22/03/2006 - 7:00
Um detalhe chama a atenção de quem chega à sede da varejista de eletroeletrônicos Fast Shop, em São Paulo. Há muita gente de olhos puxados trabalhando lá ? tanta gente que um funcionário galhofeiro arrisca uma piada: ?Deviam estabelecer uma política de cotas para contratar não descendentes de japoneses também?. De certo modo, esse elevado índice populacional nipônico resume o estilo de fazer negócio da rede. A Fast Shop carrega em seu cotidiano características bem japonesas: discrição, objetividade, paciência, paixão por traquitanas tecnológicas e uma delicada intransigência. A receita resulta numa empresa que decidiu andar na contramão do setor. Em vez de carnê para o povão, foco na clientela abastada que paga à vista. No lugar das lojas sem graça que mais parecem um supermercado, pontos de venda bem iluminados, coloridos, aconchegantes e chiques. Conheça a sabedoria oriental da Fast Shop.
Sem padrão: As lojas se adequam ao perfil do cliente
A DISCRIÇÃO
?Não divulgamos faturamento e nem os nomes de nossos controladores?, avisou o diretor de vendas Edson Shimada. Ok. A Fast Shop pertence ao casal Kakumoto, que toca o negócio com ajuda de dois filhos. A empresa nasceu em 1986, como concessionária de motos Yamaha (daí o nome Fast Shop). Era a época de ouro dos consórcios, e a Fast entregava em todo o Brasil. Ao oferecer sua estrutura de transporte a fabricantes de eletrônicos, ela conseguiu mudar de ramo antes que o Banco Central enterrasse os consórcios no meio dos anos 90.
A OBJETIVIDADE
Embora tivesse fôlego financeiro para muito mais, a Fast Shop decidiu abrir apenas quatro lojas em 2006. Shimada explica: ?Chegamos a um ponto em que nossa infra-estrutura não nos dá retaguarda para crescer. Por isso resolvemos parar e arrumar a casa este ano. Teremos um novo depósito e estamos trocando todo o nosso sistema tecnológico?, conta Shimada.
A PACIÊNCIA
Os executivos da empresa, incluindo o dono-presidente, chegam a ficar quatro, cinco horas reunidos para discutir uma única reclamação de um cliente. E cada vendedor que é contratado passa um mês em treinamento antes de ir para balcão. Ele aprende cada comando dos aparelhos que vai vender. A velha máxima de ?foco no cliente? é tratada com requintes de ciência. ?Vendemos para as classes A e B, um público muito exigente?, diz Shimada. ?Não pega bem se o cliente souber mais sobre o produto do que o vendedor.?
A INOVAÇÃO
Ao contrário de outras redes, de qualquer setor, a Fast Shop não tem um modelo fixo de loja. Cada ponto de venda é montado de acordo com o perfil dos visitantes do shopping onde ele será instalado. Assim, há lojas femininas (Villa-Lobos), jovens (Eldorado) e sóbrias (Higienópolis). Mas é no quesito pós-venda que o lado inovador da empresa mais aparece. Ela tem um time de 60 instaladores que dão um show na casa do cliente: entram de pantufas, estendem um tapete, escaneiam as paredes antes de furá-las e até aspiram o pó depois de terminar o serviço. A rede promete para o segundo semestre um novo website que vai vender de música até videoclipes.
A PAIXÃO POR TECNOLOGIA
Com a palavra, Renato Junqueira, gerente nacional de vendas da Sony: ?Quando vamos apresentar um novo produto, a maioria dos varejistas quer saber: o que ele tem de diferente em relação ao modelo anterior, qual o preço e como podemos dividir o custo da publicidade. Na Fast, eles perguntam: qual a melhor maneira de expor esse produto e como ele se conecta com outros equipamentos. É por isso que, em termos de vendas, com apenas 26 pontos de venda eles têm o mesmo peso para a Sony do que uma empresa de 300 lojas?.
A DELICADA INTRANSIGÊNCIA
Cena cada vez mais comum: um executivo da Fast Shop telefona para um fornecedor e inquiri: ?Quando é que você vai trazer aquele laptop que acaba de ser lançado nos EUA? Meu cliente já está pedindo. Estamos perdendo dinheiro?. E é assim que loja consegue fazer lançamentos exclusivos e até participar da estratégia da indústria, muitas vezes dando pitaco no que deve ou não ser importado e até no design de produtos.
12% é o crescimento anual da rede. O mercado de eletrônicos tem avançado de 4% a 5% ao ano
26 lojas espalhadas por São Paulo, Ribeirão Preto, Campinas, Curitiba e Belo Horizonte