14/04/2022 - 13:38
A Rússia sofreu nesta quinta-feira (14) um duro revés em sua ofensiva contra a Ucrânia com o incêndio e a evacuação de seu navio cruzador Moskva, no Mar Negro, que Kiev garante ter atingido com mísseis, enquanto as tropas russas tentam tomar o porto estratégico de Mariupol.
“Devido a um incêndio, algumas munições explodiram a bordo” e a tripulação foi evacuada, disse o Ministério da Defesa da Rússia, citado pelas agências estatais Ria Novosti e Tass.
No entanto, o ministério garantiu depois que “o foco do incêndio foi contido. As explosões de munições cessaram”. E acrescentou que o barco “mantém sua flutuabilidade”.
Por outro lado, o armamento principal de mísseis não teria sido danificado, segundo a mesma fonte.
As autoridades ucranianas afirmaram que o Moskva foi atingido por “mísseis Neptune que protegem o Mar Negro”, o que provocou “danos importantes nesta embarcação russa”, segundo o governador de Odessa, Maxim Marchenko.
O Moskva começou suas operações na era soviética, em 1983, e participou da intervenção russa na Síria a partir de 2015.
O navio ganhou notoriedade no início da guerra na Ucrânia, ao se envolver no ataque contra a ilha das Serpentes, quando 19 marinheiros ucranianos foram capturados e trocados por prisioneiros russos.
– Ucrânia retoma evacuações –
Na região do Donbass, no leste da Ucrânia, as autoridades afirmaram que vão retomar as evacuações de civis, após suspensão ordenada por Kiev por considerá-las muito “perigosas”.
“Os corredores humanitários na região de Luhansk vão funcionar com a condição de que cessem os bombardeios das forças de ocupação”, assinalou a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk.
As autoridades ucranianas instaram a população da região a seguir para o oeste diante do temor de uma ofensiva russa em larga escala para controlar a área onde ficam as autoproclamadas “repúblicas” separatistas pró-Rússia de Donetsk e Luhansk, que são palco de enfrentamentos com as tropas de Kiev desde 2014.
Mais de 4,7 milhões de refugiados ucranianos fugiram do país nos 50 dias transcorridos desde o início da invasão, em 24 de fevereiro, segundo as cifras reveladas nesta quinta-feira pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).
Destes, 90% são mulheres e crianças, pois as autoridades ucranianas não permitem a saída de homens que estejam em idade de combate.
Além disso, a Organização Internacional de Migração (OIM) estima que cerca de 7,1 milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas no interior do país.
“Não há eletricidade nem água”, diz Maria em Severodonetsk, a cidade mais ao leste que ainda está sob o controle do exército ucraniano.
“Mas prefiro ficar aqui, na minha casa. Se saímos, para onde iremos?”, questiona esta mulher, que decidiu permanecer na cidade deserta, junto com seu esposo, seu filho de seis anos e sua sogra.
Ontem, o presidente americano, Joe Biden, prometeu, em Washington, uma nova entrega de ajuda militar avaliada em 800 milhões de dólares, após hesitar em enviar equipamento pesado pelo temor de um agravamento ainda maior das tensões com Moscou e de ser considerado parte no conflito.
O pacote inclui artilharia de última geração, como os canhões M777 Howitzer, 40.000 obuses, 300 drones “kamikaze”, 500 mísseis antitanque Javelin, radares antiartilharia e antiaéreos, 200 veículos blindados de transporte e 100 blindados leves, segundo a Casa Branca.
– Ameaça sobre Kiev –
O anúncio coincide com a ameaça feita por Moscou de atacar Kiev devido às “tentativas de sabotagem e bombardeios das forças ucranianas contra posições no território da Federação da Rússia”, como denunciou o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov.
Nesta quinta, as autoridades de Moscou acusaram Kiev de bombardear duas localidades russas próximas da fronteira com a Ucrânia.
“Membros das forças armadas ucranianas entraram ilegalmente no espaço aéreo da Rússia com dois helicópteros de combate com armamento pesado e realizaram seis bombardeios sobre imóveis na cidade de Klimovo” na região de Bryansk (na fronteira norte da Ucrânia), declarou o Comitê de Investigação da Rússia.
De acordo com Vyasheslav Gladkov, governador da região russa de Belgorod, o exército ucraniano bombardeou Klimovo e a localidade de Spodaryushino, que fica próxima a Kharkiv. O responsável afirmou que não houve vítimas nem destruições importantes, mas as autoridades evacuaram Spodaryushino por precaução, e também outro vilarejo próximo.
Contudo, não foi possível verificar essas acusações de forma independente.
Por outro lado, as autoridades locais anunciaram que a região do porto comercial de Mariupol foi tomada pelos russos.
A conquista de Mariupol seria uma vitória importante, já que permitiria a Moscou consolidar sua posição no Mar de Azov, unindo o Donbass com a península da Crimeia, que foi anexada em 2014.
Muitos especialistas consideram agora que a queda da cidade é inevitável, mas os militares ucranianos não se renderam e os combates se concentram no vasto complexo metalúrgico de Azovstal.
– Repercussões econômicas mundiais –
Os analistas acreditam que o presidente russo, Vladimir Putin, quer assegurar uma vitória no leste antes do desfile militar de 9 de maio na Praça Vermelha, em Moscou, que comemora a vitória soviética sobre os nazistas em 1945.
Por outro lado, a guerra está trazendo consequências no âmbito econômico em todo o mundo.
Na Rússia, Putin pediu, em uma reunião de governo, para reorientar as exportações de energia para a Ásia, e acusou a Europa de “desestabilizar o mercado” ao querer prescindir dos hidrocarbonetos russos.
“Partimos do princípio de que, no futuro, as entregas para o oeste vão diminuir”, após a imposição de sanções internacionais, disse o chefe de Estado russo. Portanto, é preciso “reorientar nossas exportações para os mercados do sul e do leste, que crescem rapidamente”, acrescentou.
A nível global, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu suas previsões de crescimento mundial para 2022 e 2023, mas, ainda assim, prevê um aumento do PIB na maioria dos países.
Já na zona do euro, a guerra tem repercussões “severas”, segundo Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), devido ao aumento dos preços da energia, às perturbações na cadeia de suprimentos e à queda da confiança que afeta as perspectivas.
Além disso, a pressão inflacionária aumenta o risco de distúrbios sociais e humanitários nos países mais pobres do Oriente Médio e do Norte da África, segundo um relatório do Banco Mundial publicado nesta quinta.