15/04/2022 - 11:37
No dia seguinte ao naufrágio de sua nau capitânia no Mar Negro, a Rússia prometeu nesta sexta-feira (15) intensificar seus bombardeios contra Kiev e o primeiro deles foi contra uma fábrica de mísseis Neptune, com os quais os ucranianos dizem ter afundado o “Moskva”.
“O número e a magnitude dos ataques com mísseis em locais de Kiev aumentarão em resposta a todos os ataques e sabotagens do tipo terrorista realizados em território russo pelo regime nacionalista de Kiev”, anunciou o Ministério da Defesa russo.
Na noite de quinta-feira, uma fábrica de mísseis nos arredores de Kiev foi atingida por um bombardeio russo, verificaram jornalistas da AFP nesta sexta.
Pouco antes, as autoridades russas haviam anunciado a destruição de uma fábrica de mísseis terra-ar perto da capital ucraniana.
A empresa Vizar é uma das fábricas ucranianas que produzem este tipo de projéteis, indica em seu site UkrOboronProm, o órgão estatal que controla as fábricas de armas ucranianas.
A fábrica e o prédio administrativo adjacente, localizado a cerca de 30 km a sudoeste de Kiev, sofreram danos significativos, segundo a AFP.
– “O preço a pagar” –
Um trabalhador, Andrii Sizov, 47, disse à AFP que ouviu “cinco bombardeios”. “Para mim, é o preço a pagar pela destruição do ‘Moskva'”, disse ele.
Até agora, a Rússia disse que o “Moskva” foi danificado pelo fogo na quarta-feira depois que suas próprias munições explodiram. Na quinta-feira naufragou.
Os ucranianos alegaram que um de seus mísseis Neptune, fabricados em casa, atingiu o navio, o que foi um grande revés para os militares russos.
A Rússia também alegou que a Ucrânia bombardeou cidades russas na fronteira, acusações que a Ucrânia nega. Segundo os ucranianos, são os serviços secretos russos que realizam “ataques terroristas” naquela região para alimentar a “histeria antiucraniana” na Rússia.
O Comitê de Investigação da Rússia afirmou que dois helicópteros ucranianos “equipados com armas pesadas” entraram em seu território e dispararam “pelo menos seis tiros em casas residenciais na cidade de Klimovo”, na região de Bryansk. Havia sete feridos, incluindo um bebê.
– “Golpe grande” –
A perda do navio de mísseis de 186 metros de comprimento é um “golpe grande” para a frota russa na região, disse o porta-voz do Pentágono John Kirby, e terá “um efeito” em suas capacidades porque era “uma parte fundamental” do seu contingente.
O navio “garantia cobertura aérea de outros navios durante suas operações, especialmente para o bombardeio da costa e manobras de desembarque”, disse o porta-voz da administração militar de Odessa, Sergei Bratchuk.
O presidente ucraniano Volodimir Zelensky saudou esta operação e comemorou em sua mensagem de vídeo noturna que os ucranianos “mostraram que os navios russos só podem ficar em segundo plano”.
Os reveses da Rússia durante a guerra fazem a CIA temer que o presidente russo, Vladimir Putin, possa recorrer a armas nucleares de baixa intensidade.
Mas, por enquanto, não houve “sinais concretos, como desdobramentos ou medidas militares” que possam agravar as preocupações dos Estados Unidos, disse o diretor da CIA, William Burns.
Desde o início da guerra, Zelensky manteve-se entrincheirado com sua administração no centro da capital, de onde não parou de pedir aos países ocidentais armas pesadas para resistir à ofensiva russa.
“A Rússia trouxe milhares de tanques, peças de artilharia e todos os tipos de armas pesadas para a região, na esperança de simplesmente esmagar nosso exército”, disse o ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba, na quinta-feira.
O presidente dos EUA, Joe Biden, finalmente concordou na quarta-feira com as exigências ucranianas e prometeu uma nova entrega de ajuda militar de 800 milhões de dólares.
– “Queimados”-
No leste da Ucrânia, na região de Donbass, Donetsk foi palco de combates “em toda a linha de frente”, nos quais três pessoas foram mortas e outras sete ficaram feridas, segundo a presidência ucraniana.
Outra área desta região, Luhansk, foi alvo de 24 bombardeios, que provocaram duas mortes e 10 feridos, segundo a mesma fonte.
A procuradoria-geral ucraniana informou nesta sexta-feira que sete civis foram mortos e 27 ficaram feridos na quinta-feira em um ataque atribuído aos russos em um ônibus que retirava pessoas da região de Kharkiv, também no leste.
Na região de Kherson (sul), uma nova troca de prisioneiros russos e ucranianos ocorreu na quinta-feira, informou o exército ucraniano hoje.
A Rússia, cuja grande ofensiva anunciada em Donbass ainda não começou, está tendo problemas para obter o controle total de Mariupol, um porto estratégico no Mar de Azov.
Esta cidade, sitiada por mais de 40 dias pelo exército russo, pode ter o pior saldo de perdas humanas nesta guerra. As autoridades ucranianas temem que haja cerca de 20.000 mortos.
Galina Vasilieva, 78, aponta para um prédio de nove andares completamente queimado. “Olhe para nossos belos prédios! Pessoas queimaram lá dentro”, lamenta esta aposentada enquanto espera na frente de um caminhão de distribuição de ajuda humanitária organizado por separatistas pró-russos.
Esta cidade portuária, que uma equipe da AFP pôde visitar em uma visita de imprensa organizada pelo exército russo, está sob uma chuva de fogo que destruiu a infraestrutura e as casas de meio milhão de pessoas que viviam lá antes da invasão lançada por Putin em 24 de fevereiro.
Agora a luta está limitada à extensa área industrial na costa. As forças russas e seus aliados separatistas em Donetsk prevaleceram e gradualmente apertaram seu terrível cerco.
A conquista de Mariupol seria uma vitória importante para as forças russas, pois permitiria consolidar sua posição no Mar de Azov, unindo Donbass e a península da Crimeia, que Moscou anexou em 2014.
Nesta sexta-feira, Moscou alertou a Finlândia e a Suécia que sua possível adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) teria “consequências” para esses países e para a segurança europeia. Helsinque e Estocolmo estão considerando ingressar na Aliança Atlântica após a ofensiva militar russa contra a Ucrânia.
A Finlândia “muito provavelmente” solicitará a adesão à Otan após a invasão da Ucrânia pela Rússia, disse o ministro das Relações Exteriores da Finlândia, Tytti Tuppurinen, nesta sexta-feira.