17/03/2014 - 12:40
A economia russa tem sofrido as consequências da crise ucraniana e corre o risco de entrar em recessão, independentemente das sanções ocidentais, acreditam os analistas. A economia russa já vinha registrando uma desaceleração antes da escalada da tensão com Kiev devido ao apoio dado por Moscou às autoridades separatistas da região da Crimeia, que decidiu por meio de um referendo realizado no domingo se separar da Ucrânia e se unir à Federação da Rússia. Este tem sido o confronto diplomático mais delicado entre Moscou e os países ocidentais desde a Guerra Fria, com a diferença de que atualmente os interesses das duas partes estão mais interconectados do que antes do fim da União Soviética. As sanções anunciadas nesta segunda-feira por Bruxelas e Washington, dirigidas apenas a personalidades, e não a empresas, foram consideradas modestas por Moscou, onde a Bolsa fechou com uma forte recuperação. Mas os ocidentais garantiram estar dispostos a ir além e os economistas temem um impacto difícil de ser absorvido pela economia russa. “Uma recessão é difícil de ser evitada”, acreditam os analistas da rede pública VTB Capital, que prevem uma contração da economia no segundo e terceiro trimestre e um crescimento nulo do Produto Interno Bruto (PIB) russo em 2014. “Vários sinais apontam que a economia foi atingida pelo efeito da incerteza ambiente (…) As empresas têm diminuído seus investimentos e os consumidores seus gastos”, explicam. O rublo caiu mais de 12% em comparação com o euro desde o início do ano, provocando um risco de espiral inflacionária e de uma queda no consumo. A cotação da moeda é seguida de perto por uma população habituada às dramáticas desvalorizações desde o fim da URSS. E as empresas e investidores se mostram prudentes, à espera de informações concretas sobre a situação. – Projetos conjuntos paralisados – Para Neil Shearing, do escritório Capital Economics, as sanções ocidentais anunciadas até o momento – dirigidas a líderes russos e ucranianos – devem ter “repercussões limitadas”. “Mas o efeito indireto, como uma antecipação de novas sanções mais duras, poderia causar maiores danos”, aponta. O ex-ministro russo das Finanças Alexei Kudrin, muito respeitado nos círculos de empresários internacionais, advertiu na semana passada que este movimento já começou. “Os créditos contraídos por nossas empresas no exterior chegam a 700 bilhões de dólares atualmente. Mas isso começa a se reduzir porque muitas linhas de crédito foram canceladas, alguns projetos conjuntos foram paralisados e isso inclui os que já haviam começado”, explica. Contudo, os economistas apontam a falta de investimento como o principal motivo do freio do crescimento na Rússia (1,3% em 2013, contra 3,4% em 2012 e 4,3% em 2011). O país se beneficiou no início dos anos 2000 de uma recuperação da capacidade de produção e do aumento dos preços dos combustíveis, mas as próprias autoridades russas admitem que o modelo se esgotou. Petróleo, automóvel, trens, defesa, agronegócio, obras públicas: em quase todos os setores, as grandes empresas russas se associaram a multinacionais ocidentais para modernizar-se, apesar da tentativa de Moscou de reequilibrar sua economia em direção à Ásia. Moscou tentou, de fato, aumentar sua atratividade para os investidores estrangeiros, com grandes eventos internacionais, como a cúpula do G20 de países industrializados e potências emergentes em São Petersburgo no ano passado e, especialmente, os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, neste mês. Estes esforços têm tido poucos resultados devido à crise atual, e a Rússia parece resignada a enfrentar tempos difíceis. O economista Michael Hewson, da CMC Markets, aponta para a “repatriação de ativos em larga escala por bancos e empresas” para preparar eventuais sanções. A queda recente do valor da dívida pública americana em mãos de entidades estrangeiras foi causada, de acordo com analistas, pelo repatriamento pelo banco central da Rússia de parte de seus ativos, para proteger suas reservas cambiais procedentes da venda de hidrocarbonetos. “Entramos em um jogo que não é apenas político, mas também econômico. Isso mostra que a Rússia está preparada para sanções mais duras, seguindo o script do Irã”, com o congelamento de bens e o embargo comercial, comentou o jornal Vadomosti. E se a Rússia quiser responder com a negação de vistos ou outras sanções contra personalidades europeias ou americanas, o efeito seria limitado. Mas poderia “travar as atividades de empresas ocidentais na Rússia”, alerta o EurosiaGroup gmo/uh/fw/at/js/mr