Passar por altos e baixos é uma condição prosaica para qualquer empresa centenária. Com a francesa Monin, fabricante de soluções aromáticas fundada em 1912, obviamente não foi diferente. Uma das fases mais agudas ocorreu no início dos anos 1990. A companhia familiar estava com a segunda geração dos Monin em seu comando e a fase era de crise, tanto financeira quanto existencial. Havia duas possibilidades: vender a companhia ou alguém da terceira geração assumir e tocar o negócio. Foi neste momento que Olivier Monin entrou em cena. Neto do fundador George, ele trabalhava no banco Crédit Agricole, em Chicago, nos Estados Unidos. Deixou o setor financeiro para encarar o desafio de remodelar a marca e expandi-la pelo mundo. Mantendo muitas tradições, é preciso ressaltar, como o icônico e inconfundível formato da garrafa.

Inspirado pelos cafés e bebidas de diferentes ingredientes e sabores do Starbucks ao qual estava acostumado em solo americano, Olivier observou que poderia desenvolver a Monin no mercado de mixologia de bebidas alcóolicas e não-alcóolicas.

Em 1996, após três anos na presidência da empresa, montou uma fábrica nos Estados Unidos, a primeira fora da França. Foi o grande passo para recuperar a companhia, que hoje tem naquele país sua maior operação.

Hoje, aos 111 anos, com três décadas na nova fase, o Brasil é o foco central dos investimentos. A receita por aqui é abrir uma fábrica, que está em construção na cidade de Itu, interior de São Paulo, a primeira da América Latina e a oitava da organização no mundo.

E lançar projetos e produtos. “O Brasil é um mercado importante para qualquer companhia, de qualquer setor. Não tínhamos aqui uma grande atuação e precisávamos desse avanço. Estamos com um plano em curso”, afirma Alexandre Boyer, CEO da Monin Brasil.

 Alexandre Boyer, CEO da Monin Brasil: “Não tínhamos aqui uma grande atuação e precisávamos desse avanço. Estamos com um plano em curso.” (Crédito:Moacir Drska)

A Monin demorou para chegar ao Brasil. Até 2016 os xaropes entravam no mercado brasileiro apenas por alguns importadores. Pouco para um País com grande potencial de consumo a partir de seus 210 milhões de habitantes. Para avançar em solo tupiniquim, Boyer foi convocado por Olivier para mapear as possibilidades brasileiras, que eram gigantescas.

Não houve dúvida: era preciso ter uma operação própria por aqui, com distribuidores regionais mais audaciosos e parceiros estratégicos.

Se nos Estados Unidos o Starbucks foi a inspiração, no Brasil um dos principais apoios operacionais foi a rede de restaurantes Madero. “Colamos neles e começamos nosso trabalho de formiguinha para achar distribuidores no Brasil inteiro”, disse Boyer.

Hoje o Brasil é o quinto maior na operação global da Monin, que tem seus produtos em 155 países. A projeção é fechar 2023 com receita nacional de R$ 200 milhões, diante de um faturamento de 500 milhões de euros mundialmente. “Temos condições de dobrar o faturamento em cinco anos.”

O aquecido mercado de bebidas, principalmente drinques, ajuda a explicar o bom momento da Monin no Brasil. Segundo dados da Euromonitor, o consumo no mercado brasileiro de gim, por exemplo, que é uma das bases para muitos mixes que levam xarope Monin em sua composição, saltou de 1,1 milhão de litros em 2016 para 13,1 milhões de litros em 2021.

A expectativa é de que o volume possa triplicar para 35,1 milhões de litros até 2026. Além disso, a Pesquisa Industrial Mensal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que nos últimos 12 meses a produção de bebidas em geral no País aumentou 0,4%.

Parece não ser muito, mas a base de comparação é alta, diante do boom vivenciado de 2020 a 2022, causado inicialmente pelo avanço do consumo domiciliar quando os bares e restaurantes fecharam por meses durante a pandemia e, depois, pela volta frenética dos consumidores aos estabelecimentos com a reabertura.

Para os comerciantes, um prato cheio, ops… um copo cheio. Estimativas do mercado apontam que a rentabilidade das bebidas é altamente atrativa. A conta é simples: vender um drinque gera uma lucratividade equivalente a de quatro cervejas para o dono do bar. Além disso, o impacto ao consumidor é muito maior. “Quanto mais autoral a bebida, maior a margem”, disse o executivo.

Monin constrói fábrica em Itu, interior de São Paulo. Com investimento de R$ 350 milhões, é a primeira planta da empresa na América Latina

A Monin também potencializa esse mercado ao realizar apresentações da marca, treinamentos para a equipe, rodadas de bate-papo, degustações e harmonizações para parceiros, bartenders, mixologistas, chefs e baristas na Maison Monin, a sede da empresa na Vila Madalena, bairro boêmio da capital paulista.

No térreo e primeiro andar da estilosa casa da localidade funcionam os setores administrativos da companhia. No terraço, uma espécie de lounge equipado com um bar modernos, é onde acontece “a educação”, como costuma dizer Boyer. “Para nós essa capacitação é primordial, pois nosso negócio não cresce sem o conhecimento e o interesse pela categoria”, afirmou o CEO.

Fábrica

A Monin anunciou a construção de sua fábrica no Brasil em maio. O investimento na estrutura que está sendo erguida em Itu é de R$ 350 milhões. A unidade está prevista para iniciar as operações no terceiro trimestre de 2024 e promete gerar mais de 200 empregos diretos e cerca de 300 indiretos na primeira etapa da operação industrial.

O potencial de produção é de 10 milhões de garrafas por ano — cerca de 500 SKUs, com 80 sabores. “Também vamos ser o hub de distribuição para os países da América Latina”, disse Boyer.

A iniciativa conta com apoio da InvestSP, a agência de promoção de investimentos do governo de São Paulo, que assessorou a empresa em questões ambientais e de infraestrutura. A cidade do interior paulista foi escolhida pela localização, com muitos acessos rodoviários, proximidade com a capital (cerca de 100 quilômetros), recursos naturais e fornecedores de matérias-primas.

Além da fábrica, a Monin apresentou recentemente sua linha Expérience, de xaropes dedicados ao consumidor final, por meio da entrada da marca no varejo — até então o modelo era apenas B2B.

São quatro vertentes:
* Cocktail,
* Floral,
* Confisserie,
* Barista.

A intenção é oferecer uma experiência aos consumidores em suas casas e permitir inovações desde o café da manhã até ocasiões especiais, seja para coquetéis ou receitas culinárias. “Com esse lançamento entramos no mercado B2C. O País tem mercado gigante para consumo”, disse o CEO. São com essas estratégias que a Monin acerta sua receita no Brasil e brinda os resultados. Santé!