A Rússia lançou nesta segunda-feira (10) uma onda de bombardeios coordenados e mortais contra várias cidades ucranianas, incluindo a capital do país, Kiev, em represália a uma explosão que destruiu parcialmente a estratégica ponte da Crimeia.

Trata-se da maior campanha de ataques na Ucrânia em meses e deixou pelo menos dez mortos e 60 feridos. Coincide com uma reunião do Conselho de Segurança do presidente russo, Vladimir Putin, convocada após a explosão na ponte de Kerch.

O Exército ucraniano informou que as forças russas dispararam 75 mísseis contra cidades de todo país, em uma série de ataques que incluíram o uso de drones iranianos lançados de Belarus. O último bombardeio contra a capital ucraniana remonta ao final de junho.

“Ataques maciços com armas de alta precisão de longo alcance foram realizados contra a infraestrutura de energia, militar e de comunicações da Ucrânia”, declarou Putin no início do Conselho de Segurança, segundo imagens transmitidas pela televisão.

O chefe do Kremlin prometeu respostas “severas” em caso de novos ataques.

Já o número dois do Conselho de Segurança, o ex-presidente Dmitri Medvedev, assegurou que os bombardeiros eram “o primeiro episódio” e exigiu o “desmantelamento total” do poder político ucraniano.

Ao mesmo tempo, o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, aliado próximo de Putin, acusou a Ucrânia de preparar um ataque contra seu país e, por isso, anunciou o envio de tropas conjuntas com a Rússia.

– “Querem o pânico” –

Em um discurso à nação, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a manhã foi “difícil” e explicou que as forças russas tinham dois objetivos com seus bombardeios.

“Querem o pânico e o caos e querem destruir nosso sistema de energia”, afirmou o presidente, anunciando que as bombas russas atingiram cidades como Dnipro e Zaporizhzhia, no centro do país, e Lviv, no oeste.

“O segundo alvo são as pessoas”, denunciou, acusando o Exército russo de lançar os ataques com o objetivo de “causar o máximo de dano possível”.

“Estávamos dormindo quando ouvimos a primeira explosão. Acordamos, fomos ver o que estava acontecendo e então aconteceu a segunda explosão”, relatou à AFP Ksenia Ryazantseva, uma professora de idiomas de 39 anos.

“Não entendíamos o que estava acontecendo (…) bem, estamos em guerra”, acrescentou.

Zelensky afirmou que conversou com os líderes da Alemanha e da França e exortou-os a “aumentar a pressão” sobre a Rússia.

“Conversamos sobre o fortalecimento de nossa defesa aérea, da necessidade de uma forte reação europeia e internacional, bem como o aumento da pressão sobre a Federação Russa”, escreveu Zelensky no Twitter.

Os líderes do G7 vão discutir na terça a situação na Ucrânia, segundo Berlim.

A União Europeia considerou os ataques russos contra civis são “crimes de guerra”, cujos responsáveis “devem prestar contas”, de acordo com Peter Stano, porta-voz do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrel.

“Trata-se de uma nova escalada que é absolutamente inaceitável (…) esses ataques bárbaros mostram que a Rússia opta por uma tática de bombardeios cegos contra civis”, declarou Stano.

O Reino Unido chamou os ataques de “inaceitáveis”, e a França, que considerou um “crime de guerra”, prometeu aumentar a ajuda militar a Kiev.

Em Kiev, a polícia disse que pelo menos cinco pessoas foram mortas e uma dúzia de outras ficaram feridas.

As autoridades ucranianas apontaram que o bairro central de Shevkenko da capital foi atingido e uma universidade, museus e o prédio da filarmônica foram danificados.

Um jornalista da AFP que estava na cidade relatou que um dos projéteis caiu perto de um parquinho infantil e que fumaça saía de uma grande cratera.

Vídeos postados nas redes sociais mostravam colunas de fumaça preta sobre várias áreas da capital.

– Sem luz nem água –

Em grande parte poupada dos combates até o momento, Lviv também foi bombardeada. Parte da cidade ficou sem eletricidade e água quente, segundo o prefeito Andriy Sadovyi.

A Moldávia disse nesta segunda-feira que mísseis de cruzeiro russos lançados contra a Ucrânia entraram em seu espaço aéreo e convocou o representante de Moscou para explicações.

No domingo, Putin acusou os serviços secretos ucranianos de terem causado a poderosa explosão que no sábado destruiu parcialmente a ponte que liga a Rússia continental à península da Crimeia anexada em 2014, chamando o incidente de “ato terrorista”.

O tráfego de trens e carros foi interrompido por várias horas após o incidente, que deixou três mortos e foi atribuído a um caminhão-bomba.

A explosão na ponte, inaugurada por Putin em 2018 e símbolo da anexação da Crimeia, foi vista como mais um revés para a Rússia, que perdeu terreno na Ucrânia nas últimas semanas.

O Exército ucraniano e os serviços especiais de Kiev (SBU) não confirmaram nem negaram seu envolvimento na explosão, e Zelensky apenas ironizou em um vídeo que o tempo estava “nublado” na Crimeia no sábado, uma provável referência à fumaça do incêndio.