Com 8 mil quilômetros de litoral, grande parte dele com praias instagramáveis [importantíssimo hoje], o Brasil tem um grande potencial para exploração turística. E o Hyatt Inclusive Collection (HIC), obviamente, sabe disso.

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O braço do grupo Hyatt dedicado a resorts “all inclusive” e de alto padrão está à procura no país de parcerias para fincar bandeira em algum trecho de nossas areias brancas. Mais especificamente as areias nordestinas, perfeitas para atrair tanto turistas regionais – principalmente brasileiros e argentinos – como os dólares dos norte-americanos, apesar do desafio logístico, contou o vice-presidente (VP) de desenvolvimento do HIC, Cristóbal Enríquez, com exclusividade ao IstoÉ Dinheiro.

Em meio a drinks tropicais e pratos requintados servidos em um dos restaurantes do hotel mais instagramável do mundo – segundo a Luxury Advisor Travels, o executivo diz que “sabem que devem estar no Nordeste do Brasil”. Por isso, no momento, buscam parceiros e investidores para um – ou mais – projeto de resort all inclusive na região.

A linha HIC ainda não tem nenhuma de suas 10 marcas de resorts em operação no país. A marca Hyatt tem quatro hotéis aqui. Duas da bandeira Grand Hyatt – São Paulo e Rio de Janeiro – e duas da bandeira Hyatt Place – São José do Rio Preto (SP) e Macaé (SP), todos com perfil executivo.

O grupo diz que está aberto a investidores estrangeiros ou brasileiros, e trabalha com diferentes possibilidades de empreendimentos, afirma Enríquez. Pode ser tanto via “desenvolvimento total”, como dizem, quando erguem uma operação do zero, como por meio de uma reconversão, ou seja, quando já existe ou existiu uma operação de hotelaria e a marca assume, faz suas reformas e coloca seu selo de operação. Dos 122 hotéis em operação do HIC, 84 são reconversões.

O HIC lançou apostou alto recentemente em três operações em Cancún, tradicional destino turístico no nordeste do México, beneficiado com as águas azul-turquesa do mar do Caribe.

Inauguradas entre novembro de 2023 e abril deste ano, as operações somam mais de 1 mil quartos, bares, piscinas, spas, restaurantes e adegas em modelo “all inclusive” (mas com alguns serviços extras cobrados a parte). Todos têm foco principal no público norte-americano, especialmente os turistas dos Estados Unidos, e são exclusivos para hóspedes adultos, a partir de 18 anos.

Dois desses resorts estão na categoria luxo, sendo um deles um hotel boutique, o Impressions by Secrets, com 125 quartos maiores que muitas moradias, na Isla Mujeres, a parte mais exclusiva de Cancún, onde Enríquez conversou com IstoÉ Dinheiro.

Cristobal Enriquez, VP de Desenvolvimento do Hyatt Inclusive Collection (Crédito:Divulgação)

Leia a entrevista completa:

IstoÉ Dinheiro: Cancún é um destino com turismo já bastante consolidado, com uma grande oferta hoteleira – calcula-se que entre 1.500 e 2 mil hotéis na cidade. O Hyatt Inclusive Collection acaba de investir em três grandes operações na região, sendo duas delas na categoria luxo. Com qual projeção de incremento do turismo na região que o grupo trabalha para fazer esse grande investimento?

Cristóbal Enríquez: Na última década, Cancún passou de cerca de 30 mil quartos para 120 mil. Não são números exatos, mas algo por aí. Um crescimento de 8% a 10% ao ano, e deve seguir nessa tendência. Realmente Cancún é muito turística e com muito hotéis, mas ainda há também muita disponibilidade de terrenos, principalmente em direção ao sul ainda tem muitas possibilidades de desenvolvimento. E também ainda há espaço na parte norte – onde estão os dois projetos de luxo do grupo.

E entre essas possibilidades, quanto calculam o potencial para categoria luxo?

Em geral, 60% dos visitantes buscam um turismo de luxo. É um grande potencial.

O HIC enxerga potencial semelhante para esse tipo de investimento no Brasil?

Dentro do turismo no Brasil há diferentes tipos de mercado, e um volume potencial para cada um deles. O país já conta marcas internacionais importantes, projetos em praias, como Sauípe, mas vejo que o país ainda está muito dependente do mercado doméstico. Acredito que o público da América do Norte que chega ao Brasil não representa nem 10% do turismo no país.

E qual seria o principal desafio para atrair mais turistas norte-americanos para o Brasil?

A questão é que o Brasil – e a região da América do Sul em geral – tem um problema de conexão com a América do Norte, isso cria uma dificuldade. Entre a América do Norte e Cancún, por exemplo, são voos mais curtos, três horas, no máximo, seis horas. Claro que tem aqueles turistas mais aventureiros, que não se importam em viajar longas distâncias e com muitas escalas. Mas a maioria vai priorizar um destino mais fácil ou prático para chegar.

Ainda que se tenha esse desafio logístico entre as regiões, o grupo tem planos de fazer investimentos nesse perfil all inclusive de luxo (ou não) no Brasil?

Sabemos que devemos estar no Nordeste do Brasil, que é onde pensamos que o modelo all inclusive seja atrativo e que seja o melhor destino de praias no país. No momento, estamos em busca de parceiros locais para um investimento. Ainda não sabemos exatamente onde, mas na região Nordeste, com certeza. Estamos em contato com agências parceiras no Brasil, como a CVC, para esse apoio sobre o mercado interno tanto de turismo como de possibilidades de parceiros e fornecedores.

Estamos avaliando uns cinco ou seis destinos, como Maceió (AL) e Trancoso (BA), que sabemos que são praias com oportunidades de desenvolvimento.

Esse projeto no Brasil seria no modelo desenvolvimento total ou poderia ser uma conversão de um já existente? E para quando projetam?

Isso leva um tempo para se alinhar com investidores, mas o ideal é que tenhamos em menos de cinco anos. Mas dependemos de muitos alinhamentos. A ideia seria fazer em parceria com investidores brasileiros, ou uma combinação entre brasileiros e estrangeiros. E sobre o modelo, não temos essa definição, nos interessamos pelas duas formas, seja um desenvolvimento de uma operação total, do zero, ou uma reconversão, com uma marca já conhecida, que já tenha sua atratividade. Buscamos possibilidades em ambos os modelos. Temos falado também com hotéis independentes (sem marca conhecida) para ver se existe um interesse e também podermos desenvolver uma operação grande. Pode até mesmo ser mais de um projeto ao mesmo tempo.

O sr. disse que está há 20 anos no grupo Hyatt. Como avalia as mudanças no turismo de luxo nesse tempo? Te parece que se está caminhando para cada vez mais luxuoso?

Sim, as coisas se desenvolveram dessa forma. E como em qualquer produto, para conseguir mercado, clientes, tem que inovar. E parte da inovação é criar novos produtos, e, neste caso, mais luxuosos. Então é uma concorrência forte neste nicho. E nós, como precursores do turismo de luxo, para nós é ainda mais trabalhoso para nos mantermos líderes. Já que nossas estratégias acabam sendo seguidas por outros. Então, vejo, em primeiro lugar, que devemos sempre estar inovando para nos mantermos como os primeiros.

Como o turismo de luxo foi afetado pela pandemia?

Tivemos uns meses críticos, como uns três a seis meses. Houve uma contração forte, até por conta as restrições de voos, também foi complicado para ter mão de obra. Foi um momento bem crítico. Mas já recuperamos ao mesmo nível de antes da pandemia, está bem positivo novamente.

*A jornalista viajou a convite do Hyatt Inclusive Collection