A Federação Internacional de Atletismo (IAAF) manteve a suspensão da Rússia das competições internacionais, nesta sexta-feira, em Viena, mas deixou em aberto a possibilidade de atletas do país disputarem os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro individualmente, desde que comprovem que não são dopados.

A federação russa já está suspensa desde novembro, pouco depois de um relatório da Agência Mundial Antidoping (Wada) denunciar um esquema generalizado de uso de substâncias proibidas, envolvendo os mais altos escalões do Estado.

Apesar da punição ter sido mantida, a porta não está totalmente fechada para estrelas como a lenda do salto com vara Yelena Insibayeva, que sonha em conquistar o tricampeonato olímpico no Rio.

“Se atletas podem, a título individual, provar de forma clara e convincente que não foram manchados pelo sistema russo porque estavam fora do país e foram sujeitos a regras antidoping mais severas, haverá a possibilidade de solicitar a permissão de disputar competições internacionais, não pela Rússia, mas como atletas neutros”, explicou o presidente da IAAF, Sebastian Coe.

Caberá ao Comitê Olímpico Internacional (COI), que se reunirá no dia 21 de junho, em Lausanne, estabelecer as condições da participação, que pode acontecer sob a bandeira olímpica, por exemplo, como a delegação de refugiados criada especialmente para os Jogos do Rio.

Mas Coe deixou claro que a decisão final será dele. “A IAAF decide quem pode competir ou não no Rio”, sentenciou.

Rune Andersen, presidente da Força Tarefa da IAAF que supervisiona os esforços da Rússia na luta contra o doping, deixou claro que “a abertura da porta é muito estreita”. “Pouco atletas poderão usar esse recurso”, avisou o norueguês.

A IAAF já informou que “qualquer atleta que contribuiu de forma importante à luta contra o doping deve ter direito de pedir a autorização de participar dos Jogos”.

Desta forma, o que abre a possibilidade para Yulia Stepanova, meia-fundista que denunciou o escândalo com suas revelações ao canal alemão ARD, de disputar a Olimpíada, uma espécie de ‘delação premiada’ que pode incentivar outros atletas a fazer o mesmo.

O próprio Coe, que foi bicampeão dos 1.500 m nos Jogos de Moscou-1980 e Los Angeles-1984, duas edições marcadas por boicotes de potências olímpicas (os americanos na primeira e o bloco soviético na segunda), sempre procurou apoiar os atletas limpos.

“Impedir de competir atletas que nunca foram pegos realmente o incomodaria”, revelou uma fonte próxima ao presidente da IAAF antes da oficialização da votação.

Cerca de 45 minutos antes do anúncio oficial da entidade, a informação de que o atletismo russo continuava suspenso foi vazada pelo próprio ministro dos Esportes do país, Vitali Mutko.

“O resultado da votação dos membros do Conselho da IAAF criou uma situação sem precedentes: a Rússia não poderá participar das competições de atletismo dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio”, disse Mutko em um comunicado.

O ministro se disse “muito decepcionado”, mas deixou claro que a decisão “era esperada” e que a Rússia iria “reagir”.

A reação imediata veio justamente com Isinbayeva, principal estrela do atletismo russo, que ameaçou entrar na justiça para reverter a decisão.

“É uma violação dos direitos humanos. Não posso ficar calada, vou tomar medidas. Pretendo procurar uma corte de direitos humanos”, afirmou a grande rival da brasileira Fabiana Murer à agência TASS, sem citar um tribunal específico.

Na quinta-feira, Mutko se dizia confiante, alegando que a Rússia “fez o que pôde” para convencer a IAAF de anular a suspensão.

“Foram apresentados cem critérios e acho que preenchemos todos”, tinha afirmado o ministro, em entrevista à agência Interfax.

A federação internacional, contudo, não parece estar muito convencida. Depois da reunião em que decidiu manter a decisão, nesta sexta-feira, avaliou em “18 a 24 meses” o tempo necessário para que o país entre em conformidade com as normais internacionais antidoping.

O Comitê Olímpico dos Estados Unidos, país que rivaliza com a Rússia pela hegemonia no esporte, apoiou oficialmente a decisão imposta pela IAAF.

“É uma mensagem de esperança para limpar o atletismo. Não é só para os atletas que se dopam, mas também para os países que não se comprometem seriamente a lutar contra o doping”, afirmou Scott Blackmun, chefe do comitê norte-americano.

Mais cedo, o presidente russo Vladimir Putin se pronunciou sobre o assunto durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo e afirmou que “não há e não pode haver nenhum apoio do Estado, principalmente no que diz respeito ao doping”.

“Não é possível haver responsabilidade coletiva para todos os atletas. Uma equipe inteira não pode assumir toda a responsabilidade por violações cometidas por apenas uma pessoa”, argumentou o chefe de Estado.

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