A Rússia deu os primeiros sinais de uma retirada de suas tropas posicionadas na fronteira com a Ucrânia, despertando esperanças, apesar do fracasso das discussões entre Moscou e Washington em Paris.

O 15º batalhão de infantaria motorizado do distrito militar do centro terminou suas manobras na região de Kadamovski, perto da fronteira com a Ucrânia, e vai retornar para Samara, mais a leste, onde encontra-se a sua base, anunciou o ministro russo da Defesa.

Geralmente, um batalhão é formado por menos de mil homens, mas nenhum número concreto foi citado.

Este anúncio poderia confirmar as informações de militares ucranianos, que horas antes indicaram que as tropas russas se “retiravam progressivamente” da região.

A presença dos soldados era vista como um indício de uma possível invasão do leste do país, em grande parte de língua russa, após a perda da Crimeia, ao sul, para onde o primeiro-ministro russo Dmitri Medvdev viajou nesta segunda-feira.

Confirmando esta retirada, o governo alemão indicou que o presidente russo Vladimir Putin “informou a chanceler alemã Angela Merkel sobre a retirada parcial de tropas russas da fronteira com a Ucrânia”.

Durante um telefonema, os dois líderes “falaram de outras possíveis medidas para estabilizar a situação na Ucrânia e na Transnistria”, segundo um comunicado da chancelaria.

Uma das hipóteses levantadas por Kiev para esta retirada é da reunião, em caráter de urgência, entre os chefes da diplomacia russa Sergueï Lavrov e americana John Kerry no domingo em Paris.

Este encontro foi decidido sexta-feira à noite durante um telefonema entre Vladimir Putin e Barack Obama, que concordaram sobre a necessidade de negociações a fim de encontrar uma solução para a crise.

Após quatro horas de discussões, os dois homens constataram as posições divergentes sobre a crise ucraniana, mas aceitaram continuar a discutir o tema para chegar a um acerto diplomático.

O chefe da diplomacia russa prosseguiu com seus contatos diplomáticos nesta segunda-feira com seu colega francês Laurent Fabius, que segundo o Quai d’Orsay ressaltou “a urgência de uma solução diplomática”.

O ministro francês deve, no início da tarde, viajar para Berlim, onde encontrará seus colegas alemão, Frank-Walter Steinmeier, e polonês, Radoslaw Sikorski.

Neste intervalo, o Kremlin indicou que o presidente russo telefonou para Merkel para insistir sobre a necessidade de uma reforma constitucional na Ucrânia.

Putin “ressaltou a necessidade de uma reforma constitucional que garanta os interesses legítimos dos habitantes de todas as regiões da Ucrânia”, declarou o Kremlin, que insiste ideia de uma adoção por Kiev do federalismo para defender as regiões de língua russa no leste do país.

O vice-ministro russo das Relações Exteriores, Grigori Karassine, levantou a questão, considerando que a Rússia não reconheceria a legitimidade da eleição presidencial de 25 de maio na Ucrânia, se esta reforma não foi adotada.

No domingo em Paris, o americano John Kerry insistiu na necessidade de se consultar Kiev sobre qualquer decisão que diga respeito ao país, em referência à ideia apresentada por Moscou.

“Não aceitaremos um processo, no qual o governo legítimo da Ucrânia não se sente à mesa (de negociações). Não haverá decisões sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”, declarou Kerry à imprensa.

Medvedev na Crimeia

Em Kiev, o presidente interino Olexandre Turtchinov assegurou que o país continuará a se preparar para o pior.

Ele também rejeitou toda a ideia do federalismo. “MM. Lavrov, Putin e Medvedev podem propor o que quiserem para a Federação da Rússia e para resolver seus problemas, mas não os problemas da Ucrânia”, declarou.

Domingo, o ministério das Relações Exteriores da Ucrânia acusou Moscou de tentar desestabilizar e quer dividir ainda mais o país, que já perdeu a Crimeia.

A península do Mar Negro, que em menos de três semanas foi anexada à Federação da Rússia, recebeu a visita do primeiro-ministro Dmitry Medvedev nesta segunda-feira.

Primeiro líder do alto escalão a visitar este território após sua anexação, ele conduziu uma reunião dedicada ao desenvolvimento social e econômico desta península do sul da Ucrânia.

“Estou em Simferopol. Hoje o governo vai discutir o desenvolvimento da Crimeia”, escreveu Medvedev na rede social Twitter.

O favorito nas pesquisas de opinião à eleição presidencial ucraniana de 25 de maio, o bilionário Petro Porochenko, reconheceu que a Ucrânia tem poucas chances de recuperar a Crimeia em curto prazo.

Este ex-ministro de 48 anos, que apoiou o movimento de contestação contra Yanukovytch, é um dos 46 candidatos que apresentaram sua candidatura à Comissão Eleitoral.

O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, provocou polêmica nesta segunda-feira ao comparar a anexação da Crimeia à Rússia à anexação dos Sudetos por Adolf Hitler, segundo a imprensa, antes de negar.

O ministério das Finanças emitiu um comunicado para afirmar que Schäuble “rejeitou claramente a comparação da Rússia ao Terceiro Reich”.

dg-gmo/lpt/ros/mr