18/02/2022 - 19:55
Após semanas de tensão, a Rússia anunciou na última terça-feira (15) que iniciaria a retirada de parte das tropas militares próximas à fronteira com a Ucrânia, mas os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) seguem afirmando que a sinalização pacífica do Kremlin russo é teatro para planejar os próximos passos.
Nesta quinta-feira (17), o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Vladimir Putin estava buscando pretextos para invadir a Ucrânia e iniciar uma guerra que pode contar com o envolvimento de diversos países e se arrastar por anos.
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Neste momento, o que sustenta a tese de Washington é que o governo russo pode mentir sobre mortes ou realizar ataques químicos com o objetivo de culpar o país vizinho, ex-domínio da então União Soviética durante o período da Guerra Fria, e promover uma invasão.
Ainda ontem (17) aconteceu um bombardeio na região de Donbas, leste da Ucrânia, região em que rebeldes apoiados pela Rússia lutam contra o governo local desde 2014 (entenda mais abaixo). Nenhum dos dois lados apresentou informações claras sobre quem fez o ataque, porém o que se sabe é que uma escola infantil teria sido atingida, segundo a BBC.
Tanto a Otan, quando o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, viram no bombardeio uma encenação do exército russo para justificar uma possível invasão.
Porque uma guerra entre Rússia e Ucrânia?
Dois dos maiores países da Europa em tamanho, Ucrânia e Rússia também comandam dois dos maiores exércitos do mundo. Neste momento, o que irrita Putin e seus comandados é uma possível aliança militar entre Kiev e a Otan.
A aproximação entre a organização intergovernamental e os ucranianos podem colocar o Ocidente em espaço estratégico no leste europeu, facilitando, além de acesso a recursos naturais, bases militares para possíveis conflitos no futuro.
A crise que ganhou novos contornos nessas últimas semanas teve início em novembro, quando Putin deslocou mais de 100 mil soldados para a fronteira com a Ucrânia. Ele nega, no entanto, que a movimentação vise um ataque, o que é questionado por todos os países que não estão aliados à Moscou.
Conflito que se arrasta desde 2014
Entre o final de 2013 e o início de 2014, o governo de Viktor Yanukovych (próximo de Putin) foi deposto por um movimento popular que confrontava a permissividade da administração frente aos interesses russos e ao entrave a uma aproximação com a União Europeia – aliança que a Rússia não aceita. O conflito gerado pelos “Euromaidan” levou Putin a anexar a região da Crimeia (espaço com saída para o mar e bem abaixo da Ucrânia), em março daquele ano, por temores de que a União Europeia e a Otan pudessem ganhar espaço na política ucraniana.
A movimentação gerou uma guerra civil na região de Donbass, centro da confusão que colocou o mundo em compasso de espera – a região é o mesmo local onde aconteceu o bombardeio desta quinta-feira (17) .
Em oito anos de conflito, mais de 14 mil pessoas morreram, porém em 2015 um acordo entre os dois países, mediados pela França e Alemanha, fez com que o embate diminuísse. Assinado há 7 anos, os acordos de Minsk estão travados pois a Rússia não quer reconhecer a independência das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk – o que garantiria à Ucrânia o controle dessas terras.
A movimentação é vista pela geopolítica como uma forma de Putin seguir impondo suas próprias regras e evitar uma expansão de Kiev sobre as fronteiras com o país.
Conflito econômico
No meio de todos esses problemas, a discussão econômica é outro fator importante que explica o temor das grandes potências: além do poderio militar russo (que controla armas químicas e nucleareas), os países temem uma retaliação mais firme contra a Rússia exatamente porque os russos são um dos maiores exportadores de petróleo e gás no mundo. Cerca de 40% do gás consumido na Europa é retirado diretamente do solo russo.
Isso sem contar que a Rússia também é importadora de diversos produtos no mercado internacional. O Brasil, por exemplo, vende muita commoditie e fertilizantes para o país de Vladimir Putin.
Nesta sexta-feira (18), Putin disse que o país precisa trabalhar para aumentar sua soberania econômica e que o Ocidente sempre encontrará um pretexto para impor sanções a Moscou.