12/08/2025 - 14:43
Moscou avança 10 quilômetros em poucos dias durante ofensiva em Donetsk. Manobra é vista como pressão para ganhar vantagem em negociações e forçar Kiev a ceder território.Forças russas obtiveram um avanço repentino no leste da Ucrânia, rompendo a linha de frente e ganhando território sobre um importante corredor na região de Donetsk.
Os ataques rápidos acontecem dias antes do encontro previsto entre o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e seu homólogo americano, Donald Trump, que deve ocorrer na sexta-feira no Alasca.
O movimento é visto como uma tentativa de aumentar a pressão para ganhar vantagem em negociações e forçar Kiev a ceder território.
O mapa da guerra atualizado pela plataforma ucraniana DeepState mostrou nesta terça-feira (12/08) que as forças russas avançaram pelo menos 10 quilômetros ao norte em dois eixos nos últimos dias.
A manobra é uma das mais intensas do último ano de conflito. Segundo o DeepState, os russos avançaram sobre um trecho próximo às cidades ucranianas de Kostiantynivka e Pokrovsk.
O corredor ocupado, agora sob controle russo, também ameaça a cidade de Dobropillia, um centro minerador que está sendo abandonado por civis e que vem sofrendo ataques de drones russos.
Moscou tenta isolar ainda mais as últimas grandes áreas urbanas controladas pela Ucrânia como forma de conquistar Donetsk integralmente. A região é central no conflito desde setembro de 2022, quando a Rússia anunciou sua anexação.
“A situação está bastante caótica, pois o inimigo, tendo encontrado brechas na defesa, está se infiltrando mais fundo, tentando se consolidar rapidamente e acumular forças para prosseguir com o avanço”, disse o DeepState em seu canal no Telegram.
Ucrânia diz que situação é “dinâmica”
Em nota, o Exército ucraniano disse estar envolvido em batalhas pesadas contra as forças russas que tentam penetrar suas defesas. “A situação é difícil e dinâmica”, afirmou em comunicado.
O comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Syrskyi, afirmou que a Rússia está usando sua superioridade numérica para tentar infiltrar as linhas de defesa ucranianas em pequenos grupos. Segundo ele, foram 35 tentativas até o momento, que geraram perdas para o lado russo.
Viktor Trehubov, outro porta-voz militar ucraniano, minimizou o episódio, dizendo que a infiltração não representava uma ruptura significativa da linha de frente.
Trump defende troca de territórios para selar a paz
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, vem acusando Moscou de preparar terreno para novos ataques. “O Exército russo não está se preparando para acabar com a guerra. Pelo contrário, eles estão realizando movimentos que indicam preparativos para novas operações ofensivas”, disse ele nas redes sociais.
Veículos de mídia relatam que Putin teria dito ao presidente americano que um acordo só poderá sair do papel se a Ucrânia entregar toda a região de Donetsk à Rússia.
Na segunda-feira, Trump chegou a afirmar que seria necessário ceder territórios para selar a paz. Os dois se encontrarão no estado americano do Alasca, no que será a primeira cúpula presencial entre um líder americano e um russo no cargo desde 2021.
“Avanço é presente para Putin”
Sergei Markov, ex-assessor do Kremlin, disse que os russos conseguiram avançar devido a “um colapso parcial no front” causado pela falta de soldados ucranianos.
“Esse avanço é como um presente para Putin e Trump durante as negociações”, disse Markov, sugerindo que ele poderia aumentar a pressão sobre Kiev para ceder Donetsk sem que o território seja integralmente tomado à força.
Para isso, porém, as forças russas precisariam primeiro controlar Sloviansk, Kramatorsk, Druzhkivka e Kostiantynivka – que analistas militares russos chamam de “cidades fortaleza”. A ideia de transferir território à Rússia já foi repetidamente rechaçada por Zelenski.
Um ex-oficial do exército ucraniano, cujo projeto Frontelligence Insight acompanha o conflito, lembrou em publicação no X que a ofensiva rápida também foi a estratégia de Putin em 2014, quando a Rússia ampliou seus ataques antes de negociações que levaram à anexação da Crimeia. “A situação atual é séria, mas está longe do colapso que alguns sugerem”, disse.
gq/bl (Reuters, AFP, OTS)