paralelos. Como o patrocínio ao piloto mineiro Bruno Junqueira na Fórmula Mundial, uma das principais categorias do automobilismo americano. ?Vencido o tsunami, descobri que, se Deus é brasileiro, no Rural Ele é investidor.?